18 Setembro 2025
O cruzamento que leva à Rua Rashid, a estrada costeira, está sempre lotado de pessoas tentando encontrar uma carona. Eles atacaram bem ali. E também em outros pontos por onde as pessoas passam para evacuar. Outro "corredor humanitário" foi aberto no centro da Faixa.
A reportagem é de Fabio Tonacci, publicada por La Repubblica, 18-09-2025.
Bombas na última cidade e bombas nos últimos que fogem. Na Cidade de Gaza, não há rotas seguras, e os depoimentos coletados dos palestinos que evacuam não são diferentes daqueles dos palestinos que, por exaustão ou medo, permanecem. Mísseis, drones, sangue, civis mortos: nos cruzamentos onde as pessoas se reúnem para encontrar uma saída e ao longo das estradas que levam para fora da cidade. Na Cidade de Gaza, é perigoso ficar, mas também é perigoso fugir.
Sami Abu Salem, por exemplo. Ele é o repórter que trabalha neste jornal há semanas. Depois de muita hesitação, decidiu se mudar com a família e partir em direção ao sul. Encontrou alguns metros quadrados livres no acampamento de al-Maghazi, não muito longe de Deir al-Balah. Chegou lá inteiro e nem sabe como. Esta é a história que ele contou ao Repubblica.
O cruzamento de Al-Lababidi, na Rua Al Nasr, na Cidade de Gaza, está sempre lotado. Quem mora nos bairros Sheik Radwan e Nasser sabe que precisa ir até lá para convencer quem tem carro a transportá-lo a um preço razoável. Eu também estava lá, esperando um motorista que me prometeu uma carona e me deixou esperando cinco vezes. O cruzamento estava lotado de famílias evacuando. De repente, um foguete explodiu a 20-30 metros de mim, em frente à entrada de um prédio. Havia estilhaços por toda parte. Apesar da fumaça e da poeira, fui verificar. Um jovem e um idoso estavam no chão, mortos. Uma mulher e dois homens ficaram feridos e ensanguentados. Os carros superlotados que passavam naquele momento nem pararam para prestar socorro.
Todos passam por esse cruzamento, pois ele rapidamente leva à Estrada Rashid, a via elevada na areia de frente para o mar que é a Via Sacra de todo um povo: em poucos dias, pelo menos 350.000 moradores de Gaza a pisotearam, segundo estimativas do exército israelense, forçados a abandonar a cidade por uma operação militar chamada "Carruagens de Gideão 2", ordenada por Netanyahu e que até mesmo o Chefe do Estado-Maior israelense considera de pouca utilidade. É também a principal rota indicada pelas Forças de Defesa de Israel (IDF) para a evacuação para o sul. Se alguém conseguir chegar lá com vida.
Há menos de trezentos metros entre a Rua Rashid e a Torre Mushtaha, o prédio de apartamentos recentemente demolido por um míssil israelense. A família Hashem havia encontrado um carro, danificado, mas funcionando. Havia cinco pessoas a bordo, quatro delas primos: o plano era seguir para Mawasi, a praia transformada em uma cidade de tendas. Eles tinham acabado de passar pelas ruínas da torre quando um foguete, provavelmente disparado de um drone quadricóptero, atingiu o carro. "Recebemos o chamado, chegamos ao local e levamos seis homens para o hospital", explicou Anas, um dos socorristas, ao Repubblica. Segundo os médicos, os cinco a bordo "eram evacuados" e todos morreram no ataque aéreo.
O exército israelense anunciou uma "rota alternativa" na X, desta vez ao longo do Salah al-Din central. Ou melhor, o que resta do Salah al-Din: antes, quando a Faixa de Gaza não era o tapete de escombros que é agora, era a artéria mais movimentada. Parte do Salah al-Din foi inaugurada às 12h de ontem e permanecerá assim por 48 horas. Ela conecta a Cidade de Gaza às cidades de Khan Younis e Rafah, e caminhar por esse trecho leva pelo menos sete horas. No passado, durante o conflito, as Forças de Defesa de Israel (IDF) permitiram o acesso de deslocados ao Salah al-Din, mas os moradores de Gaza não confiam mais nele porque foi bombardeado várias vezes pela força aérea, apesar de ter sido declarado um "caminho seguro", conforme reconstituído em um relatório da Human Rights Watch publicado em novembro passado.
A maioria dos palestinos, portanto, aglomera-se na estrada costeira, arrastando sacos e esteiras, carregando um simulacro de casa enrolado debaixo do braço. "Enquanto eu estava em Al Rashid, ouvi várias explosões", disse Sami Abu Salem. "Após cada explosão, as pessoas olham para o céu, em busca da coluna de fumaça que marca o ponto de aterrissagem do míssil. Após cada explosão, todos têm o mesmo pensamento: quem sabe se sobreviveremos, quem sabe se algum dia retornaremos à Cidade de Gaza."
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