13 Agosto 2025
Levantamento do Projeto Ar, Água e Terra aponta saldo positivo de 3.870 toneladas de dióxido de carbono.
A reportagem é publicada por Brasil de Fato, 12-08-2025.
Projeto que envolve 10 aldeias Guarani e se estende por mais de 3 mil hectares nos biomas Pampa e Mata Atlântica, no Rio Grande do Sul, demonstrou, em estudo, que ao longo de um ano capturou mais dióxido de carbono (CO₂) da atmosfera do que emitiu. Dados constam no mais recente Inventário de Emissões de Gases de Efeito Estufa (GEE) do Projeto Ar, Água e Terra, desenvolvido pelo Instituto de Estudos Culturais e Ambientais (Iecam) com patrocínio da Petrobras, por meio do Programa Petrobras Socioambiental.
Realizado com base em metodologia reconhecida internacionalmente, segundo o Programa Brasileiro GHG Protocol e as normas ISO 14064-1 e 14064-2, o levantamento consolida os dados de emissões e reduções de gases de efeito estufa do primeiro ano de execução da 4ª fase do Projeto – que terá duração total de três anos, com três inventários anuais (2024-2026). Em 2024, o total de emissões foi de 10,95 tCO₂e, com média mensal de 0,91 tCO₂e. As principais fontes de emissões estão associadas à emissão veicular, seguida de emissões relativas ao uso de adubo para as atividades de reflorestamento.
Em relação às reduções de emissões, o plantio em áreas reconvertidas ou recuperadas resultou na mitigação de 3,83 tCO₂e em 2024. Esse número pode chegar a 945 tCO₂e ao longo de 10 a 20 anos de projeto, considerando os 20,82 hectares de áreas reconvertidas e recuperadas. Nas áreas de preservação e conservação ambiental, que somam 3.145 hectares, a estimativa é de que 3.877 tCO₂e tenham sido capturadas ao longo do período analisado. A longo prazo (10-20 anos), o potencial acumulado pode atingir 42.096 tCO₂e, graças à manutenção dos estratos florestais consolidados nas Terras Indígenas.
Com isso, o Projeto Ar, Água e Terra apresenta uma redução líquida total de 3.869,97 tCO₂e no ano de 2024, resultado da diferença entre as emissões líquidas consolidadas e as remoções líquidas por reflorestamento e conservação.
Desde 2011, o projeto realiza inventários anuais de GEE como ferramenta de gestão ambiental, orientando decisões com base em dados reais. Nas fases anteriores (2011-2013 e 2017-2019), as emissões médias foram da ordem de 13 tCO₂e por ano, valor semelhante ao total de 2024. A prática sistemática reforça a consistência dos dados e evidencia a evolução das ações de mitigação ao longo do tempo.
“Mais do que números, o Inventário funciona como bússola: aponta onde estão os principais focos de emissão, orienta o planejamento de ações de mitigação e oferece credibilidade a parceiros, à patrocinadora e à sociedade”, afirma Denise Wolf, coordenadora do Projeto e presidente do Iecam. Segundo ela, a ferramenta é ainda mais estratégica diante do agravamento da crise climática e das pressões regulatórias por metas de descarbonização.
Aldeias e regiões do RS que participam da 4ª fase do Projeto Ar, Água e Terra (Fonte: Brasil de Fato).
Conforme Wolf, para os próximos anos, a perspectiva é ampliar ainda mais as áreas restauradas, fortalecer a integração entre reflorestamento, agroflorestas e segurança alimentar, e aprofundar a articulação entre o conhecimento tradicional dos povos indígenas e as práticas ambientais contemporâneas. “O Projeto Ar, Água e Terra mostra como uma ação local, com base técnica e enraizamento cultural, pode responder de forma concreta aos desafios globais da emergência climática”, destaca.