01 Agosto 2025
A Secretaria de Tesouro dos Estados Unidos (EUA) procurou o Ministério da Fazenda para marcar uma agenda para debater o tarifaço imposto pelo governo de Donald Trump contra parte das exportações brasileiras. Ainda não há data para reunião. O último encontro entre a Fazenda e o secretário de Tesouro dos EUA, Scott Bessent, foi em maio, antes do anúncio da tarifa de 50%.
A reportagem é de Lucas Pordeus León, publicada por Agência Brasil, 31-07-2025.
“A assessoria do secretário Bessent fez contato conosco ontem [quarta-feira, 30] e, finalmente, vai agendar uma segunda conversa. A primeira, como eu havia adiantado, foi em maio, na Califórnia. Haverá agora uma rodada de negociações e vamos levar às autoridades americanas nosso ponto de vista”, disse nesta quinta-feira (31) o ministro Fernando Haddad.
O ministro destacou que é apenas o ponto de partida das negociações.
“Nós estamos em um ponto de partida mais favorável do que se imaginava. Mas longe do ponto de chegada. Há muita injustiça nas medidas que foram anunciadas ontem”, esclareceu Haddad.
Cerca de 700 produtos ficaram de fora da lista do tarifaço de 50% contra o Brasil. Segundo estimativas, 43% dos valores exportados para os Estados Unidos ficaram de fora do tarifaço. No setor mineral, cerca de 25% dos produtos foram taxados.
Plano de contingência
Apesar das exceções, Haddad disse que o impacto é dramático para alguns setores, e que nos próximos dias o governo vai divulgar medidas para auxiliar essas empresas prejudicadas pelas tarifas.
“Há casos que são dramáticos, que deveriam ser considerados imediatamente. Nós vamos lançar parte do nosso plano previsto para ser lançado nos próximos dias de apoio e proteção à indústria e aos empregos”, disse.
O pacote de ajuda aos setores afetados deve contar com linhas de crédito e apoio às empresas. Haddad disse que está aliviado pelos setores que foram poupados, mas que é preciso proteger aqueles que ainda são afetados, em especial, os setores menores e mais frágeis.
“Tem setores que, na pauta de exportação, não são significativos, mas o efeito sobre eles é muito grande. Às vezes, o setor é pequeno, mas é importante para o Brasil manter os empregos”, explicou.
Mesmo setores grandes, de importantes matérias-primas [commodities], que têm mercado global, vão precisar se adaptar, avaliou o ministro.
“Obviamente, tem setores afetados cuja solução de curto prazo é mais fácil porque se trata de uma commodity que o Brasil tem muitos mercados abertos, mas, ainda esses, vão exigir algum tempo de adaptação. Você não muda um contrato de uma hora para outra. Temos que analisar caso a caso e vamos ter as linhas [de crédito] para isso”, disse.
Interferência
O ministro da Fazenda, Fernando Haddad, reafirmou ainda que a tentativa de interferir no julgamento da tentativa de golpe de Estado no Supremo Tribunal Federal (STF) não pode entrar na mesa de negociação, até porque o Judiciário é um poder independente do Executivo.
“Talvez o Brasil seja uma das democracias mais amplas do mundo, ao contrário do que a Ordem Executiva [do Trump] faz crer. Nós temos que explicar que a perseguição ao ministro da Suprema Corte [Alexandre de Moraes] não é o caminho de aproximação entre os dois países”, afirmou.
Leia mais
- A economia global prende a respiração enquanto a (nova) guerra comercial de Donald Trump começa
- Taxação de Trump expõe fracasso da extrema direita: ‘Resultado final humilha Eduardo Bolsonaro’
- Brasil confronta Trump na OMC sobre uso político de tarifas
- Trump ameaça mais de 145 mil empregos no RS para salvar família Bolsonaro e ajudar Big Techs
- Os próximos passos do tarifaço de Trump. Artigo de Paulo Kliass
- A agressão de Washington e a questão nacional. Artigo de Paulo Kliass
- Trump, o tarifaço e a política brasileira em aberto. Artigo de Jean Marc von der Weid
- Soberania, o agro e o golpismo antipatriótico. Artigo de Gabriel Vilardi
- Trump, Bolsonaro e crise de hegemonia, essa esquecida. Artigo de Luiz Carlos De Oliveira e Silva
- O que diz a lei contra tarifaço de Trump sancionada por Lula
- Trump impõe tarifaço ao Brasil em apoio a Bolsonaro
- Trump usa o poder dos EUA por meio de tarifas para influenciar a política interna do Brasil em favor de seu amigo Bolsonaro
- Soberania, o agro e o golpismo antipatriótico. Artigo de Gabriel Vilardi
- Jornal francês chama Trump de "mafioso internacional" por "interferência explícita" na política brasileira
- A cronologia dos laços entre o trumpismo e o bolsonarismo
- O que diz a lei contra tarifaço de Trump sancionada por Lula
- Quais são as tarifas de Trump atualmente em vigor
- Por que Donald Trump tem tanto medo do Brics?