As profundezas da existência são alcançadas não quando vivemos agitados e cheios de medo, mas quando permanecemos em silêncio. Se uma pessoa se recolhe e permanece em silêncio diante de Deus, mais cedo ou mais tarde seu coração começa a se abrir.
O comentário é de José Antonio Pagola, teólogo espanhol, ao Evangelho de Jesus Cristo segundo Mateus 3, 1-12, que corresponde ao 2º Domingo do Advento, ciclo A do Ano Litúrgico, publicado por Religión Digital, 01-12-2025.
É muito fácil se encontrar na vida "sem um caminho" para Deus. Você não precisa ser ateu. Não precisa rejeitar Deus conscientemente. Basta seguir a tendência geral dos nossos tempos e se acomodar na indiferença religiosa. Aos poucos, Deus desaparece do horizonte. Ele se torna cada vez menos relevante. Será possível redescobrir caminhos para Deus hoje?
Talvez o primeiro passo seja resgatar a "humanidade da religião". Abandonar caminhos ambíguos que levam a um Deus egoísta e dominador, zeloso apenas de sua glória e poder, e abrir-nos a um Deus que busca e deseja, agora e para sempre, o que é melhor para nós. Deus não é o Ser Supremo que esmaga e humilha, mas o Amor Sagrado que atrai e dá vida. As pessoas hoje retornarão a Deus não movidas pelo medo, mas atraídas por seu amor.
Ao mesmo tempo, precisamos ampliar os horizontes de nossas vidas. Estamos preenchendo nossa existência com coisas, mas nos sentimos vazios por dentro. Vivemos informados sobre tudo, mas já não sabemos para onde direcionar nossas vidas. Acreditamos ser a geração mais inteligente e progressista da história, mas não sabemos como acessar nossos corações para adorar ou agradecer. Nos aproximamos de Deus quando buscamos um novo espaço para existir.
Também é importante buscar uma "base sólida" para a vida. Em que podemos confiar em meio a tanta incerteza e confusão? A vida é como uma casa: precisamos cuidar da fachada e do telhado, mas o importante é construir sobre uma base segura. No fim, sempre precisamos depositar nossa confiança suprema em algo ou alguém. Será que precisamos de Deus?
Para redescobrirmos o caminho que nos leva a Ele, precisamos aprender a silenciar. Atingimos a essência mais profunda da nossa existência não quando vivemos agitados e cheios de medo, mas sim quando permanecemos em silêncio. Se uma pessoa se recolhe e permanece em silêncio diante de Deus, mais cedo ou mais tarde seu coração começa a se abrir.
É possível viver isolado em si mesmo, sem caminhos que levem ao novo ou à criatividade. Mas também é possível buscar novos caminhos para Deus. É isso que João Batista nos convida a fazer.