04 Setembro 2025
"Será um Jubileu realmente único se for como um caça-talentos, um descobridor de talentos, onde não os esperaríamos".
O artigo é de Chiara D'Urbano, psicóloga e psicoterapeuta, publicado por Avvenire, 03-09-2025. A tradução é de Luisa Rabolini.
Eis o artigo.
Muitos se perguntam se a peregrinação jubilar de La Tenda di Gionata e de outras associações de fiéis, pais e agentes pastorais LGBT+ é realmente apropriada. Havia realmente a necessidade de criar um momento específico? A escolha das palavras tem um grande valor, por isso gostaria de dedicar uma nota inicial à sigla LGBT+, linguisticamente prática, mas que tende a massificar em uma única sigla a complexidade das minorias sexuais — ou seja, pessoas com orientação homoafetiva ou transgênero — para explicar em poucas palavras. Histórias, trajetórias, vivências, até mesmo muito diferentes entre si.
Claro, percebo que falar sobre minorias pode levar a outras ambiguidades, e assim não saímos da confusão: explica-se um termo com outro, que também precisa ser esclarecido. Vale a pena fazê-lo, porém, sob o risco de parecer pedantes. Minorias sexuais. Poderia evocar algo limitado, talvez que não deu certo, "deficiente". Mas não é o caso. Variedades e minorias referem-se a um dado numérico, a uma especificidade mais que a uma estranheza deficitária. No entanto, dúvidas persistem, há temores de que homoafetivos e transgênero se reúnam naquele dia para representar uma espécie de pedido, mesmo que seja por uma maior inclusão por parte da Igreja. Ou, ainda, que possam dar um "mau exemplo", como se fossem influenciadores inspirando um modo de ser, dúvida difícil de entender, já que ninguém escolhe ser homossexual ou transgênero.
Não acredito que esse seja o espírito do caminho dos fiéis que se unem para cruzar a Porta Santa. Não será pedido um imprimatur, nem a possibilidade de estar lá significa um imprimatur.
Penso, de forma mais simples, que o sentido da peregrinação, para qualquer um, é o de "colocar-se em viagem e superar algumas fronteiras". Essas são palavras que podem ser lidas no site oficial do Jubileu: "A palavra, de fato, deriva do latim per ager, que significa ‘através dos campos’, ou per eger, que significa ‘travessia de fronteira’: ambas as raízes evocam o aspecto distintivo de empreender uma viagem" (Disponível aqui).
Como Abraão, qualquer pessoa que se põe a caminhar, mesmo sem plena clareza, aliás, com muitas dúvidas, mas com o desejo de crescer na fé, de superar as próprias comodidades e convicções habituais que podem constituir uma barreira, é um peregrino.
"Quando nos movemos, de fato, não mudamos apenas de lugar, mas nos mesmos nos transformamos" (ibid.).
O caminho do peregrino se realiza de maneira pessoal, mesmo quando se está em grupo, é transformador do próprio coração e não daquele alheio, não se faz "manifestação", não se reivindicam direitos, não se querem lançar sinais, como nos comícios. Imagino, então, irmãos e irmãs homoafetivos e transgênero, que se reconhecem como minorias, em temos numéricos e sociais, porque eventualmente são vistos com desconfiança como subversores da antropologia cristã, vivenciando um momento simples, porém significativo, de oração e de pedido de Graça. É possível que o evento do próximo sábado também seja expressão do desejo natural de não ser silenciados, como filhos de um deus menor, como acidentes de percurso dos quais se envergonhar. No entanto, buscar visibilidade (outro receio generalizado) é muito diferente de ser reconhecido como existente e digno de fazer parte de uma família. E os filhos de uma família numerosa — e digo isso também por experiência pessoal — pedem para ser chamados individualmente pelo seu nome, não pelo do irmão ou da irmã. Os dois não são intercambiáveis. Identificar um dia específico na agenda do Jubileu equivale, então, a chamar irmãos e irmãs homoafetivos e transgênero com seus próprios nomes.
Vejo também outra séria oportunidade nesse dia jubilar: como comunidade crente somos solicitados a nos aproximar às vivências de pessoas homoafetivas e transgênero para tentar entender quem são esses tantos jovens e menos jovens, que riquezas trazem consigo, que singularidade os caracteriza. E poder ler na expressão de uma peregrinação o desejo da Igreja de acompanhamento, porque, como todos nós — indivíduos, casais, famílias, sacerdotes, religiosos e religiosas —, eles precisam não serem deixados a caminhar sozinhos.
O Jubileu poderia ser um terrível fracasso se não se tornasse uma ocasião especial de encontro. Encontrar rostos e histórias, para entender do que estamos falando quando nos referimos ao mundo LGBT+, o que trazem irmãs e irmãos homossexuais e transgênero, filhas e filhos homossexuais e transgênero em suas vidas. As vocações são múltiplas, os carismas variegados, as profissões são diversificadas, e essa é a riqueza da comunidade humana e cristã, a sua natureza multifacetada.
Será um Jubileu realmente único se for como um caça-talentos, um descobridor de talentos, onde não os esperaríamos.
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