07 Agosto 2025
Para algumas Igrejas nos Estados Unidos, o medo de rusgas policiais em busca de imigrantes forçou mudanças fundamentais no seu funcionamento. O bispo de San Bernardino suspendeu formalmente a obrigação dos católicos comparecerem à missa preocupado com as ações da polícia de imigração (a ICE), no que foi seguido, embora de modo menos formalizado, pela Diocese de Nashville.
A reportagem é publicada por 7 Margens, 05-08-2025.
Rodrigo Cruz, assistente executivo das conferências anuais da Igreja Metodista Unida do Norte e do Sul da Geórgia, disse à agência de notícias Religion On News que a ampla atividade da ICE no seu Estado levou as congregações a regressarem às estratégias de culto da era da pandemia — cultos online ou pequenas reuniões —, já que as famílias em risco deram prioridade à sua segurança em detrimento do culto comunitário.
Este é um sentimento partilhado por um número crescente de líderes religiosos e pelas comunidades que eles servem, já que o presidente Donald Trump concretizou uma repressão massiva à imigração nos últimos meses, de que resultaram milhares de detenções e deportações em todo o país. Para muitas congregações com grande concentração de imigrantes, o risco foi ampliado pela decisão do governo de rescindir uma política interna de longa data do Governo de evitar invasões de imigração em “locais sensíveis”, como locais de culto.
Tanya Lopez, pastora da Igreja Cristã Memorial Downey, perto de Los Angeles, Califórnia, relatou à Religion On News: “em junho tive de confrontar agentes mascarados no estacionamento de sua igreja para tentar evitar que levassem uma pessoa que era arrastada pelos supostos agentes federais de imigração, embora eles se recusassem a identificar para que agência trabalhavam”. Mas o que mais a abalou foi o facto de “os agentes se sentirem confortáveis em prender um homem na propriedade da igreja e apontarem uma arma a quem se identificara como pastora”. “Isto é, na minha opinião, terrorismo doméstico. Não me sinto segura” — concluiu Lopez
A Religion On News de 5 de agosto publicou um vasto trabalho em que identificou, desde a tomada de posse do Presidente Trump, pelo menos 10 casos de aparente atividade de fiscalização imigratória conduzida pela ICE, ou por outros agentes federais em terrenos de igrejas, ou nas suas imediações. Responsáveis federais recusaram-se repetidamente a confirmar se muitos desses incidentes — perpetrados por homens uniformizados e mascarados que às vezes não identificam para que agência trabalham — foram operações sancionadas pelo Governo.
Os episódios referidos pelo Religion On News envolvem igrejas católicas, evangélicas, batistas cooperativas e igrejas cristãs tradicionais. Todos eles aconteceram apesar dos quatro processos diferentes envolvendo dezenas de denominações e grupos religiosos movidos contra o governo Trump, argumentando que qualquer fiscalização em terrenos de igrejas viola o direito à liberdade de culto e prejudica a sua capacidade para servir os necessitados.
O atual governo, de acordo com o artigo da Religion On News, inicialmente negou que as buscas da ICE tivessem sido realizadas em locais de culto. Mas, na semana passada, Tricia McLaughlin, alta responsável no Departamento do Interior, reconheceu àquela agência de notícias que alguns incidentes ocorreram, acrescentando: “Esperamos que sejam extremamente raros”.
Contudo, escreve a Religion On News, “os líderes religiosos não os consideram assim tão raros”. Só a diocese católica de San Bernardino relatou pelo menos dois casos que tiveram lugar em junho. Uma situação semelhante ocorreu no estado de Washington em março, quando um homem teria sido preso no estacionamento de uma igreja ao sair do culto com sua família.
Os agentes às vezes são confrontados pelo clero, mas líderes religiosos dizem que eles muitas vezes não se comovem com seus apelos. A pastora Lopez, que filmou os homens mascarados em ação, disse que um agente teria dito a um outro pastor: “O país inteiro é nossa propriedade”.