08 Agosto 2025
Meta bane comunicador pernambucano de suas plataformas, sem aviso nem direito de recorrer. Atitude mostra a hipocrisia das corporações: defendem liberdade de expressão para escapar da regulamentação, mas agem como “censores digitais”, especialmente contra o campo democrático.
A reportagem é de Rôney Rodrigues, publicada por Outras Palavras, 07-08-2025.
“Eu não acredito em coincidências na luta política”, diz Jones Manoel, após sofrer rasteira suja de uma das big techs. A Meta baniu o comunicador pernambucano de duas de suas plataformas, o Instagram e o Facebook, informando que não oferecerá “sequer a possibilidade de recurso administrativo, em flagrante violação ao princípio do devido processo, cuja aplicação às decisões de plataforma digitais foi recentemente afirmada pelo Supremo Tribunal Federal”, explica a equipe jurídica que representa o ativista, em nota a imprensa e sociedade.
“A Meta não enviou nada, nenhum aviso sobre conteúdo sensível, violação de regras, absolutamente nada! Disse que minhas contas estavam banidas e acabou o assunto”, indigna-se Jones. Realmente, é difícil acreditar em coincidências ao tratar de uma corporação cujos algoritmos tendem a priorizar conteúdos extremistas. Complacente com perfis que propagam discurso de ódio ou desinformação. Que faz lobby pesado em Brasília para evitar a regulamentação das big techs e cujo CEO, Mark Zuckerberg, está alinhado com a extrema-direita de Donald Trump. E, mais coincidência ainda, que o alvo seja um cara que, em tempos de discursos de “conciliação”, defende intransigentemente o fortalecimento do pensamento marxista no Brasil, promove em seus canais debates relevantes sobre a crise brasileira, agita as redes sociais ao demolir o pensamento rasteiro de “influencers conservadores” e se projetou como importante voz da esquerda no país.
Jones explica os motivos de sua desconfiança de censura: sua comunicação digital estava num processo de crescimento robusto. Há semanas, o canal do YouTube, o Farol Brasil, superou a marca de meio milhão de inscritos e caminhava numa velocidade de 5 mil novos seguidores por dia. O perfil no Instagram havia batido a marca de um milhão de seguidores — nos últimos dias, eram 25 mil novos por dia. A busca pelo seu nome no Google crescia também, “furando bolhas”, muito mais do que quando ele começou a militância política, deu entrevista ao Caetano Veloso, em 2020, no canal da Mídia Ninja, e se candidatou a governador de Pernambuco, em 2022.
“Considerando as figuras da esquerda brasileira no sentido mais amplo, se você considerar que eu não tenho mandato parlamentar, não sou secretário, não sou ministro, eu estava caminhando para ser uma das figuras de maior alcance digital no marxismo brasileiro”, afirma ele. “Neste momento, acontece a derrubada das contas, então acho que não dá para pensar que seja coincidência, não”.
Jones dará entrevista, nesta noite, ao Flow, um dos maiores podcasts do Brasil, e tinha a expectativa, com sua equipe de comunicação, de que até domingo bateria 1,5 milhão de seguidores no Instagram. Mas veio o golpe da Meta…
Diante da recusa da plataforma em garantir um mínimo de transparência, Jones Manoel garante que buscará o Poder Judiciário para reparar os danos sofridos e derrubar a arbitrariedade. E, sobretudo, agirá politicamente para denunciar como plataformas, muitas vezes, operam como “censores digitais”.
“Agora é o momento de fazer pressão política e atuar na frente jurídica para reverter essa decisão absurda da Meta, que faz com que a gente questione ainda mais o compromisso retórico dessas big techs com a liberdade de expressão”, explica o comunicador. “Esse exemplo prático evidencia o quanto essa defesa da liberdade de expressão não passa de uma ideologia para proteger interesses corporativos e privatistas”.