31 Julho 2025
A incerteza reina nas horas que antecedem o prazo final dado pelo presidente dos EUA para a imposição de suas tarifas, que expira nesta sexta-feira.
A informação é de Iker Seisdedos, publicada por El País, 31-07-2025.
O mundo — e a imprensa — perdeu a conta de quantas vezes a guerra comercial de Donald Trump esteve prestes a começar. Mas desta vez, diz o presidente, ele está falando sério. "O prazo de 1º de agosto é o prazo de 1º de agosto", declarou ele nesta quarta-feira — talvez em homenagem a Gertrude Stein ("uma rosa é uma rosa é uma rosa"). Ele o fez em uma mensagem em sua plataforma de mídia social, Truth Social, escrita toda em letras maiúsculas. "[O prazo] permanece firme e não será prorrogado. [Será] um grande dia para a América!"
Então, se ele não mudar de ideia, as tarifas que Washington impôs unilateralmente a dezenas de países desde que o republicano retornou à Casa Branca com seus planos de reverter a globalização que a maior potência mundial instigou por décadas para seu próprio benefício entrarão em vigor na sexta-feira.
O que exatamente acontecerá em 1º de agosto é, no entanto, uma questão repleta de mistérios não resolvidos, já que as negociações em andamento prosseguem contra o relógio. O próprio Trump alertou que sua equipe estava "muito ocupada na Casa Branca trabalhando em acordos comerciais" na quarta-feira. "Conversei com líderes de muitos países, e todos desejam que os Estados Unidos fiquem extremamente satisfeitos", escreveu ele.
No fim da tarde, ele anunciou um pacto com a Coreia do Sul, a décima terceira maior economia do mundo, segundo o qual Seul pagará tarifas de 15% sobre suas exportações para os Estados Unidos, além de se comprometer com outros investimentos. O residente da Casa Branca também compartilhou que havia acabado de assinar um acordo com o Paquistão "para desenvolver suas vastas reservas de petróleo". Ele não forneceu mais detalhes sobre o pacto.
Em meio a todas essas reviravoltas, com tanta informação faltando sobre tantas questões específicas, uma coisa parece clara: correndo o risco de tudo mudar novamente — ou de outro adiamento de última hora — os países estão divididos em três grupos.
Há aqueles que chegaram aos seus acordos comerciais, ou melhor, aos princípios dos acordos comerciais, nestes quase 120 dias; esses, como o Reino Unido, o Japão, a Indonésia e a União Europeia, sabem o que estão enfrentando e só precisam, e isso não é pouca coisa, finalizar os detalhes desses pactos.
O segundo grupo inclui parceiros que receberam ameaças específicas, seja quando Trump lançou sua campanha de tarifas por carta no início de julho, ou após anúncios específicos do presidente dos EUA, o último dos quais ocorreu nesta quarta-feira com a Índia (tarifas de 25%).
No terceiro grupo estão os parceiros menores com os quais os Estados Unidos não têm tempo nem urgência para negociar: eles estarão sujeitos a uma taxa universal, que Trump afirmou vagamente ser de pelo menos 15%.
Segundo o Goldman Sachs, esses dois últimos grupos representam 52% das importações dos EUA e incluem dois dos maiores parceiros comerciais: México e Canadá. Ambos enfrentam tarifas de 30% e 35%, respectivamente, para produtos não incluídos no USMCA, o acordo de livre comércio da América do Norte cuja renegociação está pendente. Os negociadores mexicanos estão confiantes, segundo fontes diplomáticas em Washington, de que um pacto poderá ser anunciado antes do prazo final de sexta-feira.
Essas fontes também dizem que tudo depende, como quase sempre, da aprovação final de Trump, que também pode ordenar um adiamento para esse caso específico, como esperam as autoridades americanas que lideram as negociações com Pequim, que o presidente dos EUA fará com a China.
Após dois dias de intensas negociações em Estocolmo, na Suécia, as duas potências parecem dispostas a continuar dialogando antes de embarcarem em uma guerra tarifária cruzada como a que, em abril, viu os Estados Unidos imporem uma tarifa de 145% à China e a China impor uma tarifa de 125% aos Estados Unidos. Esses números foram arquivados após uma rodada de negociações em Genebra (30% contra 10%). O secretário do Tesouro, Scott Bessent, tinha uma reunião marcada com Trump nesta quarta-feira para convencê-lo dos méritos de um adiamento.
A tarifa universal de 15% que Trump está ameaçando desta vez é 5% maior do que o valor definido depois que o presidente dos EUA anunciou, em 2 de abril, no gramado da Casa Branca com um enorme pedaço de papelão nas mãos, tarifas erroneamente chamadas de "recíprocas" para dezenas de países, variando de 49% para o Camboja a 20% para a UE.
Poucos dias depois, ele reduziu a taxa para 10% e deu 90 dias para negociar, prazo que deveria expirar em 9 de julho, mas que ele próprio estendeu para 1º de agosto. Essas idas e vindas lhe renderam o apelido de "TACO", sigla em inglês para "Trump Always Chickens Out" (Trump sempre amarela). É um apelido irritante, e talvez seja por isso que ele insiste tanto que, desta vez, não pretende recuar.
Após perder o prazo de 9 de julho, Trump começou a enviar cartas a pelo menos 25 parceiros comerciais com tarifas que variam de 20% a 50%, valor que o Brasil considerou por razões não comerciais, dado que o equilíbrio entre os dois países é, desta vez, favorável aos Estados Unidos. O país ibero-americano viu suas tarifas quintuplicadas como medida de pressão do presidente americano para libertar seu amigo, o ex-presidente Jair Bolsonaro, da prisão em seu julgamento por conspiração golpista. Nesta quarta-feira, essa ameaça de 50% se tornou realidade com um decreto assinado por Trump, que inclui exceções para algumas empresas (como a aeronáutica Embraer) e certos setores: silício, estanho, celulose e metais preciosos, entre outros.
Produtores de alumínio, aço e cobre estão em uma categoria separada. Esses três setores, assim como o cobre, sofrerão ou sofrerão, a partir de 1º de agosto, tarifas de 50%, independentemente dos acordos com cada país. Automóveis e seus componentes também estão isentos e estarão sujeitos a uma taxa de 25%, exceto nos casos do Japão e da UE, cujos fabricantes se beneficiarão de uma tarifa menor: os 15% acordados para todos os outros produtos.
Tanto para Tóquio quanto para Bruxelas, uma nova fase começa neste 1º de agosto: finalizar os detalhes dos acordos firmados, muitas vezes em termos muito vagos, se não quase impossíveis de cumprir. É o caso do ponto segundo o qual a UE se compromete a comprar US$ 750 bilhões em energia dos EUA e investir US$ 600 bilhões nos Estados Unidos até 2028, segundo a Casa Branca. Esse investimento não é vinculativo para os Estados-membros ou empresas da UE, visto que, segundo a Comissão Europeia, há apenas um "interesse em investir". Quanto às compras de energia previstas no acordo, analistas dizem que elas são irrealistas: a UE não pode obrigar os Estados-membros ou as empresas a realizá-las.
Outros parceiros que firmaram seus respectivos pactos (oito no total: além da trégua com a China e dos casos já mencionados da UE, Japão, Coreia do Sul e Paquistão, há o Reino Unido, Vietnã, Indonésia e Filipinas) não sabem a quem recorrer. O caso mais marcante é o do Vietnã. Trump anunciou um acordo em 2 de julho, que prevê uma tarifa de 20% sobre todas as importações de Hanói, em troca da "abertura comercial do país asiático ao comércio com os EUA". Desde então, ninguém viu um único documento sobre esse pacto. Nem mesmo o próprio Bessent.
Nesta terça-feira, em entrevista à CNBC, ele afirmou que presumia que o documento existia e que acreditava que Jamieson Greer, representante comercial americano, "deve tê-lo em algum lugar". Essas declarações confirmaram o que o mundo, mais uma vez prendendo a respiração diante das tarifas de Trump, já sabia: se algo define a política comercial do presidente americano, não importa quantos triunfos ele tenha conseguido, é caos e volatilidade.