Setor do gás fóssil faz lobby para se beneficiar na MP dos data centers

Foto: İsmail Enes Ayhan/Unplash

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17 Dezembro 2025

Sempre que pode, o lobby do gás fóssil no Brasil age junto ao governo e ao Congresso Nacional para encaixar o combustível fóssil até mesmo onde ele não deveria estar. Foi assim na lei de privatização da Eletrobras e na regulamentação das eólicas offshore, e quase ocorreu o mesmo na recente minirreforma do setor elétrico (Medida Provisória nº 1.304/2025).

A reportagem é publicada por ClimaInfo, 16-12-2025.

Agora os lobistas pressionam para beneficiar o gás na MP nº 1.318/2025, que institui o Regime Especial de Tributação para Serviços de Datacenter no Brasil, o Redata – ou seja, com tarifas subsidiadas. Segundo a Folha, associações e frentes parlamentares do setor se articulam para incluir no texto contratos de suprimento de energia com geradores a gás.

A MP prevê que serão habilitadas ao Redata empresas que atenderem à totalidade da sua demanda de energia elétrica por meio de contratos de suprimento ou autoprodução proveniente de geração a partir de fontes “limpas” ou renováveis. Mas um manifesto coordenado pelo Movimento Brasil Competitivo e assinado por 19 entidades e frentes parlamentares, como a Federação das Indústrias do Estado do Rio de Janeiro (Firjan) e a FGV Energia, diz que os data centers são a espinha dorsal da economia digital e exigem disponibilidade energética entre 99,982% e 99,995% ao ano – menos de cinco minutos de falha permitidos em 12 meses. O que justificaria a inclusão do gás como fonte apta ao suprimento.

“Essa necessidade física de continuidade torna imprescindível o acesso a fontes firmes de energia, capazes de operar 24 horas por dia sem depender de variáveis climáticas”, diz o texto. Que acrescenta que a defesa do gás fóssil não exclui as fontes renováveis do processo. Tão bonzinhos…

Algumas emendas protocoladas na Câmara dos Deputados já propõem a inclusão do gás como fonte apta de energia dos data centers habilitados pelo Redata. Mas as empresas querem amplificar essa demanda juntando vozes de dentro e fora do setor.

Quando a MP foi lançada, em setembro, o Ministério do Desenvolvimento, Indústria, Comércio e Serviços (MDIC) disse à eixos que, em princípio, energia nuclear e de biogás, obtido de biomassa, se enquadram no critério de “fontes limpas ou renováveis”. E que o gás de origem fóssil não seria elegível. É isso que o lobby do setor quer mudar.

Se os lobistas forem bem-sucedidos, os data centers instalados no Brasil poderão se beneficiar de incentivos mesmo usando energia suja e mais cara oriunda de termelétricas movidas a gás fóssil. É mais um percalço dessas estruturas, que já vêm causando temores quanto ao abastecimento de água.

Como mostra a Agência Pública, quase um terço dos 195 data centers em instalação ou funcionamento do Brasil estão no estado de São Paulo, segundo dados da plataforma Data Center Map. A maior parte está em áreas de alta densidade populacional, integrantes ou próximas à região metropolitana da capital paulista.

Essa concentração tem preocupado especialistas e ambientalistas em razão do alto consumo de água das operações, diante das sucessivas crises hídricas enfrentadas na área. Neste ano, os reservatórios do Sistema Cantareira, responsável por abastecer cerca de 9 milhões de pessoas na Grande SP, chegaram ao nível mais baixo desde 2015, quando foi necessário usar energia termelétrica e implementar racionamentos.

IstoÉ Dinheiro, Canal Energia, Brasil Energia e Cenário Energia também repercutiram a mobilização para incluir o gás fóssil no Redata.

Em tempo

Os data centers operam com mais eficiência em climas mais frios. No entanto, essas estruturas têm sido instaladas em locais com temperaturas maiores, aumentando os custos elétricos e de água para seu resfriamento e também as emissões, mostra um mapeamento do projeto Rest of World. Segundo o projeto, a faixa de temperatura ideal para data centers é de 18°C a 27°C. Mas a crescente demanda por IA e o desejo de armazenar dados dentro das fronteiras de um país fazem com que 600 centros de dados ao redor do mundo estejam localizados em lugares considerados muito quentes. Em 21 nações, todos os centros de dados estão localizados em zonas que apresentam temperaturas médias acima de 27°C.

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