25 Julho 2025
O bispo de Hildesheim, dom Heiner Wilmer, está aproveitando o aniversário de um importante documento da Igreja como oportunidade para enfatizar o papel político do cristianismo. Em uma declaração que marcou o 1.700º aniversário da conclusão do Concílio de Niceia, ele declarou: "O Credo Niceno é uma clara rejeição a todos os governantes seculares que se autodenominam divinos".
A reportagem é publicada por Katholisch, 24-07-2025.
O presidente da Comissão para Assuntos Sociais e Societais da Conferência Episcopal Alemã (DBK) escreveu ainda que o documento declara inequivocamente: "Só um é o verdadeiro Deus – e este não é o imperador, nem o poderoso". A mensagem do cristianismo é sempre política porque toma partido: "a favor daqueles que não têm voz, a favor dos oprimidos, dos pobres, dos marginalizados". Ela desempodera os poderosos e exalta os humildes. "Aqueles que creem em Cristo não podem permanecer em silêncio diante da injustiça", enfatizou o bispo.
Assim como há 1.700 anos, a Igreja vive hoje em um campo de tensão entre fé e política. Wilmer explicou que a confissão formulada naquela época continua sendo o fundamento comum de quase todas as igrejas cristãs hoje — sejam elas católicas, sejam elas ortodoxas ou protestantes: "Em tempos de divisões e diferenças, isso nos lembra da profunda unidade que nos une".
Um meio
O cristianismo percorreu muitos caminhos, mas o Concílio de Niceia nos lembra que existe um centro unificador: "Cristo, Deus verdadeiro, vindo do Deus verdadeiro". Assim, segundo Wilmer, Niceia não é o passado: "É o presente. E o futuro".
Na primavera de 325, cerca de 300 bispos se reuniram em Niceia (hoje Iznik, na Turquia) para discutir questões prementes de sua fé. "O concílio marcou uma resistência resoluta contra a fragmentação da Igreja, um cristianismo diluído e a instrumentalização política", lembrou Wilmer. Abordou a questão central do cristianismo: Quem é Jesus Cristo?
Mas o Concílio de Niceia não moldou apenas a teologia até hoje. Foi também um evento político. "O Imperador Constantino convocou o concílio porque reconheceu que a unidade do império também exigia a unidade da Igreja". Seu interesse era pragmático e sua influência sobre a Igreja foi enorme. Assim, o primeiro concílio cristão moldou a relação entre Igreja e Estado, entre fé e política.
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