29 Julho 2025
Autoridades israelenses devem permitir a entrada imediata de alimentos e suprimentos de ajuda humanitária em larga escala.
A informação é da assessoria de imprensa do Médico Sem Fronteiras (MSF), 27-07-2025.
O uso deliberado da fome como arma de guerra pelas autoridades israelenses em Gaza atingiu níveis sem precedentes, com pacientes e profissionais de saúde lutando para sobreviver, alerta Médicos Sem Fronteiras (MSF).
As equipes de MSF têm recebido um número crescente de pacientes desnutridos em nossas clínicas, enquanto os próprios funcionários lutam para encontrar comida suficiente. Na semana passada, exames realizados nas instalações da organização em crianças de seis meses a cinco anos e mulheres grávidas e lactantes revelaram que 25% estavam desnutridas. Na clínica de MSF na cidade de Gaza, o número de pacientes diagnosticados com desnutrição quadruplicou desde 18 de maio. Apenas nas últimas duas semanas, os casos de desnutrição grave em crianças menores de cinco anos triplicaram.
Não se trata apenas da fome – trata-se da fome deliberada, causada pelas autoridades israelenses. O uso de alimentos como arma de guerra para exercer pressão sobre a população civil não deve ser normalizado. As autoridades israelenses devem permitir a entrada de comida e suprimentos de ajuda humanitária em Gaza em larga escala.
“Vemos as terríveis consequências dessa escassez em Gaza diariamente em nossa clínica”, diz Caroline Willemen, coordenadora da clínica de MSF na cidade de Gaza. “Estamos registrando 25 novos pacientes por dia com desnutrição. Vemos a exaustão e a fome em nossos próprios colegas”.
Enquanto isso, os ataques continuam a atingir pontos de distribuição de alimentos. O esquema de distribuição conduzido por Israel, por meio da Fundação Humanitária de Gaza (GHF – sigla em inglês), já matou centenas de pessoas que buscavam ajuda desesperadamente.
“O que estamos vendo é inconcebível: uma população inteira sendo deliberadamente privada de comida e água, enquanto as forças israelenses cometem massacres diários contra pessoas que lutam por restos de comida nos locais de distribuição. Qualquer resquício de dignidade que existia em Gaza foi destruído no genocídio em curso”, diz Amande Bazerolle, chefe da resposta de emergência de MSF em Gaza.
Nos últimos dois meses, mais de mil pessoas foram mortas e mais de 7.200 ficaram feridas, segundo o Ministério da Saúde, enquanto tentavam coletar comida — muitas delas nos pontos de distribuição da Fundação Humanitária de Gaza, apoiada e financiada pelo governo dos EUA. Apesar de esses locais terem sido criados para evitar o desvio de ajuda, eles não tem sido efetivos para reduzir a ocorrência de saques.
“Essas distribuições de alimentos não são ajuda humanitária, são crimes de guerra cometidos em plena luz do dia e apresentados ao mundo com uma linguagem compassiva. Aqueles que comparecem às distribuições de alimentos da Fundação Humanitária de Gaza sabem que têm a mesma chance de receber um saco de farinha quanto de sair com uma bala na cabeça”, afirma o Dr. Mohammed Abu Mughaisib, coordenador médico-adjunto de MSF em Gaza.
Além dos feridos nos locais de trabalho da Fundação Humanitária de Gaza, nossas equipes trataram dezenas de pacientes vítimas de massacres recorrentes cometidos pelas forças israelenses enquanto aguardam a chegada da farinha nos caminhões que passam.
“Há alguns dias, dezenas de pessoas chegaram mortas e feridas ao pronto-socorro da clínica Sheikh Radwan”, diz Willeman. “Eram pessoas que se aproximaram de caminhões para receber farinha e foram impiedosamente alvejadas pelas forças israelenses."
Naquele dia, equipes médicas de MSF e do Ministério da Saúde trataram 122 pessoas com ferimentos a bala, após terem sido atingidas enquanto esperavam por farinha. Outras 46 pessoas morreram ao chegar na clínica no norte de Gaza.
Para piorar a situação, na última semana, as cozinhas comunitárias que fornecem alimentos a pacientes e equipes médicas nos hospitais enfrentam dificuldades —algumas chegaram a fechar por dias seguidos. Mesmo quando conseguem funcionar, oferecem apenas uma refeição diária de arroz puro a pacientes que precisam de alimentos ricos em nutrientes para se recuperar. Muitas vezes, não há nada disponível sequer para os profissionais de saúde. Não se trata mais do que as pessoas podem pagar. Quase não há comida disponível na maior parte da Faixa de Gaza.