08 Outubro 2025
A próxima Conferência das Nações Unidas sobre Mudanças Climáticas (COP30), que acontecerá em Belém, Brasil, "representa um chamado histórico para que a Igreja reafirme sua posição profética" sobre a justiça climática, disse um importante cardeal brasileiro.
A reportagem é de Justin McLellan, publicada por National Catholic Reporter, 06-10-2025.
"As instituições globais e as negociações multilaterais estão muito aquém do necessário", disse o Cardeal Jaime Spengler, arcebispo de Porto Alegre e presidente da Conferência Episcopal Brasileira, durante um discurso em 2 de outubro sobre o clima e a próxima cúpula. "Daí a urgência de reconstruir a confiança na cooperação e no diálogo."
O discurso de Spengler foi feito durante a conferência "Aumentando a Esperança pela Justiça Climática", realizada na residência papal de verão nos arredores de Roma para marcar o 10º aniversário da encíclica ambiental do Papa Francisco, "Laudato Si', sobre o Cuidado da Nossa Casa Comum". A conferência, iniciada pelo Papa Leão XIV, que pediu uma "verdadeira conversão ecológica" que leve as pessoas à ação climática, reuniu líderes religiosos, cientistas, formuladores de políticas e ativistas para refletir sobre o impacto da encíclica e mobilizar ações antes da COP30.
Entre os palestrantes de abertura estava Arnold Schwarzenegger, ex-governador da Califórnia e ícone do cinema, que chamou o papa de "herói de ação" por assumir ações climáticas no Vaticano.
A cúpula de Belém, marcada para 10 a 21 de novembro, deverá ser um dos encontros climáticos mais importantes desde a COP21, que culminou no Acordo de Paris de 2015.
Segundo o Acordo de Paris, os países são obrigados a apresentar "Contribuições Nacionalmente Determinadas" atualizadas — planos nacionais de ação climática que definem suas emissões e metas de adaptação — a cada cinco anos. A última rodada estava prevista para setembro, antes da COP30, mas muitos países ainda não apresentaram seus planos. Spengler alertou que o atraso é "muito sério", visto que essas promessas "marcam o caminho para os próximos cinco anos e além".
"A igreja não ficará em silêncio e é chamada a levantar uma voz profética que cure o tecido socioambiental rompido", disse ele.
As conferências episcopais da África, Ásia, América Latina e Caribe se comprometeram em julho a criar um observatório para a justiça climática "para monitorar os compromissos das COPs e seu cumprimento no Sul Global, bem como denunciar compromissos não cumpridos". Antes da COP30, eles alertaram que a crise climática "é uma questão existencial de justiça, dignidade e cuidado com a nossa casa comum".
Como presidente do conselho episcopal latino-americano, Spengler assinou o compromisso em nome dos bispos da região.
Marina Silva, ministra do Meio Ambiente do Brasil que lidera uma iniciativa da COP30 para estudar os desafios éticos que impedem pessoas e nações de tomarem medidas climáticas, abriu a conferência nos arredores de Roma destacando o progresso feito em reuniões anteriores da COP, como o compromisso de triplicar a energia renovável do mundo e dobrar sua eficiência energética até 2030.
"Hoje, possuímos em grande parte as soluções técnicas, as políticas e a regulamentação legal para executar essa agenda inadiável", disse ela. "O que precisamos agora é da determinação ética para cumprir esses compromissos em benefício das gerações futuras e, acima de tudo, das pessoas mais vulneráveis e marginalizadas."
Silva reiterou o convite do governo brasileiro para que o papa participe da COP30, embora o Vaticano não tenha indicado que Leão comparecerá.
"Estou convencida de que, desta forma, Sua Santidade dará uma contribuição indispensável para que a COP30 fique registrada na história como o grande esforço coletivo de implementação", disse ela, sob aplausos dos participantes da conferência.
Falando a jornalistas no Vaticano antes da conferência climática, Spengler disse que a COP30, "que será celebrada na porta da Amazônia", deve resultar em tomadas de decisão corajosas por parte dos líderes mundiais, "já que a ciência mostra que o tempo está se esgotando".
A escolha de sediar a COP30 em Belém, na borda da maior floresta tropical do mundo, reforça a urgência da conferência. A Amazônia está sob pressão crescente devido ao desmatamento, à seca e aos incêndios, que, segundo cientistas, podem transformar partes dela de um dos maiores sumidouros de carbono do mundo em emissores líquidos de carbono.
"Estamos no limite do que é possível", disse Spengler. "Um pouco mais adiante, e não teremos como retornar."
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