30 Julho 2025
A reportagem é de Luis Miguel Modino e Emmanuel Grieco Nascimento Barroso, publicada por Religión Digital, 29-07-2025.
A violência contra os povos indígenas é uma constante na história do Brasil. São inúmeros os atos de violência e violações cometidos contra os povos indígenas no Brasil. Essas situações estão registradas no Relatório sobre a Violência contra os Povos Indígenas no Brasil, elaborado pelo Conselho Indigenista Missionário (CIMI), que apresentou os dados de 2024 em 28 de julho, na sede da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB).
O relatório, que descreve os diferentes tipos de violência e seus responsáveis, é dividido em três seções: violência contra o patrimônio indígena, violência contra a pessoa e violência por omissão. O Cardeal Leonardo Steiner, Arcebispo de Manaus e presidente do CIMI, e lideranças indígenas de todo o país participaram do lançamento. O cacique Felipe Mura, do Amazonas, denunciou veementemente as ações da empresa Potássio de Brasil na região de Autazes. O cacique Alvair Pataxó, da Terra Indígena (TI) Barra Velha, na Bahia; e Ifigênia Hirto, liderança Guarani Kaiowá, da TI Panambi Lagoa Rica, no Mato Grosso do Sul, destacaram a resiliência das mulheres mesmo diante de constantes confrontos, ameaças e intimidações. Roberto Antonio Liebgott, um dos organizadores do relatório, também se pronunciaram.
Cardeal Steiner, presidente do Conselho Missionário Indígena (Foto: Captura de tela)
A apresentação do Relatório de 2024 é "um momento importante para o CIMI, mas especialmente para os povos indígenas", segundo o Cardeal Steiner, que observou que o processo vem sendo preparado há muitos anos. O presidente do CIMI expressou sua gratidão pela presença dos povos indígenas e missionários desta organização, bem como do secretário da CNBB, Monsenhor Ricardo Hoepers, enfatizando que "somos uma expressão da Igreja no Brasil que deseja viver o Evangelho, estar ao lado dos mais necessitados".
Um relatório que "é uma oportunidade para tornar visível o lento extermínio dos povos indígenas", não tanto em "número de pessoas, mas em termos de culturas, línguas e presença dos primeiros habitantes, é uma continuação de 1500 até os dias atuais", nas palavras de Steiner. Um extermínio que não aparece nos livros de história, que não registram que muitos dos povos imaginários não existem mais.
Para o presidente do Cimi, durante a luta dos povos indígenas, "eles foram assassinados, desapareceram", ressaltando que a luta continua até hoje "seja nas praças de Brasília, nas aldeias, onde for, sempre lembrando quem eles são e lembrando dos direitos constitucionais que eles têm".
Povos indígenas no lançamento do relatório (Foto: Captura de tela)
Um relatório que, segundo Steiner, é mais uma ferramenta que "nos ajuda a conscientizar a sociedade brasileira, especialmente em relação ao Marco Temporal", lei que cerceia decisivamente os direitos indígenas em relação ao reconhecimento de seus territórios ancestrais. Ao mesmo tempo, o relatório "nos ajuda, como CIMI, a continuar servindo para que nossos irmãos e irmãs indígenas, os povos originários, vejam seus direitos, seus direitos constitucionais, respeitados e tenham um lar, seu espaço, seu lugar. Se continuarmos como estamos, não daremos chance a tantas pequenas comunidades que existem; aquelas que chamamos de comunidades isoladas voluntariamente desaparecerão", enfatizou o cardeal.
Um relatório que é fruto do trabalho e do esforço de muitas pessoas, como reconheceu o presidente do CIMI, que "é um registro da história, torna-se um documento". O conteúdo do texto, assim como os anteriores, será enviado ao Papa, "que é profundamente sensível à questão indígena e fala fluentemente a língua do povo quéchua com o qual trabalhou", para que compreenda "nossas necessidades e nos ajude com suas orações, mas também com seu testemunho e suas palavras", disse Steiner.
Em relação ao Marco Temporal, que entrou em vigor em 2024, as restrições impostas causaram um atraso ainda maior na demarcação de terras indígenas e, consequentemente, um aumento nos conflitos territoriais. Por esse motivo, 2024 também foi um ano marcado pela violência contra comunidades indígenas que lutam por terras.
O Relatório reflete sobre as ameaças aos povos indígenas em isolamento voluntário no Brasil, destacando o racismo contra os povos indígenas, a política indigenista brasileira sob uma perspectiva orçamentária e a luta por justiça, os direitos indígenas no sistema de justiça criminal e a luta por justiça, memória e verdade sobre as violações dos direitos dos povos indígenas.