Riviera de sangue: 46 mortos em Gaza na fila pelo pão

Foto: Charles Chen/Unsplash

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03 Setembro 2025

Um míssil lançado do céu sobre uma multidão aglomerada na esperança de receber um saco de farinha, uma garrafa de leite, uma lata de grão-de-bico: é o enésimo massacre de pessoas famintas na Faixa, ocorrido ontem perto da passagem de Zikim, no norte, onde a fome assola e Israel prometeu reduzir o fluxo de ajuda humanitária em preparação para o ataque final à Cidade de Gaza, último reduto do Hamas.

A reportagem é de Luca Foschi, publicada por Avvenire, 02-09-2025. A tradução é de Luisa Rabolini.

No total são 98 os habitantes de Gaza mortos nas últimas 24 horas, nove por causas ligadas à desnutrição. Sobre a catástrofe paira o espectro do plano distópico de reconstrução da Faixa, o "Trust para a Reconstrução, Aceleração Econômica e Transformação de Gaza" — ou, para usar os slogans tão caros ao presidente estadunidense Trump, o "Great Trust", apresentado pelo documento de 38 páginas revelado domingo pelo Washington Post, que transforma morte, carestias e escombros num paraíso tecnológico e financeiro, por dez anos nas mãos de uma administração fiduciária estadunidense. Os palestinos receberiam 5.000 dólares e incentivos para deixar o país voluntariamente. Em dez anos, estima o plano, o investimento inicial de 100 bilhões de dólares teria um retorno no mínimo quadruplicado. O plano foi elaborado pelos próprios israelenses da famigerada Fundação Humanitária de Gaza (GHF), que atualmente administra os centros para a distribuição de ajuda humanitária nas áreas ao sul do enclave, onde todos os dias morre pelo menos uma dúzia de pessoas. "Gaza não está à venda, é parte integrante da grande pátria palestina", respondeu secamente ontem Bassem Naim, membro do gabinete político do Hamas.

Talvez o epítome do que está acontecendo na guerra de Gaza desde 18 de agosto esteja na reunião do gabinete de segurança realizada no domingo dentro dos muros protegidos de Kirya, o Pentágono israelense: o Chefe do Estado-maior, Eyal Zamir, pediu que na ordem do dia fosse incluída e votada a proposta de cessar-fogo do Egito e Catar, aceita pelo Hamas, O texto garantiria a libertação de todos os 49 reféns. O Primeiro-Ministro Netanyahu recusou. Durante aquelas que foram descritas como seis horas tempestuosas, os ministros de extrema-direita tomaram a palavra, pedindo ao primeiro-ministro para votar para que a proposta fosse oficialmente rejeitada. Netanyahu ofereceu-lhes a mesma resposta dada a Zamir. Se as reconstruções vazadas para a imprensa israelense forem fiéis, as distâncias entre exército e executivo, e entre os ministros do partido do primeiro-ministro, o Likud, e os ministros de extrema-direita, levariam mais uma vez à tática usada no cerco da Cidade de Gaza: esmagar lentamente as últimas brigadas do Hamas e o milhão de moradores famintos até chegar a um acordo total que se assemelhe a uma rendição. Do lado de fora da Kirya, na Hostages square, os familiares dos reféns gritavam nos megafones, representando a maioria da população: "Não se levantem até que se chegue a um acordo para o retorno para casa de todos".

Também é incerto o futuro dos protestos em massa que envolveram milhões de israelenses nas últimas semanas. A Procuradora-Geral Gali Baharav-Miara informou ontem com uma nota o Ministro da Segurança Ben-Gvir que sua anunciada lei para impor às manifestações uma autorização prévia da polícia, é ilegítima. "O decreto, desprovido de uma consulta às autoridades policiais e ao Ministério Público israelense, constitui uma clara violação do documento de princípio", escreveu Beharav-Miara, afirmando ainda que a publicação da lei excederia os limites da autoridade ministerial. "A hipótese de que minha autoridade sobre esse assunto seja suspensa é absolutamente ilegal", afirmou o ministro, acrescentando que o decreto é vinculativo e alertando que, se a Procuradora-Geral não apresentar uma nova posição em 24 horas, o decreto terá efeito imediato.

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