25 Julho 2025
A intervenção do Cardeal Pietro Parolin ocorreu após o telefonema do primeiro-ministro Benjamin Netanyahu a Leão XIV. E foi claramente acordada palavra por palavra com o Pontífice.
A informação é de Massimo Franco, publicado por Corriere della Sera, de 21-07-2025. A tradução é de Luisa Rabolini.
Não só confirma que aquele telefonema não é suficiente para apagar o que aconteceu nos últimos dias e meses. Marca também a recuperação da Secretaria de Estado do Vaticano como coração do governo da Santa Sé após os anos turbulentos de Francisco. E confirma uma leitura compartilhada e coordenada da estratégia para o Oriente Médio. Nos últimos dias, prevaleceu a convicção de que a Roma papal deveria emitir um juízo claro e duro após o bombardeio israelense à Igreja Cristã da Sagrada Família em Gaza.
Percebe-se por trás o receio não apenas de que o governo de Jerusalém aumente a tentação dos setores mais extremistas de atacar os cristãos como elemento de moderação. O pesadelo inconfessável é que os massacres e as retaliações tornem o Oriente Médio o potencial epicentro de uma Terceira Guerra Mundial: uma guerra que, além de matar milhares de civis inocentes, também estaria destinada a romper o diálogo religioso. A eleição de um papa estadunidense levou à convicção em Israel de que sua história poderia ser um elemento em condições de mudar sensivelmente a atitude da Santa Sé. Mas a tomada de posição de Parolin informa que isso só pode acontecer se a orientação de Netanyahu também mudar.
É como se a diplomacia do Vaticano estivesse saindo de um longo período de afasia, impulsionada por um Papa determinado a compartilhar e promover uma ação e presença mais incisivas. Sem silêncios. Sem iniciativas improvisadas. E sem aquela "ambiguidade linguística" que enfureceu o governo israelense após o massacre perpetrado pelo Hamas em 7 de outubro de 2023, que matou mais de 1.200 civis e fez 250 reféns. Foi um dos momentos mais críticos nas relações entre Jerusalém e Roma. Mas, desta vez, os papéis parecem estar invertidos. A irritação é do Vaticano, que há um ano e meio lembra de estar aguardando os resultados de uma investigação sobre duas cristãs mortas por um atirador justamente na paróquia em Gaza. E agora registra o bombardeio daquela igreja, com mais vítimas.
Até aquele ataque, os descontentamentos estavam contidos; soterrado som o receio de reacender as tensões e exacerbar os contrastes. Mas se o pontificado de Robert Prevost for diferente daquele de Jorge Mario Bergoglio, isso não impedirá a Santa Sé de expressar um juízo claro sobre os massacres cometidos pelo exército israelense. Para o Vaticano, era impossível não tomar essa atitude. Tratava-se de evitar que para amplos setores do mundo católico, já vítimas da propaganda "pacifista" pró-Rússia em relação à Ucrânia, a prudência da Santa Sé em relação a Gaza fosse percebida como reticência. Mas a outra questão, extremamente delicada, é evitar que a hostilidade generalizada contra Netanyahu alimente não apenas o sentimento anti-israelense, mas antissemita, dentro desse mesmo mundo católico.
Naquele país, as relações entre Israel e os líderes de outras religiões sempre foram difíceis, porque a população cristã é majoritariamente árabe e palestina. Mas, nos últimos meses, a situação se tornou insustentável até mesmo para um cardeal inclinado ao diálogo como o Patriarca Latino de Jerusalém, Gianbattista Pizzaballa, em missão em Gaza após o ataque à igreja do Padre Gabriel Romanelli, que também ficou ferido. O ‘basta’ do Vaticano ocorre nesse contexto, em que a espiral do conflito parece cada vez menos governável. E dentro da própria sociedade israelense, o desejo de erradicar o Hamas e a exasperação pelos últimos reféns mantidos pelos terroristas em Gaza dividem apoiadores e adversários do governo.
A tomada de posição de Parolin busca quebrar essa espiral. Visa interromper um diálogo contaminado. E visa induzir o governo de Jerusalém a entender que, se até mesmo o Vaticano é forçado a levantar a voz, não há mais álibis para escapar da exigência e urgência de uma trégua. O fato de o primeiro-ministro israelense ter quisto falar com o Papa por telefone e o tenha convidado a visitar seu país é considerado um fato positivo. É o reconhecimento do peso, não apenas moral, mas também político, do chefe do catolicismo. Mas o Vaticano agora pede um passo a mais, mais concreto, em direção à paz: como se as palavras de tranquilização não fossem mais suficientes, contrariadas por demasiados episódios que apontam na direção oposta.
E quem sabe, talvez na Roma papal saibam que essa busca atormentada e sangrenta por uma trégua vai muito além da relação entre o Vaticano e Israel. E se cruza com as crescentes preocupações dos Estados Unidos, não apenas da Europa.