06 Setembro 2025
"Não se trata apenas de uma questão de integridade. Há uma consequência prática. Em Roma, emitir declarações de apoio a Viganò era 'brutta figura', de mau gosto, e eles têm boa memória em Roma".
O artigo é de Michael Sean Winters, jornalista e escritor, em artigo publicado por National Catholic Reporter, 05-09-2025.
Eis o artigo.
Durante o verão, os bispos dos EUA se reúnem em diferentes eventos, como retiros regionais, convenções dos Cavaleiros de Colombo ou celebrações de aniversários de ordenação. No verão passado, soube que houve uma campanha para garantir que o Arcebispo Paul Coakley, de Oklahoma City, fosse eleito presidente da Conferência dos Bispos Católicos dos EUA na reunião plenária de novembro.
É compreensível que alguns bispos apoiem Coakley. Ele é acessível e atraente, um ótimo orador e sabe como conduzir uma reunião. Ainda assim, elegê-lo presidente é uma péssima ideia.
Primeiro, Coakley foi um dos cerca de 40 prelados que emitiram declarações de apoio ao então Arcebispo Carlo Maria Viganò, quando este emitiu seu "testemunho" acusando o Papa Francisco de encobrir os crimes do ex-cardeal Theodore McCarrick e, pior, de pedir a renúncia do papa. O documento não fazia sentido à primeira vista: Francisco foi eleito em 2013, seis anos inteiros após a aposentadoria de McCarrick. Foi o Papa João Paulo II quem promoveu McCarrick quatro vezes, não Francisco.
"Embora eu não tenha qualquer conhecimento ou experiência pessoal dos detalhes contidos em seu 'testemunho', tenho o mais profundo respeito pelo Arcebispo Viganò e sua integridade pessoal", disse Coakley em um comunicado, ainda publicado no site da arquidiocese. Ele não fez uma única palavra de elogio ao papa, a quem havia feito voto de obediência.
Viganò foi excomungado por cisma e suas postagens online estão cada vez mais desequilibradas. O Relatório McCarrick concluiu que o próprio Viganò não investigou as alegações de má conduta de McCarrick. Todo o episódio em que Viganò divulgou seu "testemunho" foi uma tentativa imprudente e mentirosa de golpe. No entanto, Coakley nunca se retratou de sua declaração.
Não se trata apenas de uma questão de integridade. Há uma consequência prática. Em Roma, emitir declarações de apoio a Viganò era "brutta figura", de mau gosto, e eles têm boa memória em Roma. Uma das coisas que os dirigentes da conferência episcopal fazem é viajar ao Vaticano duas vezes por ano (pelo menos) para conduzir os trabalhos da conferência. Por que os bispos escolheriam como seu principal representante alguém sobre quem muitos no Vaticano nutrem suspeitas?
Em segundo lugar, Coakley é o "Conselheiro Eclesiástico" do Instituto Napa. Hoje, os católicos conservadores têm tanto direito de se organizar quanto os católicos liberais, mas o Instituto Napa e seu fundador, Tim Busch, parecem determinados a canibalizar o catolicismo a serviço de seu credo libertário. As visões de Busch sobre a Igreja também são decididamente pré-Vaticano II, oferecendo seu instituto como um lugar onde os católicos podem "se abrigar e sobreviver", o que é uma imagem muito diferente daquela do evangelista missionário ou das imagens de hospital de campanha usadas por Francisco e, agora, pelo Papa Leão XIV. Busch é um influenciador e gosta de comprar coisas, mas a presidência da conferência não deve estar à venda.
A razão mais importante para não escolher Coakley, no entanto, é que a conferência está muito dividida e precisa de alguém que possa ajudar a unir os bispos. Coakley está muito à direita para conseguir a unidade de que a conferência precisa. Sentirei o mesmo se um dos candidatos à presidência da conferência for o Cardeal Robert McElroy, de Washington, DC. McElroy é o intelecto de destaque na hierarquia e, em tempos de crescente autoritarismo, seria o porta-voz perfeito para os bispos dos EUA. Mas ele está muito à esquerda para o corpo de bispos e, por isso mesmo, não creio que consiga uni-los.
A Conferência Episcopal ainda não divulgou os nomes dos indicados para a presidência, ou para os cargos de presidente das comissões, a serem eleitos em novembro. Mas espero que os bispos escolham um presidente que esteja bem no centro, alguém que esteja tão publicamente comprometido com a luta contra o aborto quanto com a defesa dos imigrantes, alguém que seja conservador, mas que sempre tenha sido leal a Francisco, e alguém comprometido com a visão sinodal que Leão apoiou. O Cardeal Sean O'Malley está aposentado, então não pode assumir o cargo, mas a Conferência precisa de alguém como ele para que se unam.
A conferência episcopal tornou-se uma sombra do que era antes. Nas décadas de 1980 e 1990, até o século XXI, a equipe da conferência trabalhou incansavelmente para redigir propostas que unissem os bispos, e não os dividissem. A conferência teve influência no Capitólio, em parte por ser tão decididamente apartidária. Naquela época, nem o Congresso nem o presidente ousariam cortar o financiamento para programas de migrantes e refugiados administrados pela conferência. O governo Trump fez isso, provocando apenas um murmúrio de protesto da liderança da conferência episcopal. Eles precisam caminhar em uma nova direção, e precisam caminhar juntos. Isso exigirá uma nova liderança.
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