17 Outubro 2025
A Pontifícia Comissão para a Tutela dos Menores defende a importância de comunicar os motivos da demissão quando a decisão estiver relacionada a casos de abuso ou negligência", para evitar a transferência de pedófilos para outros locais, onde possam repetir os seus crimes.
A informação é de Jesús Bastante, publicada por Religión Digital, 16-10-2025.
Maior transparência, mais indenização (que é "insuficiente") e "a inclusão das vítimas/sobreviventes no desenvolvimento das políticas e procedimentos de tutela da Igreja". Essas são algumas das exigências que a Pontifícia Comissão para a Tutela dos Menores emitiu em seu segundo relatório anual, no qual analisa "as políticas e os procedimentos de tutela na Igreja".
Um relatório que critica as ações de alguns episcopados, como o espanhol, que continuam a não reportar de forma transparente e, principalmente, não incluem as vítimas de abuso nos processos de prevenção e reparação, nem as informam adequadamente sobre o estado dos seus casos.
Assim, entre as medidas solicitadas pela organização, criada pelo Papa Francisco para combater a pedofilia na Igreja, estão a oferta de "garantias de acolhimento em centros de escuta para que as vítimas/sobreviventes sejam ouvidas e acreditadas pelas autoridades eclesiásticas"; a "prestação de serviços profissionais de apoio psicológico"; "agradecimentos e pedidos de desculpas públicos"; "comunicação proativa e transparente com as vítimas/sobreviventes para fornecer atualizações oportunas sobre seus casos"; e, especialmente, "a inclusão das vítimas/sobreviventes no desenvolvimento das políticas e procedimentos de proteção da Igreja". Algo que, infelizmente, continua faltando em muitos lugares do mundo.
Em seu relatório anual, a comissão adota o modelo de "justiça e conversão" como um modelo de trabalho, com quatro pilares: verdade, reparação, justiça e uma necessária "reforma institucional". Este segundo relatório, focado na reparação às vítimas, reconhece "a responsabilidade da Igreja de acompanhar as vítimas/sobreviventes em sua jornada de cura e reparação", escrito pelas próprias vítimas, que participaram da elaboração do documento do Vaticano.
"Aprendendo com as vítimas"
"Os resultados deste estudo identificam práticas específicas que a Igreja deve adotar como meios críticos de reparação, para além do papel limitado e frequentemente insuficiente da compensação financeira numa abordagem abrangente", observa o relatório, apelando a um "ministério da escuta" baseado fundamentalmente na "aprendizagem com as vítimas". Isto é algo que o Vaticano faz no seu relatório, permitindo-lhe ser altamente crítico em relação às ações de alguns episcopados. O relatório analisa vários: Itália, Gabão, Japão, Guiné, Etiópia, Portugal, Malta, Coreia, Namíbia e Norte da África, entre outros. Este não é o caso da Espanha.
E o que os sobreviventes pedem? Que sejam ouvidos, que lhes sejam oferecidos "pedidos de desculpas públicos e privados", apoio espiritual, terapêutico e financeiro, e "reformas institucionais e disciplinares" que permitam "um protocolo simplificado para a renúncia ou demissão de membros da Igreja implicados em casos de abuso ou negligência". Aqui, a Comissão defende "a importância de comunicar publicamente os motivos da renúncia ou demissão quando a decisão estiver relacionada a casos de abuso ou negligência", para evitar que pedófilos sejam transferidos para outros locais, onde possam (como demonstra a experiência) repetir seus crimes.
Ao mesmo tempo, pede "a criação de uma rede acadêmica que inclua centros de pesquisa em universidades católicas especializados em direitos humanos, prevenção de abusos e proteção de pessoas", e um "mecanismo de denúncia sistemática e obrigatória", incluindo "políticas de proteção e sua implementação".
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