20 Setembro 2025
Deveria haver a opção de um voto temporário de celibato para futuros padres – como nas ordens religiosas, afirma o D. Karl-Heinz Wiesemann. O religioso explica por que não ordenará uma mulher como diácona por conta própria.
A reportagem é de Norbert Demuth, publicada por Katholisch.de, 19-09-2025.
Em 10 de outubro, o bispo de Speyer, Dom Karl-Heinz Wiesemann, celebra seu 40º aniversário como sacerdote. Esta é uma ocasião para refletir sobre os desafios atuais desta profissão. Em uma entrevista, Wiesemann pede a abolição do celibato obrigatório para os sacerdotes e sugere repensar o ministério dos sacerdotes como cuidadores pastorais. Wiesemann (65) também comenta a escassez de sacerdotes e a possível ordenação de mulheres como diáconas.
Eis a entrevista.
O senhor é padre há 40 anos. Alguma vez se arrependeu dessa decisão?
Não, estava claro para mim que eu seguiria uma profissão que lidasse com as questões profundas do sentido da vida. Ser padre, com suas diversas responsabilidades e sua proximidade com as pessoas no cuidado pastoral — literalmente do berço ao túmulo — é algo bastante abrangente.
O senhor se tornou padre aos 25 anos. Que conselho daria ao novo padre Karl-Heinz Wiesemann?
Ouça. Observe atentamente. Perceba a realidade abertamente. É assim que você se desenvolve.
Com o que devemos ter cuidado?
Ficar na sua bolha. Ter uma explicação imediata para tudo, algo como: Deus quer assim e nada mais.
Alguns padres também abandonam o ministério porque não querem mais praticar o celibato. O celibato nunca foi um problema para o senhor em seus 40 anos de sacerdócio?
Ah! (risos) Ao longo de uma vida longa, surgem todos os tipos de perguntas. Mas você também precisa continuar esclarecendo o panorama geral e os pontos em comum da sua própria vida.
O celibato deve permanecer obrigatório para os padres?
Defendo a abolição do celibato obrigatório como condição para a vocação sacerdotal. Ainda precisamos do celibato como um importante modo de vida espiritual, no qual a dedicação total do sacerdote a este ministério seja esclarecida e realizada. Este continua sendo um importante projeto de vida espiritual tanto para padres religiosos quanto para seculares. Mas acredito que pode haver outras maneiras de expressar e viver essa dedicação total a Cristo e à sua Igreja. Isso também é possível no matrimônio e pode iluminar outros aspectos dele.
O que poderia ser alterado especificamente?
A conexão exclusiva entre sacerdócio e celibato teria que ser abolida. Certas exceções já existem. Isso poderia restaurar a credibilidade na sociedade à natureza voluntária da escolha desse estado de vida e ao seu significado espiritual e existencial.
Além disso, talvez pudéssemos aprender com a grande tradição espiritual das ordens religiosas, onde os votos temporários são feitos primeiro, e somente após um certo período de amadurecimento na vida, na nova realidade, surge a possibilidade dos votos perpétuos. Afinal, vemos que os problemas na vida sacerdotal muitas vezes só começam depois de cinco a dez anos.
Na minha opinião, remover o tabu que cerca toda a questão e permitir uma decisão definitiva, especialmente durante este período de amadurecimento do sacerdócio, poderia aumentar significativamente o testemunho do celibato. No entanto, o pré-requisito para isso é que o exercício do sacerdócio não esteja vinculado à decisão final pelo celibato.
Então o senhor está sugerindo que um padre católico pode continuar padre mesmo se casar?
Sim. O celibato não deve estar absolutamente vinculado à prática do sacerdócio. Imagino que algumas igrejas locais, como a Igreja na Alemanha, poderiam seguir esse caminho. Não precisa ser igual em todos os lugares do mundo.
O que leva o senhor a essa demanda?
Estamos perdendo muitas pessoas muito boas que não podem ou não querem praticar o celibato. E estamos perdendo muitas pessoas boas que nem sequer escolhem o sacerdócio por causa do celibato.
O escândalo de abuso também abalou a imagem que muitas pessoas têm dos padres.
Sim, o meu também. Os padres estão sendo, com razão, examinados com mais intensidade ultimamente. Ao mesmo tempo, alerto contra colocar os padres sob suspeita geral.
A escassez de padres é perceptível em todos os lugares. Os pastores se tornaram gestores. Como podem voltar a ser pastores?
A Igreja deveria repensar o ofício espiritual do padre e, portanto, também do pároco. A questão é: que tipo de responsabilidade de liderança o clero deve ter dentro da paróquia e quais áreas poderiam ser delegadas aos leigos católicos, tanto homens quanto mulheres? O caráter pastoral e espiritual do sacerdócio teria que ser trazido de volta à tona e mais firmemente ancorado no direito canônico.
O senhor também defende a ordenação de mulheres como diáconas. A Igreja Católica pensa demais e age de menos?
Eu contradizia veementemente essa impressão. Hoje mesmo, o Conselho Espiritual Geral, que ajuda a governar a Diocese de Speyer, se reuniu. Quando me tornei bispo, não havia mulheres nele. Agora, este órgão tem cinco mulheres, ou seja, um terço.
Mas também defende que as mulheres devem poder se tornar diáconas o mais rápido possível.
Sim.
Isso não é possível atualmente na Igreja Católica — os ministérios ordenados de diácono, padre e bispo são reservados aos homens. O que aconteceria se o senhor ordenasse uma mulher diácona amanhã?
Então eu me colocaria fora do direito eclesiástico.
E o senhor nunca faria isso?
Não. Não estou me colocando de fora, mas sim tentando fazer a diferença dentro da Igreja.
Também não acha que seja uma boa ideia que vários bispos corajosos unam forças e tomem uma atitude não convencional, como às vezes é exigido?
Não, temos a tarefa e a obrigação de trilhar o nosso caminho juntos com a Igreja universal. Se eu simplesmente fizer algo sozinho, ofenderei os outros — independentemente de acreditar que seja certo ou não. Estaria prejudicando a unidade da Igreja em um ponto crucial. E a unidade é um bem muito precioso, especialmente em um mundo cada vez mais dividido. A Igreja Católica é uma plataforma magnífica para o diálogo entre todas as culturas.
A ordenação de mulheres como diáconas seria teologicamente possível?
O argumento teológico para excluir completamente as mulheres do ministério ordenado...
...então o argumento de que Jesus chamou somente homens como apóstolos...
...na minha opinião, esse argumento teológico perdeu muito de sua persuasão. Não há argumento teológico absoluto contra a ordenação de mulheres.
Embora o Papa João Paulo II – afinal, um santo – tenha declarado em 1994 que a Igreja não tinha “autoridade alguma” para ordenar mulheres como padres.
Acredito que a Igreja deveria discutir abertamente o possível diaconato feminino. Hoje, nos encontramos em um contexto social muito diferente do que em épocas anteriores. A questão da igualdade entre homens e mulheres e da justiça é muito importante hoje. E acreditamos na encarnação de Deus, não na encarnação de Deus. Deus se fez homem, não o homem.
Especialmente à luz do fato de que nós, como o Papa Francisco em sua encíclica Fratelli tutti, colocamos a universalidade da salvação em primeiro plano em nossa mensagem e, portanto, também a igual dignidade de todos, a exclusão das mulheres do ministério ordenado é muito difícil de ser plausível hoje em dia.
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