“Não podemos mais achar que esse sistema vai resolver os problemas”, diz CEO da COP30

Foto: Pedro França/Agência Senado

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27 Novembro 2025

O texto final da COP30 frustrou muitos países, cientistas e ambientalistas, entre outras coisas pela falta de menção ao mapa do caminho para o fim dos combustíveis fósseis. Em entrevista ao Estadão, Ana Toni, CEO da conferência do clima de Belém, avalia que o evento deixou claros os limites do sistema atual.

A reportagem é publicada por ClimaInfo, 27-11-2025.

“Essa COP deixa clara a limitação de um sistema dessa natureza, mas é o melhor que a gente tem na mesa por enquanto. Então, acho que é um aprendizado tentar entender como avançar nas causas da mudança do clima dentro do sistema e para além do sistema”, reflete.

Para ela, fica clara a necessidade de, para além de aprimorar o sistema atual da Convenção do Clima (UNFCCC) da ONU, encontrar outros caminhos para além dele. Um exemplo é a conferência para fortalecer o compromisso dos países de se distanciar dos combustíveis fósseis, marcada para abril, na Colômbia.

A COP30 não mobilizou o necessário consenso para estancar a crise climática, e talvez seja hora de admitir que o desafio vai além da falta de recursos, provoca Frederico Brandão, professor visitante e pesquisador no Programa de Pós-Graduação em Agriculturas Amazônicas no Instituto Amazônico de Agriculturas Familiares da Universidade Federal do Pará (UFPA). Segundo ele, o princípio das “responsabilidades comuns, porém diferenciadas” está em disputa multipolar na atualidade, na qual países desenvolvidos deixaram de crescer tanto e países emergentes tentam ocupar a dianteira nas áreas de energia, tecnologia e geopolítica, destaca O Globo.

“Isso faz com que, na prática, seja politicamente suicida para qualquer governo democrático do Norte justificar transferências financeiras significativas diretas ao Sul, especialmente quando parte desses países emergentes disputa a hegemonia global”, explica o especialista.

Em um mundo no qual a polarização crescente faz enormes estragos, tudo trava quando as decisões são baseadas em consenso, como no caso das COPs. Ao analisar os avanços e entraves da COP30, o editorial do Valor afirma que “o mínimo denominador comum de ações climáticas aceitas revelou-se absolutamente insuficiente para conter o aquecimento global”. “Os maiores poluidores mundiais, China, EUA, Índia [este último sequer atualizou suas metas] e Rússia, passam ao largo das decisões, que, por sinal, não são mandatórias. É preciso mudar isso, sob risco de as COPs se tornarem irrelevantes.”

Em tempo 1

Se por um lado o texto final da COP30 deixou a desejar, por outro a força da sociedade civil nas ruas de Belém revigorou as energias de quem luta pela justiça climática, analisa ((o))eco. Especialistas presentes no evento acreditam que a conferência foi um divisor de águas entre as COPs. "Além da Zona Verde [espaço de atividades da sociedade civil abertas ao público], tivemos outros inúmeros espaços na cidade que foram muito importantes e que expuseram um diálogo de alto nível, mostrando as soluções que estão na mesa para a gente lidar com os efeitos climáticos”, afirmou Maurício Bianco, vice-presidente da CI-Brasil.

Em tempo 2

Apesar da inédita menção à importância de afrodescendentes no combate à crise climática em textos da COP30, o saldo da conferência ficou muito aquém do esperado pelas organizações ligadas ao movimento negro no Brasil. Durante a Marcha das Mulheres Negras, em Brasília na 3ª feira (25/11), Marina Duarte, presidente da União de Negros e Negras pela Igualdade (UNEGRO Brasil), lembrou que as mulheres negras sofrem ainda mais com os efeitos da emergência climática. Fernanda Lopes, diretora de programas do Fundo Baobá, ressaltou: “Não conseguimos avançar numa rota para deixar de usar combustíveis fósseis, então os eventos extremos passam a ser ainda mais frequentes. Quando nós estamos lidando com mais chuvas, com mais calor, com mais impossibilidade de um bom planejamento urbano, você está afetando diretamente essas populações [negras]”. O fundo apoia mais de 1,5 mil iniciativas voltadas à equidade racial e ao enfrentamento do racismo, informa a Agência Pública.

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