26 Novembro 2020
Num planeta que há 11 meses é atingido por uma pandemia que já se aproxima de 60 milhões de casos e 1,5 milhão de mortes, não há saídas que não passem pelo compartilhamento da ciência, de sistemas de saúde fortalecidos e da solidariedade. Assim avaliou Tedros Adhanom Ghebreyesus, diretor-geral da Organização Mundial de Saúde (OMS), em sua participação no primeiro dia do Ciclo de Debates Pré-Congresso EPI 2021, organizado pela Abrasco, por meio da sua Comissão de Epidemiologia, nesta terça, 24. A coordenação foi de Lígia Kerr, presidente do 11º Congresso Brasileiro de Epidemiologia, marcado para novembro de 2021.
A reportagem é de Bruno C. Dias, publicada por Associação Brasileira de Saúde Coletiva – Abrasco, 24-11-2020.
O diretor-geral do OMS compôs o painel “Situação da Covid-19 no mundo e desafios para a Saúde Pública”, e apresentou uma visão geral da crise sanitária e que mexeu com as bases da política e economia mundiais.
Após prestar seu pesar pelo falecimento de mais de 170 mil brasileiras e brasileiros, e recomendar atenção com o aumento do número de casos em todo o país nas duas últimas semanas; Ghebreyesus destacou que a OMS valeu-se das evidências científicas para atuar logo no início da pandemia. No entanto, novas ferramentas são necessárias para acelerar a resposta ao vírus. “Os avanços obtidos na pesquisa e produção das vacinas trazem esperanças e ultrapassam antigos paradigmas. “A comunidade internacional precisa pensar em novas formas de acesso”, afirmou.
Um mundo interconectado e preocupado com as populações vulnerabilizadas esteve entre os argumentos do diretor-geral da OMS para defender a coalizão Covax. Para a Agência, a estratégia que pretende casar desenvolvimento tecnológico com equidade no acesso é fundamental para a saúde do planeta.
“Isso não é caridade, é a melhor forma de cortar a transmissão e retomar a economia. Num mundo interconectado, se certas populações deixarem de ser vacinadas, o vírus continuará circulando e contaminando pessoas. A melhor maneira de bloqueá-lo é fazer a vacinação dos públicos-alvo – idosos e profissionais de saúde – em todos os países do que todas as pessoas em alguns países”, ressaltou Ghebreyesus, destacando a proposta da iniciativa, que conta com apoio de 156 países, entre eles o Brasil.
Contudo, ele enfatizou que as vacinas devem complementar as estratégias de prevenção em saúde pública – identificação e isolamento dos contactantes, medidas e prevenção e atuação dos sistemas de vigilância. Ghebreyesus fez uma defesa da política de cobertura universal de saúde baseada numa forte atenção primária e ênfase em acesso e equidade como modelo para o enfrentamento. “A pandemia demostrou que saúde não é só um produto do desenvolvimento econômico”, pontuou ele, criticando países que investem muito em medicina de ponta, mas são negligentes nos seus sistemas de saúde.
“O Brasil tem uma longa e forte tradição em sistemas de saúde. Ainda que a pandemia castigue o país, ela também demonstra que saúde pública não é custo, mas sim investimento em estabilidade social, política e econômica. Vocês lutaram com convicção para afirmar que saúde é um direito humano, e não um privilégio, inscrevendo-o na Constituição. Dou minha palavra de honra que a OMS e a OPAS estão totalmente comprometidas com vocês para ajuda-los no fortalecimento da saúde pública em todo este extenso e belo país”, encerrou o diretor-geral da OMS. Ao debate, as dúvidas e comentários foram feitos pelo assessor Mike Ryan.
Cenários internacionais e nacionais: Coube aos demais participantes falarem dos cenários em seus países. George Rutherford mostrou a evolução da pandemia nos EUA. Encontra-se na 3ª onda, com concentrações nas universidades, prisões e instituições de longa permanência e asilares, chegando a 60% da mortalidade nessas instituições. O professor da University of California San Francisco demonstrou forte preocupação com um aumento ainda maior com os feriados de final de ano.
Walter Ricciardi, presidente da Federação Mundial de Saúde Pública (WFPHA) e professor da Università Cattolica del Sacro Cuore, rememorou a chegada da Covid-19 na Itália, pegando uma nação despreparada, sem um comando de saúde nem comunicação unificada. Para ele, o setor saúde tem de ser o coração da recuperação, priorizando saúde mental e saúde digital. “A Covid-19 acendeu um alerta para a vigilância em doenças não comunicáveis, e precisamos usar a ciência e as evidências para respostas mais ágeis”.
Sobre o cenário brasileiro, Claudio Maierovitch Henriques, epidemiologista e pesquisador da Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz/Brasília), apontou as diferentes estratégias de vigilância adotadas no Brasil e no Mundo, e como os cenários locais influenciam nas respostas. Gulnar Azevedo e Silva encerrou a sessão e ressaltando o trabalho que a Saúde Coletiva, suas entidades e a Abrasco têm desenvolvido. “Temos feito um trabalho importante para termos um SUS fortalecido, um SUS para todos” destacou ela rememorando diversas frentes de ação encampadas pela entidade. “A desigualdade desse país só vai ser solucionada ou minimizada se tivermos união e pudermos andar juntos.”
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“Saúde pública não é custo, mas sim investimento em estabilidade social, política e econômica” - Instituto Humanitas Unisinos - IHU