08 Setembro 2025
O texto do pontífice será publicado no final de setembro. O calendário das primeiras viagens de Prevost está sendo finalizado: Turquia no final de novembro, com a adição de uma etapa no Líbano, no coração da tragédia do Oriente Médio. Em 2026, a África em fevereiro e, em seguida, Argentina, Peru, Uruguai em maio, Estados Unidos e Haiti em setembro.
A reportagem é de Marco Damilano, publicada por Domani, 06-09-2025. A tradução é de Luisa Rabolini.
O rascunho está concluído e está sendo revisado e traduzido. A primeira encíclica do Papa Leão XIV será publicada no final de setembro. Ela será dedicada à pobreza, ou melhor, aos pobres, seguindo os passos de seu antecessor Francisco.
O calendário das primeiras viagens do pontificado também está sendo finalizado. Ainda não é oficial; por enquanto, inclui a Turquia no final de novembro, para o 1700º aniversário do Concílio de Niceia, como o Papa Francisco já pretendia, com a adição de uma etapa no Líbano, no coração da tragédia do Oriente Médio. Em 2026, a África em fevereiro, depois Argentina, Peru e Uruguai em maio, e em setembro Estados Unidos e Haiti, um dos países mais pobres do mundo.
As Américas: são declaradas no plural, mas representam um único continente, o projeto que une os dois pontífices que chegaram a Roma de lá. A unidade da Igreja para se abrir ao acolhimento de todos os homens e mulheres da terra. "Todos, todos, todos", dizia Francisco. "In illo uno unum", recita o lema de Prevost.
Uma presença gentil
Assim, a agenda de Leão XIV começa a tomar forma, no quarto mês de seu pontificado e às vésperas de seu septuagésimo aniversário (Robert Francis Prevost nasceu em Chicago em 14-09-1955).
"Vivamos bem, e os tempos serão bons. Nós somos os tempos", disse citando Agostinho aos jornalistas em 12 de maio, após sua eleição. O Papa Leão atravessa esses tempos como "uma presença gentil", como padre Stefano Stimamiglio, diretor da Família Cristã, o descreveu na biografia Ripartiamo da Cristo (São Paulo).
Lendo os noticiários ítalo-vaticanos, até se poderia dizer que foram meses tranquilos e serenos, caracterizados por estadas em Castel Gandolfo. Na realidade, foram tempestuosos, dramáticos, marcados pela impotência de conter o mal. Como se viu na quinta-feira, 4 de setembro, com o autoconvite ao Vaticano do presidente israelense Isaac Herzog, ansioso em se creditar como interlocutor no lugar do primeiro-ministro Benjamin Netanyahu: aspiração fracassada, porque a Santa Sé não concedeu nada, em um longo e inusitado comunicado final, pediu o "cessar-fogo permanente", o "pleno respeito ao direito humanitário", a garantia de "um futuro para o povo palestino", cuja existência é negada pelo governo israelense, e "a solução de dois Estados como única saída".
Sinais de morte
Tempos difíceis para a Igreja em fronteira. O bombardeio da paróquia de Gaza em 17 de julho foi uma ameaça direta aos que permanecem na Palestina. O massacre esquecido de cristãos na Nigéria, com 200 mortos em Yelwata. E também no país natal do Papa, os Estados Unidos, a violência atingiu diretamente a comunidade católica. Primeiro, o alarme falso de um atirador na Universidade Católica Villanova, na Pensilvânia, em 22 de agosto, enquanto a missa inaugural do ano letivo era celebrada: estudantes em fuga, cenas de pânico, cadeiras viradas no gramado e hinários no chão. Esses são lugares que Robert Francis Prevost conhece bem, tendo estudado lá e se formado em 1977.
Cinco dias depois, o massacre na Escola Católica Annunciation, em Minneapolis, pelas mãos de um ex-aluno, deixou duas crianças mortas. Sinais de morte que o agostiniano Prevost sabe ler. Leão XIV falou no Angelus de 31 de agosto sobre "pandemia de armas, grandes e pequenas, infectando nosso mundo". Recebeu pouca repercussão na mídia, como já havia acontecido em 26 de junho, quando, a propósito do rearmamento, falou de "mercadores da morte", da "violência bélica que parece se abater com uma veemência diabólica nunca vista antes".
Palavras ofuscadas
As armas e o diabo. Palavras poderosas, mas ofuscadas, como outras que teriam merecido maior atenção midiática e eclesial. "Maria, a mãe de Jesus, é para nós sinal e antecipação da maternidade de Deus. Nela nos tornamos Igreja mãe", disse Leão em 17 de agosto no santuário de Santa Maria della Rotonda, em Albano.
Na festa da Assunção, descreveu Maria e Isabel, mãe de João Batista, como "mulheres pascais, apóstolas da Ressurreição". A referência à maternidade de Deus e a definição de duas mulheres como apóstolas, iguais aos homens, outrora teriam suscitado debates. Assim como a audiência da última terça-feira com o jesuíta estadunidense James Martin, figura de destaque da America, influente revista dos jesuítas estadunidenses, a quem Leão garantiu a mesma abertura que Francisco em relação aos fiéis LGBTQ+: no sábado, 6 de setembro, mil pessoas participarão da audiência do Jubileu do Papa e passarão pela Porta Santa de São Pedro como peregrinos.
Ações em sintonia com a sinodalidade, com o caminhar juntos, que é a marca registrada do novo pontificado.
"O Papa Leão está lutando para conquistar as mentes e os corações dos conservadores", escreveu o Times na quinta-feira, 4 de setembro. Mas, na opinião pública italiana, esses gestos repercutem como a semente da parábola evangélica do semeador: destinada a não crescer por cair em solo árido ou sufocada por espinhos.
Alguns setores eclesiásticos, e seus representantes midiáticos, um restrito círculo de sites e comentaristas, são extremamente ativos na perpetuação da lenda do Papa conservador, ou até mesmo restaurador, e buscam obsessivamente qualquer indício de descontinuidade com Francisco, exaltam a mozeta ou as palavras sobre a família tradicional, ou a audiência com Matteo Salvini, ou a menção a Cristo. Sonham em restaurar a figura do Pontífice ao status de sentinela do Ocidente, guardião da identidade tradicional, até reduzi-lo à figura de chefe da pequena aldeia do Vaticano. O efeito, paradoxalmente, é estreitar e tornar irrelevante a mensagem universal de paz, a tarefa que Jesus pediu aos seus discípulos de todos os tempos, de serem o sal da terra, a luz do mundo, o coração inquieto da humanidade.
Os pobres e as viagens
É por isso que a primeira encíclica é esperada como o manifesto programático do pontificado, como foi a exortação Evangelii Gaudium do Papa Bergoglio. A referência a Francisco será afirmada desde o início.
Escrever uma encíclica sobre os pobres significa reafirmar o cerne da mensagem cristã no plano teológico, a identidade missionária da Igreja. "São Paulo, ao se tornar cristão, se fez pobre", disse o então Prior Geral, padre Prevost, aos seus coirmãos agostinianos em Buenos Aires, em 2007.
No mundo dos poderosos que fazem de si mesmos ídolos vivos, bezerros de ouro, é também uma indicação social e política.
As viagens são a continuação de uma trajetória. Turquia e Líbano, na fronteira com a Síria e Israel, no Mediterrâneo, "encruzilhada de fraternidade e não túmulo de mortos", disse ele na quinta-feira, 4 de setembro.
A África, com a República do Congo, e talvez a Argélia de Agostinho. Ainda no primeiro semestre, a Argentina, para onde Bergoglio nunca retornou como papa, o Uruguai e o Peru, a pátria escolhida por Prevost (ele foi um jovem missionário lá e depois bispo de Chiclayo).
Em setembro, seu país de origem, os Estados Unidos (se o calendário for confirmado, coincidirá com a campanha eleitoral para o voto de meio de mandato de 03-11-2026, bancada de testes para o trumpismo), e o Haiti, periferia dos condenados da Terra.
O fio condutor é a unidade da Igreja como sinal da unidade do gênero humano, hoje devastado por guerras e pela obra de demolição sistemática das instituições supranacionais. As primeiras viagens de um papa que se percebe como missionário, sem fronteiras, o primeiro papa na história da Igreja a ter vivido entre diferentes continentes, com uma biografia global. Chamado a agir em uma época de transição, como fez Agostinho entre os séculos III e IV da era cristã, quando identificou a cidade da Babilônia como a imagem da confusão. É a mesma grande desordem mundial de hoje, destinada a conviver com Jerusalém, que significa uma "visão de paz". Até o fim dos tempos.
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