19 Dezembro 2025
O Papa nomeou D. Ronald A. Hicks, bispo de Joliet e natural de Chicago, como o 11º arcebispo de Nova York. Ele tomará posse na Catedral de São Patrício em 6 de fevereiro de 2026, segundo uma fonte informada à revista America.
A reportagem é de Gerard O'Connell, publicada por America, 18-12-2025.
Dom Ronald Hicks, de 58 anos, sucede o cardeal-arcebispo Dom Timothy M. Dolan, que serviu em Nova York desde fevereiro de 2009. O cardeal Dolan completou 75 anos em fevereiro passado — a idade oficial de aposentadoria, quando os bispos são obrigados a enviar sua carta de renúncia a Roma.
Ao nomear Hicks para este cargo de grande visibilidade, o Papa Leão XIV escolheu um homem que ele já conhecia; eles se encontraram em 2024, quando o então Cardeal Robert Prevost fez um discurso em uma paróquia da Diocese de Joliet, ao qual Hicks compareceu. Depois, como ele contou à WGN News após a eleição de Leão XIV, eles conversaram por cerca de 20 minutos sobre o Papa Francisco, a Igreja universal e o trabalho em sua diocese, e descobriram que tinham muito em comum. “Crescemos literalmente no mesmo raio de influência, no mesmo bairro”, disse Hicks. “Brincávamos nos mesmos parques, nadávamos nas mesmas piscinas, frequentávamos as mesmas pizzarias. É assim mesmo.”
Ambos descobriram sua vocação cedo na vida e trabalharam como missionários na América Latina. Mas estão em lados opostos quando se trata do time de beisebol para o qual torcem. “[O Papa Leão] é e sempre será torcedor do White Sox. E eu cresci torcendo para o Chicago Cubs”, disse Hicks à WGN.
Embora os cardeais geralmente tenham permissão para permanecer no cargo por mais tempo, Leão XIV, agora em seu sétimo mês como papa, aceitou a renúncia do Cardeal Dolan após menos de um ano. A transição ocorrerá no dia do 76º aniversário do cardeal.
Timothy Dolan foi nomeado o 10º arcebispo de Nova York pelo Papa Bento XVI e empossado na Catedral de São Patrício em 15 de abril de 2009. Bento XVI o nomeou cardeal em 2012. O Cardeal Dolan, um defensor ferrenho da educação católica, liderou a arquidiocese em uma série de fechamentos e fusões de escolas e paróquias em resposta à queda na frequência escolar e à diminuição do número de padres. Ele também supervisionou uma restauração de US$ 200 milhões da Catedral de São Patrício entre 2015 e 2016. O cardeal encomendou um mural de 7,6 metros de altura que celebra a história da imigração em Nova York — a maior obra de arte permanente nos 146 anos de história da catedral — que foi inaugurado em setembro deste ano.
Durante os 16 anos em que o cardeal foi arcebispo de Nova York, a arquidiocese, assim como muitas outras ao redor do mundo, esteve mergulhada no escândalo de abuso sexual clerical. No início deste mês, o Cardeal Dolan anunciou que a Arquidiocese de Nova York entraria em processo de mediação e tomaria medidas para arrecadar mais de 300 milhões de dólares para indenizações por abuso sexual. Fontes em Roma afirmam que o estabelecimento da estrutura para esses acordos, e seu anúncio, abriram caminho para a nomeação de um sucessor para o Cardeal Dolan.
Embora o Cardeal Dolan tenha recebido o Papa Francisco em Nova York e na Catedral de São Patrício em 2015, por vezes ele pareceu desconfortável com a liderança e a agenda do primeiro papa latino-americano, e não raro adotou posições que pareciam estar em desacordo com Francisco.
Quando questionado, antes do conclave que elegeu Leão XIV, sobre o que buscava no próximo papa, o cardeal nova-iorquino, conhecido por sua perspicácia política, respondeu: "Gostaria muito de ver alguém com o vigor, a convicção e a fortaleza de João Paulo II, alguém com a potência intelectual de um Papa Bento XVI e alguém com o coração de um Papa Francisco."
I wouldn’t call Bishop Hicks a progressive, but I can assure you he’s more progressive than Cardinal Dolan.
— Christopher Hale (@chrisjollyhale) December 16, 2025
Dolan got in hot water earlier this year for calling the late Charlie Kirk “a modern-day Saint Paul.” https://t.co/enZYjAAdAo
O que sabemos sobre o sucessor de Dolan?
Nascido em Harvey, Illinois, em 4 de agosto de 1967, o mais velho de dois filhos de pai católico e mãe luterana, D. Ronald Aldon Hicks cresceu em South Holland, um subúrbio de Chicago, onde frequentou a paróquia e a escola primária de São Judas Tadeu. Após se formar no Quigley High School (um seminário menor da Arquidiocese de Chicago, que já foi fechado) em 1985, onde começou a pensar no sacerdócio, ele foi estudar na Universidade Loyola de Chicago, onde se formou em filosofia em 1989 e com a convicção de que Deus o estava chamando para ser padre na Arquidiocese de Chicago.
Ele também sentiu a necessidade de aprender espanhol como sacerdote. Por recomendação do reitor de seu seminário, foi ao México para aprender o idioma enquanto trabalhava com a missão Nuestros Pequeños Hermanos, parte de um projeto maior que cuida de crianças órfãs e abandonadas na América Latina e no Caribe. Ver o amor incondicional naquele lar para crianças o impressionou profundamente e confirmou sua vocação.
Após retornar a Chicago, ele obteve o título de mestre em divindade em 1994 pela Universidade de St. Mary of the Lake e foi ordenado sacerdote no mesmo ano pelo Cardeal Joseph Bernardin. Trabalhou no ministério paroquial na arquidiocese pelos cinco anos seguintes. Em 1999, foi nomeado decano de formação no Seminário St. Joseph College em Chicago pelo Cardeal Francis George. Lá, obteve o título de doutor em ministério em 2003 pela Universidade de St. Mary of the Lake.
Ele se mudou para El Salvador em 2005, com a permissão do Cardeal George, para trabalhar por cinco anos como diretor regional da Nuestros Pequeños Hermanos, uma organização que oferece ambientes de vida seguros, educação, assistência médica e treinamento profissional e em habilidades para a vida a jovens em toda a América Latina.
“Aproveitei cada minuto. Foi uma experiência direta com os pobres, com crianças cujas vidas foram transformadas para melhor graças à colaboração com pessoas boas e ao cumprimento de uma missão sólida. Deixei uma parte do meu coração lá até hoje”, disse ele.
Archbishop-Designate Hicks: “I was really formed by the Latino Church and I have a great heart for the Latino community. This community is a vital part of the Church…I’m proud of the statement the USCCB recently put out about immigration and about the necessity to make sure that… pic.twitter.com/EK5w8hycFZ
— Rich Raho (@RichRaho) December 18, 2025
O cardeal George nomeou o padre Hicks como decano de formação no Seminário de Mundelein após o retorno deste a Chicago em 2010.
A vida do padre Hicks mudou drasticamente em 1º de janeiro de 2015, quando o novo arcebispo de Chicago, Blase Cupich, reconhecendo suas habilidades de liderança, o nomeou vigário-geral da arquidiocese. Ao se despedir dos seminaristas em Mundelein antes de assumir seu novo cargo, ele lhes disse o quanto “amava ser padre”, lembrou o reverendo Mark Berhard, sacerdote da Diocese de Joliet que na época era seminarista. “Eu sempre o vi como um homem que amava Jesus e desejava fazer discípulos”, acrescentou.
Em 3 de junho de 2018, o Papa Francisco o nomeou bispo auxiliar de Chicago, e o Cardeal Cupich o ordenou bispo na Catedral do Santo Nome em setembro do mesmo ano, mantendo-o também como vigário-geral.
Ele continuou a ocupar esse cargo até 17 de julho de 2020, quando o Papa Francisco o nomeou o sexto bispo de Joliet, uma diocese menor adjacente a Chicago. Ele foi empossado como bispo no final de setembro daquele ano, em meio à pandemia de Covid-19, com uma congregação bastante reduzida.
O lema em seu brasão episcopal está em espanhol: “Paz y Bien”, palavras atribuídas a São Francisco de Assis. Entre os símbolos desse brasão, há um coração vermelho no topo, que expressa seu amor pelo serviço missionário com as crianças da América Latina e com as pessoas das paróquias onde serviu.
Após a morte do Papa Francisco, o Bispo Hicks revelou que o papa argentino “me influenciou extraordinariamente ao longo do meu sacerdócio e na minha ordenação episcopal”. Ele disse que o encontrou três vezes e experimentou “o amor e a alegria que emanavam dele”.
Dom Ronald Hicks é considerado um bom ouvinte e pregador, muito pastoral e compassivo, com um carinho especial pelos pobres, disseram à revista Faith antigos paroquianos e padres que o conhecem.
“Uma das coisas que aprendi ao longo do caminho é procurar maneiras de dizer 'sim', dizer 'sim' ao Senhor”, disse Hicks após ser nomeado bispo de Joliet. “Uma das imagens que uso é a de que, se nos pedem para fazer algo por Deus ou pela Igreja, pode ser o Espírito Santo sussurrando em nossos ouvidos. Devemos tentar, se possível, encontrar maneiras de dizer sim em vez de 'não'. Então, eu disse 'sim'.”
Ele acrescentou: “Tenho o coração cheio de confiança e paz. Passei a acreditar que Deus tem um plano. As coisas não são coincidência. Existe amor providencial, e muitas vezes não nos damos conta disso. Aprendi a confiar na bondade e na providência de Deus para conosco.”
Além disso, Hicks acrescentou: “Eu amo Jesus. Como católico batizado, quero continuar a evangelizar e garantir que a fé cresça. Não apenas para um determinado segmento, mas para todos — para os jovens, para os idosos, para aqueles de nós que talvez estejamos no meio da vida. Jesus deve ser o centro de nossas vidas, e estou muito animado para buscar maneiras de trazer Cristo e Deus para o centro.”
At first press conference new Archbishop of New York Ronald Hicks said he grew up 14 blocks from Pope Leo, and that he told Cardinal Pierre when he called him with the question about the appointment: "I want to do the will of God," with "great humility" and " open heart."
— Paulina Guzik (@Guzik_Paulina) December 18, 2025
He… pic.twitter.com/9EpoeRSJGd
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