13 Novembro 2025
"Há motivos para temer que Trump continue a impulsionar a transformação dos EUA em um Estado com poder mais concentrado e menos tolerância e justiça. Os bispos americanos, contudo, ou não conseguem ou não querem se opor a ele", escreve Björn Odendahl, editor-chefe do Katholisch.de, em artigo publicado por Katholisch.de, 13-11-2025.
Eis o artigo.
Após a eleição de Leão XIV, havia muita expectativa em torno de seu relacionamento com o presidente americano, Donald Trump. Será que Leão, como americano, adotaria uma abordagem conciliatória ou assumiria uma posição firme? Embora o novo pontífice não tenha buscado o confronto de imediato, ele deixou suas posições bastante claras sobre questões como meio ambiente, justiça social e egoísmo nacional. Mais recentemente, ele intensificou ainda mais suas críticas aos EUA em relação às suas políticas de deportação.
A eleição do novo presidente da Conferência dos Bispos Católicos dos EUA é ainda mais alarmante. Embora D. Paul Stagg Coakley tenha criticado as deportações em larga escala de Trump em pontos específicos — afinal, muitos dos paroquianos de sua diocese são imigrantes —, ele geralmente não é considerado um crítico importante de Trump. Pelo contrário, Coakley é muito mais um símbolo de uma frente unida entre católicos conservadores e o governo populista dos EUA. No chamado Instituto Napa, para o qual o arcebispo atua como consultor, são organizados grupos de reflexão e formadas redes para fortalecer a influência da Igreja sobre o Estado e a sociedade, ao mesmo tempo que se confere legitimidade eclesiástica às ações do governo. As discussões se concentram em temas que ambos os lados identificaram como questões centrais: por exemplo, a proteção da vida ou a defesa do modelo tradicional de família contra a diversidade de gênero e sexual.
Quem observa a programação e as palestras das conferências anuais do Instituto Napa percebe que os participantes estão menos preocupados com a doutrina social católica e seus princípios de dignidade humana e solidariedade do que com o capitalismo e a maximização do lucro. A aproximação com as minorias, como defendia Francisco, antecessor de Leão XIV, tem um significado bem diferente.
Resta saber se o novo vice de Coakley, D. Daniel Flores, conseguirá atuar como uma força corretiva e neutralizar a crescente divisão dos EUA. As expectativas, porém, não são altas. Pelo contrário, há motivos para temer que Trump continue a impulsionar a transformação dos EUA em um Estado com poder mais concentrado e menos tolerância e justiça. Esses bispos americanos, contudo, ou não conseguem ou não querem se opor a ele.
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