O assassinato anunciado de Anas al-Sharif e dos colegas da Al Jazeera choca o jornalismo mundial

Anas Al-Sharif | Foto: Captura de tela de vídeo publicado por Al Jazeera

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12 Agosto 2025

As organizações de imprensa internacional haviam denunciado que Israel havia colocado na mira o jornalista conhecido como a voz de Gaza. Hoje, exigem que a comunidade internacional reaja diante da matança de informantes.

A informação é de Pablo Elorduy, publicada por El Salto, 12-08-2025. 

Nem somando a Primeira Guerra Mundial e a Segunda Guerra Mundial, nem as guerras do Vietnã, do Iraque e do Afeganistão se alcança o número de jornalistas mortos registrado nos quase dois anos de campanha de extermínio desencadeada por Israel em Gaza. Duzentos e trinta e oito jornalistas foram assassinados em 22 meses de ofensiva israelense, segundo informou a Secretaria de Imprensa do Governo de Gaza em comunicado divulgado na segunda-feira. O último desses ataques ocorreu no domingo e tirou a vida dos correspondentes da Al Jazeera, Anas al-Sharif e Mohammed Qreiqeh, dos cinegrafistas Ibrahim Zaher e Moamen Aliwa e de seu assistente Mohammed Noufal. Além disso, uma criança foi morta no mesmo ataque.

O ataque, segundo constatou a organização Euro-Med Monitor, foi realizado com drones e teve como alvo a tenda de um jornalista nas proximidades do Hospital Al-Shifa. Israel reivindicou desde o início a autoria do ataque e afirmou que o alvo era Anas al-Sharif, acusado de pertencer ao Hamas. As Forças Armadas de Israel não apresentaram nenhuma evidência dessa suposta ligação com o grupo que dirige politicamente Gaza.

O jornalista, de 28 anos, era conhecido pelo apelido de voz de Gaza. Em 11 de dezembro de 2023, al-Sharif, que já havia sido alvo das FDI, sofreu o bombardeio de sua casa. Nesse ataque, seu pai morreu. Em outubro de 2024, o exército israelense publicou os nomes de al-Sharif e de outros cinco jornalistas, classificando-os como combatentes do Hamas e da Jihad Islâmica Palestina. Um desses profissionais, Hossam Shabat, foi assassinado em 24 de março de 2025. Ele tinha 24 anos. Anas al-Sharif e Mohammed Qreiqeh eram pais, cada um, de duas crianças.

As reações da maior parte do jornalismo internacional foram de rejeição absoluta e de confirmação de que o assassinato da equipe da Al Jazeera ocorreu apenas algumas horas depois de Netanyahu criticar a cobertura da mídia internacional sobre as ações de extermínio e fome cometidas pelas FDI em Gaza, que ele classificou como fake.

Em julho deste mesmo ano, o Comitê para a Proteção dos Jornalistas havia solicitado proteção para o jornalista da Al Jazeera, alertando que seu assassinato estava sendo preparado.

Repórteres sem Fronteiras condenou o assassinato extrajudicial desses jornalistas e instou a Assembleia Geral das Nações Unidas a fazer valer a proteção dos jornalistas em conflitos armados, estabelecida na chamada Resolução 2015, adotada em dezembro daquele ano.

A Associação de Imprensa Estrangeira condenou os ataques e denunciou que Israel, no passado, acusou de terroristas jornalistas que assassinou sem apresentar provas verificáveis.

O Comitê para a Proteção dos Jornalistas (CPJ, na sigla em inglês) reagiu denunciando que Israel mata os mensageiros em Gaza. Sara Qudah, diretora regional do CPJ, acrescentou um detalhe: apesar de al-Sharif estar na lista de alvos — resultado de uma difamação, explica QudahIsrael aniquilou toda uma equipe de notícias. Não afirmou que os outros jornalistas fossem terroristas. Isso é assassinato. Simples assim.

Em julho deste mesmo ano, o CPJ havia solicitado proteção para o jornalista da Al Jazeera, que alertava que seu assassinato estava sendo preparado. Estamos profundamente alarmados com as reiteradas ameaças do porta-voz do exército israelense, Avichay Adraee, contra o correspondente da Al Jazeera em Gaza, Anas al-Sharif, e fazemos um apelo à comunidade internacional para que o proteja, explicou Qudah há apenas duas semanas.

Por sua vez, o Sindicato de Jornalistas Palestinos pediu à comunidade internacional que ofereça proteção às pessoas que trabalham informando a partir de Gaza, embora tenha afirmado também que não deixaremos de cobrir a guerra e de expor a ocupação a toda a comunidade internacional.

O enterro dos trabalhadores da Al Jazeera foi um ato de reivindicação e luto na Gaza sitiada. Centenas de pessoas acompanharam os caixões no cortejo que ocorreu em 11 de agosto até o cemitério de Sheikh Radwan, na Cidade de Gaza.

O Mondoweiss recolheu o testemunho de Muhammad Qeqa, outro jornalista que sobreviveu ao assassinato nas proximidades do Hospital Al Shifa. Qeqa estava a apenas quatro metros da tenda da Al Jazeera, em sua própria tenda: Vi o corpo de Anas voar para fora da tenda quando a bomba caiu. Afastei-me, porque o fogo era insuportável. Depois voltei rapidamente e encontrei os corpos de Muhammad e Anas queimando vivos, relatou ao meio.

Foto: Anadolu Agency

No entanto, nem todo o jornalismo reagiu de forma unânime a esses últimos assassinatos. O veículo alemão Bild, parte do conglomerado Axel Springer, por sua vez pertencente ao fundo pró-Israel KKR, publicou inicialmente a notícia com o título Terrorista disfarçado de jornalista, assassinado em Gaza, para posteriormente alterá-lo para Jornalista assassinado, diz-se que era terrorista.

Quando se completam um ano e dez meses do início da campanha de extermínio de Israel em Gaza, o número de vítimas fatais chega a 61.499 pessoas. Outras 153.575 ficaram feridas desde 7 de outubro de 2023. Duzentas e vinte e duas pessoas, incluindo 101 menores, morreram de inanição.

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