30 Outubro 2025
“A educação cristã é um esforço coletivo: ninguém educa sozinho”, afirma o “nós” da comunidade educativa, cujo fundamento “permanece o mesmo: a pessoa, imagem de Deus, capaz de verdade e de relacionamento”.
A reportagem é de Jesús Bastante, publicada por Religión Digital, 28-10-2025.
“Desarme as palavras, porque a educação não avança com a controvérsia, mas com a mansidão que escuta. Levantai o olhar (...): sabei perguntar-vos para onde ides e porquê. Guardai o coração: a relação vem antes da opinião, a pessoa antes do programa. Não desperdiceis tempo e oportunidades.” A educação, juntamente com a unidade e a sinodalidade, serão três dos eixos deste pontificado. Nesta terça-feira, quando se completam 50 anos desde que o Concílio Vaticano II declarou o Gravissimum educationis, o Papa Leão XIV lançou uma nova carta, cujo título é uma declaração de intenções, em meio ao Jubileu dos Educadores Católicos: “Traçando Novos Mapas de Esperança”.
Este é o desafio que Prevost quer para os educadores e escolas católicas diante dos desafios colocados pela sociedade da informação, numa era de Inteligência Artificial, com "mudanças e incertezas rápidas" e onde às vezes se esquece, como destaca o pontífice, que "a educação constitui o próprio tecido da evangelização".
“Onde as comunidades educativas se deixam guiar pela palavra de Cristo, não recuam, mas renovam-se; não levantam muros, mas constroem pontes. Reagem com criatividade, abrindo novas possibilidades de transmissão de conhecimento e de sentido nas escolas, nas universidades, na formação profissional e cívica, na pastoral escolar e juvenil, e na investigação, pois o Evangelho não envelhece, mas renova ‘todas as coisas’”, insiste Leão XIV logo no início do texto de nove páginas e onze pontos, no qual sublinha como “cada geração é responsável pelo Evangelho e pela descoberta da sua força seminal e multiplicadora”.
Depois de reconhecer que “vivemos num ambiente educativo complexo, fragmentado e digitalizado”, o Papa elogia as “constelações educativas” que surgiram ao longo da história, ligadas ao Evangelho, e que foram “capazes de ler os tempos, de salvaguardar a unidade entre fé e razão, entre pensamento e vida, entre conhecimento e justiça”.
"Na tempestade, eles foram uma âncora de salvação; e na calmaria, uma vela desfraldada. Um farol na noite para guiar a navegação", acrescentou o pontífice, apontando para escolas, universidades, associações e movimentos ligados a instituições seculares ou religiosas.
Respondendo a novos desafios
No mundo de hoje, é "urgente" responder a novos desafios. "Diante dos milhões de crianças em todo o mundo que ainda não têm acesso à educação primária, como podemos deixar de agir? Diante das dramáticas emergências educacionais causadas por guerras, migrações, desigualdades e diversas formas de pobreza, como podemos deixar de sentir a urgência de renovar nosso compromisso?", questiona.
Em sua carta, o Papa reafirma a herança da educação católica como " a história do Espírito em ação", lembrando que "os carismas educativos não são fórmulas rígidas: são respostas originais às necessidades de cada época". Assim, ele retoma o exemplo dos Padres do Deserto, Santo Agostinho, o monaquismo e as primeiras universidades, até a espiritualidade inaciana, os calasancianos, Champagnar e Dom Bosco. "Mulheres corajosas, como Vicenta María López y Vicuña, Francesca Cabrini, Josefina Bakhita, Maria Montessori, Katharine Drexel e Elizabeth Ann Seton, abriram caminho para meninas, migrantes e os últimos", enfatiza.
E, como afirma Leão XIV, “a educação cristã é uma tarefa coletiva: ninguém educa sozinho”, reivindicando o “nós” da comunidade educativa, cujo fundamento “permanece o mesmo: a pessoa, imagem de Deus, capaz de verdade e de relação”, sublinha o Papa, confirmando a declaração de John Henry Newman como copatrocinador da missão educativa da Igreja ao lado de Tomás de Aquino.
Fazer perguntas e respondê-las, porque “a universidade e a escola católica são lugares onde as perguntas não são silenciadas, e a dúvida não é proibida, mas sim acompanhada”.
“A educação é um ato de esperança e uma paixão que se renova porque manifesta a promessa que vemos no futuro da humanidade”, afirma Prevost, acrescentando que a educação também “é um trabalho de amor que é passado de geração em geração”.
No texto, o Papa destaca o Gravissimum educationis, que "reafirma o direito de cada pessoa à educação e indica a família como a primeira escola da humanidade " e insiste que "a comunidade eclesial é chamada a apoiar ambientes que integrem fé e cultura, respeitem a dignidade de todos e dialoguem com a sociedade". Uma formação que "abraça a pessoa como um todo: espiritual, intelectual, emocional, social e física" e deve evitar uma "abordagem puramente comercial".
Neste ponto, o Papa alerta para o risco de “levantar a bandeira da posse da verdade”, porque “a educação católica tem a tarefa de reconstruir a confiança em um mundo marcado pelo conflito e pelo medo, recordando que somos crianças e não órfãos: desta consciência nasce a fraternidade”. E, sempre, colocando a pessoa no centro.
Assim, Prevost enfatiza que "a escola católica não é simplesmente uma instituição, mas um ambiente vivo no qual a visão cristã permeia cada disciplina e cada interação", e convida os educadores a "uma responsabilidade que vai além do contrato de trabalho: seu testemunho é tão valioso quanto sua lição". Ele também os convida a colaborar com as famílias, que "continuam sendo o principal local de educação". Como tal, elas devem ter o apoio do Estado para desenvolver seus direitos, acrescenta o pontífice.
Uma educação que não esquece os pobres
E, também, uma educação que não esqueça os pobres. Prevost deixa isso claro: “Esquecer nossa humanidade comum gerou fraturas e violência; e quando a terra sofre, os pobres sofrem mais ... A educação católica não pode permanecer em silêncio: deve unir a justiça social e ambiental, promover a sobriedade e estilos de vida sustentáveis e formar consciências capazes de escolher não apenas o que é apropriado, mas o que é justo. Cada pequeno gesto — evitar o desperdício, escolher com responsabilidade, defender o bem comum — é alfabetização cultural e moral”. Com Francisco, Leão pede “uma educação que envolva a mente, o coração e as mãos”, por uma “educação desarmada e desarmante para a paz” que “nos ensine a depor as armas da palavra agressiva e do olhar crítico, para aprender a linguagem da misericórdia e da justiça reconciliada”.
Olhando para o futuro, o Papa se concentra no ambiente digital e pede "criatividade pastoral" para garantir que "as tecnologias sirvam à pessoa, não a substituam". Leão alerta contra a "tecnofobia", pois "nossa atitude em relação à tecnologia nunca pode ser hostil", mas pede "discernimento" nos planos educacionais, porque " nenhum algoritmo pode substituir o que torna a educação humana: a poesia, a ironia, o amor, a arte, a imaginação, a alegria da descoberta e até mesmo a educação no erro como oportunidade de crescimento". "O fator decisivo não é a tecnologia, mas como a usamos".
Como guia para o caminho, o Papa abençoa o "Pacto Educacional Global", um "legado profético que nos foi confiado pelo Papa Francisco", e pede a "todas as entidades educacionais que inaugurem uma etapa que fale ao coração das novas gerações, reconstruindo conhecimento e significado, competência e responsabilidade, fé e vida". "Desarme as palavras, levante o olhar, guarde o coração", conclui Prevost.
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