Mais de 600 jovens empreendedores reuniram-se em Castel Gandolfo para “mudar profundamente a economia”

Foto: Wikimedia Commons

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04 Dezembro 2025

Foram mais de 600 os jovens empreendedores, empresários, economistas e académicos, oriundos de 66 países diferentes (entre os quais Portugal), e na sua maioria mulheres, que se reuniram no último fim de semana em Castel Gandolfo, nos arredores de Roma, com um objetivo comum: reinterpretar o sistema económico mundial à luz do Jubileu da Esperança, que a Igreja Católica tem estado a celebrar neste ano de 2025. Em comum, tinham também o facto de pertencerem ao movimento Economia de Francisco, lançado em 2019 pelo Papa com o mesmo nome, e que por estes dias provou continuar bem vivo.

A informação é de Clara Raimundo, publicada 7Margens, 03-12-2025.

Intitulado “Restarting the Economy” (Reiniciando a Economia), o encontro foi organizado pela fundação The Economy of Francesco, nascida em 2024 no seio do movimento, e contou também com a presença de teólogos, ativistas, artistas e formuladores de políticas públicas, em três dias de debates, partilha de boas práticas, workshops e sessões plenárias.

“De todas as partes do mundo, partilham-se projetos e iniciativas, implementados por indivíduos ou grupos, que vão desde a pobreza à Inteligência Artificial, da reflorestação à criação de poços de água”, explica Jean-Marc Santolin, vice-presidente da assembleia da Fundação, aos média do Vaticano.

Joshua Okorie, vindo da Nigéria, foi um dos participantes que deu a conhecer o seu projeto neste encontro. Com o objetivo de regenerar territórios desmatados, cria “ilhas de biodiversidade” monitorizadas através de Inteligência Artificial, drones e sensores. “Queremos ajudar as comunidades locais a proteger e regenerar as florestas”, explicou. O objetivo é garantir que aqueles que cuidam da natureza sejam recompensados. “As comunidades podem transformar o valor da biodiversidade em ‘Créditos Florestais’, que dão acesso a serviços financeiros como empréstimos, seguros, poupança ou garantias. Isso permite que as pessoas já não precisem de vender ou destruir terras por necessidades económicas. Em algumas áreas, estamos a tentar resolver conflitos ligados à terra criando sistemas de gestão partilhada que evitam conflitos e garantem a estabilidade”, contou Okorie ao jornal Avvenire.

Audrey Toyo, vinda da Indonésia, apresentou neste encontro a sua Feminine Genius, uma comunidade que combina formação, fé e comunicação. “Descobrimos que no nosso país não existem comunidades de mulheres que abordem a questão da identidade e do sentido de pertença. Inspirámo-nos em São João Paulo II, que falava do ‘génio feminino’. Então, decidimos criar um movimento para reunir todas as mulheres que partilham o desejo de redescobrir essa consciência.” O projeto de Audrey tem três pilares. “O primeiro são os encontros comunitários, onde aprofundamos as vidas das santas como inspiração”, explicou. O segundo tem como centro as redes sociais: “Colaboramos com muitos influenciadores católicos, com a esperança de que as mulheres possam redescobrir o seu valor e dignidade.” O último diz respeito ao apoio ao artesanato local: “Esperamos que, através da venda de produtos, seja possível sustentar essas comunidades e garantir-lhes um rendimento estável”.

Da Zambia, veio Mwansa Chalo, jovem fundador da Duniya Healthcare, uma plataforma que tem por objetivo solucionar a falta de acesso a medicamentos essenciais em África. Ligando farmácias e hospitais, reduzindo os custos logísticos em 60% e realizando entregas em menos de seis horas nas cidades e em 24 horas nas áreas rurais, esta plataforma conseguiu salvar quase 600 vidas em poucos meses de funcionamento.

“O nosso objetivo é mudar profundamente a economia”, afirma Jean-Marc Santolin, ressalvando que essa mudança histórica “certamente não é possível em pouco tempo. É um processo muito longo que deve envolver os jovens de forma contínua em projetos específicos. Além disso, deve haver colaboração entre as gerações. Portanto, podemos definir o nosso encontro como oxigénio que alimenta o caminho que estamos a trilhar”.

Um pedido de Francisco repetido por Leão

O encontro começou com uma surpresa para todos os participantes: a mensagem do Papa Leão XIV, que – mesmo estando longe, na sua primeira viagem apostólica – quis encorajá-los.

Lida pela Irmã Alessandra Smerilli, Secretária do Dicastério para o Desenvolvimento Humano Integral, a mensagem recordou um pedido deixado pelo Papa Francisco aos jovens empreendedores: “Que nasça entre vocês uma nova forma de conviver e de fazer economia – uma que não produza desperdício, mas sim bem-estar material e espiritual”. E fez seu o desejo dele: “Tenham coragem, queridos amigos! Coragem! Se vocês permanecerem fiéis à vossa vocação, as vossas vidas florescerão e vocês terão histórias maravilhosas para contar aos vossos filhos e netos”.

Depois, Leão XIV debruçou-se sobre o mote do encontro: “uma economia que reinicia“, explicou, “não é apenas uma máquina que produz, mas uma atividade que devolve a vida às pessoas, às comunidades, à nossa casa comum”. E reiniciar, acrescentou, “significa libertar-se das correntes da injustiça, restaurar o que foi prejudicado e criar espaços onde cada homem e mulher possa respirar dignidade e esperança. Reiniciar pode implicar mudar de direção e explorar novos caminhos”.

O Papa encorajou então os jovens a revelarem — através das suas vidas, dos seus negócios e das suas investigações — as “falhas de um sistema que aumenta a desigualdade e não se importa com os mais pequenos e os mais fracos”.

“Juntos”, disse ele, “podemos acolher os sonhos de Deus e ver que eles expandem os nossos sonhos, conduzindo-nos a uma aventura como povo, em que muros e preconceitos caem e a paz prevalece”.

Mas “para que o trabalho incansável não seja apenas ação social e ligado a modismos passageiros”, o Papa aconselhou os jovens a nutrir o seu espírito e a “regressar ao coração”, através da leitura dos Evangelhos e dos outros livros da Bíblia, que descreveu como “a paisagem na qual Deus ainda faz ouvir a sua voz e inspira as nossas visões, colocando-nos em diálogo com os seus amigos, os protagonistas da história da salvação”.

“Vocês serão bons empreendedores e bons economistas”, garantiu o Papa Leão XIV, “se conhecerem a economia divina: este é o segredo das muitas testemunhas que nos precederam e que ainda caminham conosco. Caros jovens, sigam em frente. De facto, sigamos em frente juntos!”, concluiu.

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