23 Outubro 2025
Os protestos indígenas no Equador acontecem há um mês, com pelo menos três manifestantes mortos, 15 desaparecidos, quase 300 feridos e 377 violações de direitos humanos.
A reportagem é de Martín Cúneo, publicada por El Salto, 22-10-2025.
Em 16 de setembro, o poderoso movimento indígena tomou as ruas e bloqueou estradas em várias províncias do planalto equatoriano. A greve por tempo indeterminado declarada pela Confederação Nacional dos Indígenas do Equador (CONAIE) três dias depois foi respondida com a declaração de estado de emergência em sete províncias e repressão sistemática pela polícia e pelo exército equatorianos, que incluiu o uso "desproporcional" de gás lacrimogêneo e armas de fogo, segundo o Escritório de Washington para a América Latina (WOLA).

Protesto no Equador (Foto: CONAIE)
Até o momento, pelo menos três pessoas morreram em consequência da violência policial e militar: o líder indígena Kichwa, Efraín Fuerez, de 46 anos; José Alberto Guamán Izam, de 30 anos, agricultor e pai de dois filhos da comunidade Cachibiro; e Rosa Elena Paqui, de 61 anos, uma mulher indígena Saraguro, que sofreu uma parada cardíaca causada por gás lacrimogêneo.
Segundo a WOLA, a repressão atingiu a imprensa, com jornalistas "detidos e deportados" e veículos de comunicação comunitários fechados. Também foram registradas batidas policiais sem mandado, cortes de internet e telefone nas províncias mobilizadas e "deportações sumárias", segundo a organização americana. Segundo dados da CONAIE, um mês após o início da mobilização, as três mortes somam-se a 296 feridos e 377 violações de direitos humanos.
Em 16 de outubro, 132 organizações internacionais de direitos humanos exigiram que o governo equatoriano interrompesse a militarização e o "uso excessivo da força". A declaração enfatizou a criminalização judicial de organizações indígenas e defensores dos direitos humanos "sob acusações como terrorismo, enriquecimento ilícito e paralisação dos serviços públicos". Segundo essas ONGs de todo o mundo, o governo Noboa está recorrendo ao congelamento das contas bancárias de diversas organizações sociais e defensores dos direitos humanos.
🚨 #ParoNacional2025 | Durante 30 días, el gobierno de #DanielNoboa ha respondido con balas, gases y detenciones a un pueblo que exige justicia y dignidad.
— CONAIE (@CONAIE_Ecuador) October 21, 2025
Las declaraciones del ministro John Reimberg no ocultan lo evidente: hay una política sistemática de represión.
Tres… pic.twitter.com/YsZlY4K6s7
As principais reivindicações indígenas continuam sendo a revogação da lei que elimina o subsídio ao diesel, mais recursos para a saúde, o fim das demissões em massa, a redução do IVA para 12% e a rejeição do referendo convocado pelo presidente Daniel Noboa para permitir o restabelecimento das bases militares americanas no território. À medida que a greve por tempo indeterminado avançava, a libertação de detidos e o fim da criminalização foram adicionados às reivindicações iniciais.
O principal foco da resistência indígena é a província de Imbabura, onde o governo liderou uma operação militar para "reprimir o povo e limpar as estradas", segundo a CONAIE, organização que culpou o governo Noboa pelo colapso das negociações e pela criminalização da qual são vítimas: " Não somos terroristas , somos povos ancestrais que se regem pelos princípios de unidade e solidariedade". As tentativas de transferir os protestos para Quito e tomar a capital, como em greves anteriores que pressionaram o governo equatoriano, foram dificultadas pelas forças de segurança, que impediram a passagem de caminhões que transportavam manifestantes e dispersaram as manifestações na cidade com gás lacrimogêneo em 12 de outubro.
A CONAIE acusa Noboa de "fechar qualquer possibilidade de diálogo real ao mesmo tempo em que atende às exigências do Fundo Monetário Internacional, à custa do sofrimento do povo e do aumento da pobreza".
Apesar das garantias iniciais do governo de que não negociaria com o movimento indígena, em 15 de outubro, reuniu-se com representantes dos povos indígenas de Imbabura e dos povos Kichwa das montanhas para chegar a um acordo que não durou muito. "Hoje a greve foi suspensa, hoje as estradas foram abertas", declarou o Ministro do Interior, John Reimberg. Mas, no dia seguinte, os protestos continuaram. As reivindicações para manter o subsídio ao diesel, para libertar todos os manifestantes detidos, especialmente os "12 de Otavalo", acusados de terrorismo, e para esclarecer as mortes ocorridas, continuaram sem resposta.
Em 19 de outubro, o governo rompeu oficialmente o diálogo com o movimento indígena e o responsabilizou por "tudo o que acontece". A Confederação Nacional dos Povos Indígenas (CONAIE) rejeita essa decisão, chamando-a de "autoritária" e acusando Noboa de "fechar qualquer possibilidade de diálogo real enquanto cumpre as exigências do Fundo Monetário Internacional, à custa do sofrimento do povo e do aumento da pobreza".
Leia mais
- Equador. Um mês de greves e repressão: um governo aliado ao extrativismo e distante do povo
- SOS Equador: Quebrando o bloqueio da mídia. Artigo de Mauricia Rumazo
- O movimento indígena volta a comprometer os planos de ajuste neoliberal no Equador
- Equador: Noboa apela por firmeza contra protestos indígenas
- Mercenários no Equador. Artigo de Alberto Acosta
- Rumo a uma nova concepção de política no Equador. Artigo de Emílio Campos
- O movimento indígena volta a comprometer os planos de ajuste neoliberal no Equador
- Intensificam a guerra contra os povos. Artigo de Raúl Zibechi