03 Outubro 2025
Segundo a FUNAI, a epidemia está diretamente ligada às pressões de atividades ilegais e à invasão sobre da Terra Pirahã.
A informação é publicada por ClimaInfo, 03-10-2025.
A Terra Indígena (TI) Pirahã, localizada no sul do Amazonas, vive um surto preocupante de malária. No mês passado, a Força Nacional do SUS foi acionada para atuar no território e realizou 332 testes rápidos. Segundo a Folha, desde o início do ano, o território registrou quase 400 casos de malária – os indígenas Pirahã são atendidos por dois Distritos Sanitários Especiais Indígenas (DSEI), vinculados ao Ministério da Saúde.
Cerca de mil indígenas vivem na TI, que fica à margem da BR-230, a Transamazônica. Os Pirahãs são indígenas de recente contato, seminômades e não falam a língua portuguesa. Segundo a FUNAI, a alta persistência de malária no território durante um grande período está ligada à pressão de ocupação e atividades ilegais, como o garimpo.
Como o BNC Amazonas assinalou, a malária é conhecida como “doença do garimpo” porque as áreas de mineração concentram focos de mosquito transmissor. A doença drena energia e provoca danos no fígado quando reincidente. Mulheres e crianças estão entre os principais infectados. Relatórios de 2024 apontam casos de desnutrição e insegurança alimentar, que tiveram melhora em 2025.
O Ministério Público Federal (MPF) recomendou que a Secretaria Especial de Saúde Indígena (SESAI) adote medidas emergenciais para conter o surto de malária que atinge a TI. A situação é delicada, pois houve um protesto e ataque com pedras no início de setembro que interromperam o atendimento de uma casa de apoio da SESAI. Os indígenas protestaram pela morte de um bebê após o parto, alegando que a mãe não teve assistência médica correta.
Segundo o Ministério da Saúde, a situação já está normalizada, mas os indígenas ficaram quase um mês sem assistência médica durante o surto, o que pode ter piorado o quadro. Além disso, um conflito entre agricultores e indígenas no último dia 15, que levou à morte de um agricultor, preocupa autoridades.
A recomendação do MPF, assinada pelos procuradores Janaína Gomes Castro e Daniel Luís Dalberto, estabelece prazo de cinco dias para a SESAI retornar com as equipes de saúde, substituir os profissionais envolvidos nos conflitos e articular apoio logístico e de segurança com a FPE (Frente de Proteção Etnoambiental) Madeira, informou o Amazonas Atual.
Em tempo
Na última 3a feira (30/9), a Polícia Federal (PF) deflagrou uma operação para combater crimes de desmatamento ilegal, garimpo ilegal, comércio ilícito de ouro, organização criminosa e porte ilegal de armas de fogo e explosivos na TI Sararé, no Mato Grosso. Segundo a corporação, garimpeiros e outros grupos responsáveis por ilegalidades no território têm ligação com o Comando Vermelho e se escondiam em um grande bunker, com equipamentos, armas e diversas caixas com bebidas alcoólicas. Em agosto passado, garimpeiros chegaram a trocar tiros contra agentes do IBAMA durante outra operação de fiscalização. O g1 deu mais detalhes.
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