02 Dezembro 2025
Um "não à resignação". E um convite para "seguir em frente". Aliás, "seguir em frente juntos".
O artigo é de Giuseppe Muolo, jornalista, publicado por Avvenire, 30-11-2025. A tradução é de Luisa Rabolini.
Eis o artigo.
"Reiniciando a Economia", o novo encontro global promovido pela Fundação Economia de Francisco (EoF), começou com uma surpresa por ocasião do Jubileu e do 800º aniversário do Cântico das Criaturas. O evento teve início na sexta-feira (com término no domingo) com uma mensagem do Papa, lida pela Irmã Alessandra Smerilli, Secretária do Dicastério para o Desenvolvimento Humano Integral. O Papa ofereceu uma forte mensagem de encorajamento — a primeira — aos mais de seiscentos jovens economistas, empreendedores e agentes de mudança que vieram a Castel Gandolfo de mais de sessenta países do mundo. Entre os participantes, também estavam numerosos estudantes europeus do ensino secundário, teólogos, acadêmicos, empreendedores, ativistas, formuladores de políticas públicas e artistas. Todos reunidos para debater as questões mais prementes do nosso tempo.
A Economia de Francisco, a comunidade criada por Bergoglio em 2019 e inspirada em São Francisco de Assis, “é a expressão feliz de uma jornada que fecunda o pensamento e a iniciativa econômica com a semente do Evangelho, que São Francisco de Assis acolheu sem hesitação e cuja qualidade transformadora o nosso amado Papa Francisco testemunhou com todas as suas forças”, escreveu Leão XIV. A rede de amizade e trabalho “que vocês representam”, disse ele aos jovens, “é um ‘não’ à resignação”. Por isso, exortou-os a olhar para as “coisas novas”, “a partir das periferias”, e a “sair da indiferença ou do cercado dos objetivos pessoais”, tendo em mente que “uma economia que recomeça não é apenas uma máquina que produz, mas uma atividade que devolve a vida às pessoas, às comunidades, à nossa casa comum”.
Por fim, encorajou-os a “demonstrar com as suas vidas quais são as incapacidades de um sistema que aumenta as desigualdades e não consegue cuidar dos pequenos e dos mais fracos”. E ele lembrou: “Que o trabalho incansável de vocês não seja apenas ação social. Os Evangelhos e os outros livros da Bíblia são a paisagem onde Deus ainda faz ouvir a sua voz e inspira as nossas visões. Serão bons empresários e bons economistas se compreenderem assim a economia divina.” Uma consciência que guia concretamente os passos dos jovens, como também recordou Monsenhor Domenico Sorrentino, Bispo de Assis-Nocera Umbra-Gualdo Tadino e presidente da Fundação EoF. “A nossa experiência começou com Francisco como uma grande utopia”, disse o prelado. “Uma utopia que, porém, consideramos um sonho realizável. Os muitos jovens presentes, vindos de todos os continentes, demonstram isso. Estamos em sintonia com o Evangelho, com o Papa, com a Igreja e com as melhores exigências da sociedade e dos jovens.”
E eles são os grandes protagonistas destes dias. Sobem ao palco um após o outro. As suas vozes ecoam por toda a sala. Cativam a todos, mesmo aqueles que jamais teriam pensado que certas ideias pudessem um dia ganhar forma. Joshua Okorie, nigeriano, regenera territórios desmatados criando "ilhas de biodiversidade" monitoradas com inteligência artificial, drones, sensores e blockchain. "Meu projeto se chama 'Gerador de Ilhas de Biodiversidade'", explica ele. "Queremos ajudar as comunidades locais a proteger e regenerar as florestas." O objetivo é garantir que aqueles que cuidam da natureza sejam recompensados. "As comunidades podem transformar o valor da biodiversidade em 'Créditos Florestais', que dão acesso a serviços financeiros como empréstimos, seguros, poupança ou garantias. Isso permite que as pessoas não precisem mais vender ou destruir terras por necessidades econômicas. Em algumas áreas, estamos tentando resolver conflitos ligados à terra criando sistemas de gestão compartilhada que evitam conflitos e garantem a estabilidade."
Audrey Toyo veio da Indonésia, onde fundou a "Feminine Genius", uma comunidade que combina formação, fé e comunicação. "Descobrimos que em nosso país não existem comunidades de mulheres que abordem a questão da identidade e do senso de pertencimento. Nós nos inspiramos em São João Paulo II, que falava do 'gênio feminino'. Então, decidimos criar um movimento para reunir todas as mulheres que compartilham o desejo de redescobrir essa consciência." O projeto tem três pilares. "O primeiro são os encontros comunitários, onde aprofundamos as vidas das santas como inspiração." O segundo tem como centro as mídias sociais. "Colaboramos com muitos influenciadores católicos, com a esperança de que as mulheres possam redescobrir seu valor e dignidade." O último diz respeito ao apoio ao artesanato local. "Esperamos que, por meio da venda de produtos, seja possível sustentar essas comunidades e garantir-lhes uma renda estável."
Miriam Cakebread, por sua vez, é de Londres e faz parte do "Grupo Santa Marta", fundado em 2014 pelo Papa Francisco para combater o tráfico de pessoas. "É um problema enraizado em nossa sociedade e faz parte do tecido da nossa economia", denunciou. "É exploração sustentada por sistemas de desigualdade econômica." Nesse sentido, Cakebread convidou a "questionar o status quo". "O status quo é inaceitável e insustentável."
A essas vozes juntou-se a do jovem estadunidense Felix Navarrete, que criou uma plataforma de inteligência artificial alinhada à Doutrina Social da Igreja, com o objetivo de promover decisões centradas na dignidade, no bem comum e no cuidado com a criação. Partindo dos mesmos princípios, nasceu a "Duniya Healthcare", uma plataforma que busca solucionar a falta de acesso a medicamentos essenciais na África. Ela conecta farmácias e hospitais, reduzindo os custos logísticos em 60% e realizando entregas em menos de seis horas nas cidades e em 24 horas nas áreas rurais. Quase 600 vidas foram salvas em poucos meses.
Experiências diferentes, mas unidas por uma única certeza: mudar a economia é possível. Mas precisa ser feito juntos.
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