20 Agosto 2025
A presidente da Petrobras, Magda Chambriard, defendeu na 2ª feira (18/8) a necessidade de “construir convergências” entre o esforço de redução das emissões de gases de efeito estufa e a garantia de segurança energética que, segundo ela, dependeria do petróleo. Ou seja, às vésperas da COP30, e com inúmeros estudos que há cerca de meio século comprovam a queima de combustíveis fósseis como a principal fonte de emissões e, por consequência, das mudanças climáticas, a CEO da petrolífera continua insistindo em apagar o “fogo climático” com (mais) gasolina.
A reportagem é publicada por ClimaInfo, 20-08-2025.
“A segurança energética e o Plano Clima precisam conversar”, afirmou Magda. “É possível, sim, construir convergências”, completou a executiva. A primeira versão do plano, em consulta pública até anteontem, foi questionada por não prever o afastamento do setor de petróleo e gás. Não previu, por exemplo, redução das emissões do segmento: no melhor cenário elas crescem 1% até 2035; no pior, 44%, destaca Nicola Pamplona na Folha. O plano considera o risco hidrelétrico crescente com as mudanças climáticas e oferece térmicas a gás como principal alternativa. As emissões de CO2 desta alternativa agravarão as mudanças climáticas, vale lembrar.
Mas Magda não parou por aí. Em entrevista a eixos, voltou a repetir a falácia da associação do petróleo à riqueza e ao desenvolvimento, ao se referir à exploração de combustíveis fósseis na Foz do Amazonas: “É possível dizer para a população local que eles não têm direito ao desenvolvimento?”. Se Magda visitasse algumas cidades “inundadas” com royalties do petróleo que continuam com nível de desenvolvimento baixo, talvez ficasse constrangida em fazer tal associação.
Apesar da insistência na exploração da Foz do Amazonas e outras bacias da Margem Equatorial, a queda sistemática do preço do petróleo já mexe com os planos da Petrobras. Ainda que não cite a região, Magda admitiu que a empresa está revendo seu plano de negócios considerando o barril a US$ 65, ante US$ 83 no plano anterior. Segundo a executiva, a empresa tem projetos “caros e grandes demais” que podem ser simplificados.
Um estudo do Instituto Internacional para o Desenvolvimento Sustentável (IISD), do World Benchmarking Alliance (WBA) e do WWF-Brasil mostrou que o plano de expansão da produção de combustíveis fósseis da Petrobras é ruim para o clima do planeta e péssimo negócio para a petrolífera. Se o limite do Acordo de Paris de 1,5oC for cumprido, até 56% da nova produção de petróleo do Brasil e até 85% dos projetos da Petrobras podem ser economicamente inviáveis, o que geraria um prejuízo de US$ 35 bilhões.
Em evento promovido pelo Climate Reality Project no Rio de Janeiro no fim de semana passado, o ex-vice presidente dos Estados Unidos e fundador da organização, Al Gore, lembrou o quanto o mundo está correndo risco ao explorar mais petróleo, gás e carvão, relatou Daniela Chiaretti no Valor. No evento, Phyllis Cuttino, diretora-executiva do Climate Reality Project, reforçou a importância de se definir um cronograma de abandono dos combustíveis fósseis, informa também o Valor. Mas Magda e os defensores da exploração de petróleo no Brasil “até a última gota” ignoram a urgência.
A sonda NS-42, da Petrobras, escalada para a Avaliação Pré-Operacional (APO) no bloco FZA-M-59 na Foz do Amazonas, chegou ao local da possível perfuração, no litoral do Amapá, informam Agência Brasil, g1 e eixos.
A APO é um simulado de vazamento e atendimento à fauna atingida e pode ser uma das últimas etapas do processo de licenciamento no IBAMA para o poço que a petrolífera quer perfurar na área. Segundo o órgão ambiental, a APO começará no próximo domingo (24/8).