Quase 100 mil pessoas forçadas a se deslocar nas últimas semanas com a escalada da violência no Norte de Moçambique

Foto: Isadora Zoni/ACNUR

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05 Dezembro 2025

Esse é um resumo do que foi dito pelo representante do ACNUR em Moçambique, Xavier Créach – a quem as citações podem ser atribuídas –, durante a coletiva de imprensa no Palácio das Nações, em Genebra.

A informação é da assessoria de comunicação da Agência da ONU para Refugiados (ACNUR), 04-12-2025.

A Agência da ONU para Refugiados (ACNUR) manifesta profunda preocupação diante do agravamento dos ataques a vilarejos e da rápida expansão do conflito para distritos antes considerados seguros, o que tem forçado dezenas de milhares de pessoas a fugirem pelo norte de Moçambique – quase 100 mil apenas nas últimas duas semanas. À medida que as necessidades crescem em um ritmo sem precedentes, a capacidade das autoridades e das organizações humanitárias não acompanha o aumento da demanda, e os esforços coletivos continuam insuficientes para atender à escala da proteção e da assistência necessárias no território.

As pessoas que conseguiram escapar para áreas mais seguras relatam que foram obrigadas a fugir por medo de grupos armados que invadiram suas aldeias – muitas vezes à noite – incendiando casas, atacando a população e forçando famílias a fugir sem levar nada. Muitos descreveram fugas caóticas, com pais se separando de seus filhos e idosos ficando para trás em meio ao cenário de pânico instalado. Para muitos, esta é a segunda ou terceira vez que são deslocados neste ano, já que os ataques os forçam a seguir para outras regiões.

A violência, iniciada em Cabo Delgado em 2017, já deslocou mais de 1,3 milhão de pessoas. Mas 2025 marcou uma mudança ainda mais preocupante: os ataques agora ocorrem simultaneamente e se expandem além de Cabo Delgado, alcançando a província de Nampula e ameaçando comunidades que antes acolhiam famílias deslocadas.

Com a disseminação rápida da violência, civis quase não têm aviso prévio e chegam a abrigos improvisados, incluindo escolas e espaços abertos, na província de Nampula. Muitos fogem sem nenhuma documentação e sem acesso a serviços essenciais, caminhando por dias em meio ao medo extremo. A falta de rotas seguras e de apoio básico expõe famílias – especialmente mulheres e meninas – a riscos crescentes de exploração e abuso, justamente no momento em que a comunidade humanitária marca os 21 Dias de Ativismo pelo Fim da Violência de Gênero.

Apesar dos recursos escassos, as organizações que atuam para a proteção das populações deslocadas reforçaram suas estruturas de gestão e realizam encaminhamentos para garantir que mulheres e meninas afetadas possam relatar casos de forma confidencial e ter acesso mais seguro a assistência médica, psicossocial e jurídica.

Mesmo após chegarem a áreas mais seguras, os riscos de proteção permanecem agudos. O súbito aumento no número de pessoas deslocadas exerce forte pressão sobre comunidades anfitriãs já fragilizadas, que também enfrentam dificuldades. Escolas, igrejas e espaços públicos estão lotados de famílias recém-chegadas, muitas dormindo ao relento. A falta de iluminação e privacidade nesses abrigos coletivos expõe mulheres e meninas – que já enfrentaram jornadas perigosas – a novos riscos de violência sexual e de gênero, enquanto pessoas idosas e com deficiência enfrentam sérias dificuldades em locais sem acessibilidade ou estrutura adequada às suas necessidades.

Crianças chegam exaustas, traumatizadas e enfraquecidas após dias de caminhada, algumas desnutridas e com os pés inchados. Muitas estão desacompanhadas ou separadas de suas famílias, sozinhas em ambientes desconhecidos, enfrentando medo, incerteza e vulnerabilidade.

As equipes humanitárias em campo estão identificando as pessoas em maior risco, auxiliando na reunificação familiar e realizando ações de mobilização comunitária para compartilhar informações e fortalecer a segurança dos recém-chegados. Pontos de atendimento também foram criados para oferecer acolhimento psicossocial, apoio à saúde mental, distribuição de kits de higiene e de mobilidade para pessoas com deficiência, além de auxiliar famílias na substituição de documentações perdidas, em cooperação com as autoridades locais.

No entanto, a resposta humanitária está ficando sem recursos enquanto as necessidades crescem a cada dia, deixando milhares de famílias em situação de incerteza. Com o deslocamento aumentando rapidamente e restando poucos fundos de financiamento para o último mês do ano, serviços essenciais – incluindo proteção, abrigo, alimentação, água e saneamento – estão sob forte pressão.

Os atores humanitários que atuam neste contexto – ACNUR e outras agências da ONU, ONGs nacionais e internacionais, instituições governamentais, setor privado e as próprias comunidades por meio de redes locais de solidariedade – não conseguirão manter a resposta sem apoio e recursos adicionais.

Com a ampliação do conflito e o aumento do perigo para os civis, o ACNUR faz um apelo urgente por apoio internacional para proteger as pessoas forçadas a fugir, fortalecer as comunidades anfitriãs sobrecarregadas e evitar o agravamento da crise. Ao mesmo tempo, enfrentar as causas profundas do conflito continua sendo essencial para restaurar a estabilidade e romper o ciclo de violência e deslocamento no norte de Moçambique.

O ACNUR precisará de US$ 38,2 milhões em 2026 para atender às crescentes necessidades no norte de Moçambique. Esse pedido ocorre em um momento extremamente preocupante, com o financiamento de 2025 em apenas 50% dos US$ 42,7 milhões necessários. Apoio urgente é essencial para evitar o agravamento da crise.

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