24 Julho 2025
A reportagem é publicada por Religión Digital, 22-07-2025.
Na Espanha, um deputado afirmou que há oito milhões de migrantes "desnecessários". Desnecessários? E para onde irão? Não são "desnecessários" alguns líderes que não fazem nada pelo povo? E, no entanto, nunca dizemos que são desnecessários. Eles também são importantes, mas deveriam ter a mesma atitude para com todos aqueles que sofrem e trabalham arduamente para sustentar suas famílias. O Cardeal Carlos Castillo, de Lima, concelebrou a missa com o Cardeal Pedro Barreto, arcebispo emérito de Huancayo, e dom Jordi Bertomeu.
Em sua homilia, Castillo refletiu sobre o Evangelho de Lucas (10,38-42), que narra a atitude de duas irmãs, Marta e Maria, diante da presença de Jesus em sua casa. Por um lado, Marta parece inquieta em seus afazeres domésticos, enquanto Maria permanece atenta à palavra do Senhor. Primeiramente, o prelado enfatizou a importância do acolhimento de visitantes na cultura israelita:
"Na longa história que se estendeu de Abraão até a época de Jesus, uma característica do povo hebreu era a acolhida. Os israelitas sempre pensaram, no sentido mais antigo, que uma visita era sempre uma visita de Deus. Quando alguém nos visita, nós o acolhemos porque é Deus quem vem nos visitar", argumentou.
Essa premissa nos permite compreender a razão por trás da ânsia de Marta em ter tudo pronto para a visita do Senhor. Não há contradição, explicou o arcebispo de Lima, pois sua preocupação é natural: ela quer que o hóspede se sinta confortável. No entanto, nessa busca, ela se distrai do essencial: conversar e ouvir o hóspede, ou seja, concentrar-se no que o Senhor está nos dizendo.
"Este coração acolhedor é fundamental porque nos diz que os seres humanos são criados para ser irmãos. Maria quer ouvir a sua Palavra e contemplar o ser do Senhor. Isso requer intimidade, tranquilidade e, acima de tudo, a capacidade de contemplar o caminho do Senhor", indicou.
Raramente ouvimos o que o Senhor nos diz nos Evangelhos. Às vezes, na própria Igreja, nos dedicamos à doutrinação, em vez de comparar nossas vidas com o Evangelho, com a vida de Jesus.
Nesse sentido, a liturgia de hoje nos lembra que a fé cristã “não é um conjunto de verdades recitadas de cor, mas sim uma experiência que entra na nossa experiência de vida e, confrontando-as, nos permite descobrir muitos caminhos interessantes”.
Quando doutrinamos, alertou o Primaz do Peru, estamos ensinando as pessoas a falar de forma absurda, com perguntas e respostas definitivas que não deixam espaço para inovação. Esse mau hábito cristão nos impede de nos levantar, ajudar e acompanhar uns aos outros. Ele reiterou:
"Os escritos do Evangelho foram escritos para que, ao nos deixar uma narrativa, pudéssemos comparar a narrativa de nossas vidas com a narrativa do Senhor e extrair alguns insights sábios e inspiradores", observou ele.
Mas o que a realidade nos diz? A vida humana é marcada por uma diversidade de experiências que contam a nossa história, onde encontramos o Senhor lendo o Evangelho juntos, e cada um sentiu de uma forma diferente aquela inspiração que nos permite caminhar em nossas vidas.
Jesus caminha com o povo; ele não o sobrecarrega; ele conversa, dialoga e compreende. E assim os discípulos vêm; ele não os força a serem discípulos nem lhes diz que serão condenados. Nunca ouvimos isso em Jesus.
O Bispo de Lima lembrou que os discípulos "nascem do calor da relação profunda de Jesus com as pessoas. Às vezes, com um gesto, um milagre, uma conversa. Por isso, a conversa e o acolhimento são fundamentais em nossas vidas".
O Cardeal Castillo indicou que, em meio à profunda crise de valores que o mundo vive, todos temos o dever de "ajudar uns aos outros a escapar da armadilha da arrogância, da armadilha do ódio, do desprezo, como estamos vendo nestes dias, especialmente com os migrantes". Ele acrescentou:
Na Espanha, um deputado disse que há oito milhões de migrantes "desnecessários". Desnecessários? E para onde eles vão? São desnecessariamente, então? Não são "desnecessários" alguns líderes que não fazem nada pelo povo? E, no entanto, nunca dizemos que são desnecessariamente. Eles também são importantes, mas deveriam ter a mesma atitude em relação a todos aqueles que sofrem e trabalham duro para sustentar suas famílias", instou.
Voltando ao caso de Marta e Maria, o cardeal destacou que, ao nos concentrarmos nas palavras do Senhor, podemos aprender as coisas com sabedoria. Ele esclareceu que a sabedoria "não se adquire, mas faz parte de cada ser humano, brotando da experiência, do encontro com o Outro, da leitura da nossa vida e da comparação com a dos outros para enriquecê-la com essa sabedoria".
Que este dia, então, sabendo que o principal é falar com o Senhor, nos permita encontrar uma nova saída para os nossos problemas, conversando.
A Eucaristia deste 16º Domingo do Tempo Comum contou com a presença do Cardeal Pedro Barreto, Arcebispo Emérito de Huancayo, e de Monsenhor Jordi Bertomeu. A comunidade do Milagre Eucarístico Peru 1649 também esteve presente, marcando o 376º aniversário da aparição de Jesus na hóstia consagrada, no distrito de Ciudad Eten.