25 Outubro 2025
- O mandato da comissão não é outro senão determinar como o abuso espiritual — frequentemente ligado à manipulação, coerção e abuso de autoridade em ambientes religiosos — deve ser formalmente classificado como um crime canônico.
- O pedido de 'Tucho' Fernández ao Papa ocorreu, e não por acaso, um dia após a nomeação do tribunal vaticano que julgará o caso Marko Rupnik.
A reportagem é de Jesús Bastante, publicada por Religión Digital, 23-10-2025.
Atualmente, não é crime segundo o Direito Canônico, embora existam vítimas e sejam cada vez mais reconhecidas pelas autoridades eclesiásticas. Trata-se de "abuso espiritual ", uma forma de "falso misticismo" que, nos últimos tempos, se tornou corrente nas discussões sobre abuso na Igreja. Rupnik, o HAM, o Instituto do Verbo Encarnado, o Garrido Franciscano e outras formas de dominação (resultando ou não em abuso sexual ou físico) são alguns exemplos de uma prática que poderá em breve se tornar um crime canônico.
Pelo menos é o que afirma uma nota do Dicastério para a Doutrina da Fé, que detalha uma audiência com o Papa Leão XIV para abordar "o objetivo de criminalizar o abuso espiritual" e que segue o mandato de Francisco, que ordenou a criação de um grupo de trabalho para combater o falso misticismo. A presidência já foi dada a Filippo Iannone, então prefeito do dicastério para Textos Legislativos e hoje sucessor de Prevost à frente do dicastério para os Bispos.
O mandato da comissão não é outro senão determinar como o abuso espiritual — frequentemente associado à manipulação, coerção e abuso de autoridade em contextos religiosos — deve ser formalmente classificado como crime canônico. O pedido de Tucho Fernández ao Papa ocorreu, não por coincidência, um dia após a nomeação do tribunal vaticano que julgará o caso de Marko Rupnik, um claro exemplo de manipulação e coerção espiritual que, até o momento, não tem pena canônica direta associada, dificultando uma possível condenação.
Como essa reforma afetaria o "caso Rupnik"? Fundamentalmente, garantem nossas fontes, uma reforma do Direito Canônico permitiria que o ex-jesuíta fosse julgado e condenado por um crime específico, algo que suas vítimas e outras vítimas reivindicam há muito tempo. O caso Rupnik pode ser o primeiro a adotar as novas regras.
Assim, o grupo de trabalho busca identificar e codificar em uma norma válida para a Igreja o que constitui abuso espiritual, quais as penas canônicas que ele acarretaria e como detectá-lo e denunciá-lo. Este é mais um passo adiante para uma instituição que tem lutado para lidar com a crise decorrente do abuso físico e sexual e que vê com preocupação como a questão do abuso de consciência em situações de dependência é, infelizmente, uma ocorrência cotidiana na Igreja. Isso é especialmente verdadeiro no caso de mulheres consagradas, que veem a obediência ou a direção espiritual como armas usadas por esses predadores.
Perguntas e respostas
O que é considerado abuso espiritual?
Segundo especialistas, envolve o uso de religião, crenças ou práticas espirituais para manipular, controlar, isolar ou prejudicar uma pessoa.
Onde ocorre?
Em relações de poder assimétricas, como aquelas entre um superior e um subordinado, um diretor espiritual e seu subordinado, ou um catequista e uma criança.
Que consequências isso pode ter?
Pode levar a vítima a perder sua identidade, autoestima e capacidade de pensar por si mesma, já que agir contra o agressor é considerado agir contra Deus.
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