23 Outubro 2025
"O recurso à ordenação de homens casados não deve ser visto apenas como um remédio para a escassez de padres. É também um caminho para redescobrir o verdadeiro sentido do ministério sacerdotal", escreve Robert Favrou, em artigo publicado por baptises.fr, 20-10-2025. A tradução é de Luisa Rabolini.
Eis o artigo.
Foram embora, alguns batendo a porta. Outros foram embora de maneira muito discreta, em silêncio. Deixaram o ministério sacerdotal para uma nova vida. A maioria com uma companheira e o projeto de constituir uma família. Outros, por um certo desgaste, ou por um sentimento de fracasso que não conseguiam mais suportar, imaginando um novo emprego que esperavam ser mais gratificante, mas que nem sempre encontraram com facilidade. Alguns teriam até continuado a exercer seu ministério que lhes tinha permitido realizar-se, mas tiveram que se curvar a uma decisão automática e intransigente de seus líderes.
Na década de 1970, a explicação para esses abandonos era buscada na mentalidade de 1968. Aqueles que iam embora eram até chamados de "revolucionários tardios de 1968". A instituição eclesiástica, que deveria ter se questionado seriamente sobre as verdadeiras causas daquelas desistências, muitas vezes se contentou em atribuí-las a problemas pessoais dos que iam embora, evitando questionar seu próprio funcionamento e uma forma de pensar considerada intangível.
Entre as razões daquelas saídas, parece que o celibato, tornado obrigatório para os padres da Igreja Latina desde o 11º. século, não entrava no rol da decisão. Aparentemente aceito na ordenação, não havia sido realmente escolhido e poderia se revelar difícil, senão impossível, de ser vivido posteriormente. Aqueles que abandonavam o sacerdócio não tinham a vocação do religioso. Era o ministério do sacerdócio, no cerne de sua escolha, que os motivara a dedicar suas vidas a essa missão. A questão que havia sido evitada diante do grande número de renúncias reaparece regularmente na nossa Igreja. Ela naturalmente veio à tona nas discussões das equipes organizadas em preparação ao Sínodo convocado pelo Papa Francisco. A obrigação do celibato, embora mantida pelo direito canônico, sem dúvida não é aceita por unanimidade pelo povo de Deus, onde a maioria parece esperar uma mudança dessa lei. E a decepção ficou evidente quando o Papa, após o Sínodo sobre a Amazônia, não levou em consideração nas conclusões daquela Assembleia a proposta de ordenar "viri probati", isto é, homens casados.
No entanto, os fiéis não são os únicos a questionar essa lei da Igreja Romana.
Durante o Concílio Vaticano II, o primaz da Igreja Melquita — uma Igreja Católica Oriental que inclui também padres casados — fazia esta declaração: "Em caso de necessidade, não é o sacerdócio que deve ser sacrificado ao celibato, mas o celibato que deve ser sacrificado ao sacerdócio". E um dos decretos do mesmo concílio, relativo à vida e ao ministério dos padres, reconhecia que "a natureza do sacerdócio não impõe a continência perpétua e perfeita". O Papa Paulo VI imediatamente pôs fim a essa abertura em uma encíclica sobre o tema. Decisão confirmada por João Paulo II, que chegou a declarar que essa posição era definitiva.
O recurso à ordenação de homens casados não deve ser visto apenas como um remédio para a escassez de padres. É também um caminho para redescobrir o verdadeiro sentido do ministério sacerdotal. Este não consiste na escolha de um estado de vida, fato específico para os religiosos e as religiosas, mas sim a aceitação de um serviço — um ministério — a ser exercido no seio do povo de Deus, e não reservado a homens celibatários. Seria necessária uma mudança no direito canônico, que estabelece que "somente o homem batizado recebe validamente a ordem sagrada" (Cânon 1024).
Essa declaração reflete fidelidade às origens da Igreja? No Evangelho, o envio de 72 discípulos em missão (Lucas 10,1-20) não é reservado aos homens. Alguns apóstolos eram casados, e é mais do que provável que houvesse mulheres entre os discípulos de Jesus, como tem sido repetidamente ressaltado. Bastaria substituir a palavra "homem" por "fiel" e seria derrubado um muro que separa e divide o povo de Deus. E seria realizado um grande passo em direção à reunificação com nossos irmãos cristãos separados. Pode-se, com razão, lamentar o fato de que as renúncias dos padres discutidas no início deste texto não tenham levantado questionamentos da Igreja institucional.
E podemos temer que, nem mesmo agora, novas renúncias possam encetar uma discussão. Constato isso ao ver certos cristãos que vão embora, ou foram embora, na maioria dos casos "na ponta dos pés". Alguns deles, que acompanhei em uma capelania ou em uma comunidade de base, e até mesmo em paróquia, confessam-me que "desertaram" porque, entre outras coisas, não se identificam mais com determinadas afirmações doutrinárias, um estilo de "governo", preceitos morais... "Que saiam se não se sentirem confortáveis!" será sempre uma resposta decepcionante e indefensável.
Todo desconforto, expresso ou não, deve sempre ser levado em consideração como uma situação que contém uma expectativa. As conclusões do Sínodo responderão a isso? Apesar de certo pessimismo, ousamos ter esperança.
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