23 Julho 2025
"Ele foi um líder espiritual porque não propôs fórmulas, mas caminhos. Não vendeu soluções, mas ouviu perguntas e fomentou a investigação. Uniu, em sua mensagem, o que muitas vezes está separado: fé e fragilidade, verdade e dúvida, doutrina e misericórdia. E assim mostrou que o coração humano é um só, seja crente ou não", escreve Antonio Spadaro, em artigo publicado por Settimana News, 22-07-2025.
Meu artigo, publicado no Avvenire em 16 de julho, sobre Bergoglio, um papa romântico, recebeu alguns comentários perspicazes e generosos. Gostaria de responder àqueles que me escreveram — teólogos, acadêmicos, professores, jornalistas — não tanto para esclarecer, mas para continuar o diálogo.
E talvez, ainda mais, para testemunhar o fato de que falar hoje de "romantismo" em relação ao pontificado do Papa Francisco não é um exercício de estilo, mas uma maneira necessária de abordar a crise antropológica e cultural do nosso tempo.
Aqueles que responderam ao meu texto sempre captaram a essência: usar a palavra "romântico" não se refere a um sentimentalismo nostálgico ou vago, mas a uma visão antropológica precisa. O romantismo do Papa Francisco consiste em uma abertura radical à totalidade da humanidade, incluindo sombras, dúvidas, feridas, paixões e a busca de sentido.
Nesse sentido, como foi corretamente observado, Francisco segue a "antropologia polar" que Romano Guardini identificou como a estrutura profunda da experiência cristã. Não a negação do conflito, mas a aceitação das tensões. Não a solução dialética que dissolve as diferenças, mas a paciente manutenção dos opostos: inquietação e paz, razão e coração, verdade e turbulência, fé e dúvida.
Este é um ponto crucial. A teologia romântica de Francisco — e podemos defini-la com segurança como tal — não é uma forma de fraqueza doutrinária ou uma rendição ao relativismo, mas sim um poderoso lembrete da verdade do coração humano. Uma verdade que não é alcançada por meio de deduções lógicas, mas descoberta no fogo da experiência vivida.
É por isso que Francisco não tem medo de palavras como inquietação, incompletude e imaginação. São os seus "três is", como os definiu num memorável discurso em 2015. Não são limites a serem superados, mas condições essenciais para viver como seres humanos, como crentes, como homens e mulheres em busca.
Uma das reflexões que recebi centra-se, com razão, no tema do desejo. A cultura contemporânea, observa-se, é marcada por um paradoxo: por um lado, o desejo parece ter-se tornado uma forma de narcisismo, como em certas abordagens ao consumo compulsivo (Bauman, Campbell); por outro, é precisamente no desejo que se abre um vislumbre de transcendência. Em que direção o desejo se orienta? Para a autorrealização ou para a realização? Para a satisfação imediata ou para o Destino, como foi profundamente escrito?
O Papa Francisco teve a coragem de colocar o desejo no centro da vida espiritual. Ele não o moralizou nem o demonizou. Ele o levou a sério. Para ele, o coração humano é, como nos Padres da Igreja, capax Dei e, portanto, também capax desiderii.
A inquietação é sinal de tensão em relação ao outro. A incompletude não é um defeito, mas sim o sinal de uma abertura. E a imaginação é a única ferramenta que a humanidade possui para tornar habitável um mundo no qual o significado parece escapar.
O homem contemporâneo — homo psychologicus, para usar a expressão de Elena Pulcini — vive frequentemente na frustração de um desejo que não encontra objeto adequado. E assim, refugia-se no consumo, na performance e na aparência. Mas Francisco sugere outro caminho: acolher o desejo como uma ferida, como um anseio por outro Lugar.
Como disse Simone Weil, "ansiamos por um bem que desconhecemos". E aqui o Papa se mostra verdadeiramente um mestre espiritual: ele não nos pede para extinguir o desejo, mas para ouvi-lo profundamente, para direcioná-lo para a verdade, para a Vida. Mesmo ao custo de nos perdermos, de duvidarmos, de vacilarmos.
Em alguns comentários, surge uma pergunta: pode um Papa ser inquieto? Não deveria ser o "pastor angelicus", o guardião da verdade, o homem da certeza absoluta? Mas é precisamente aqui que compreendemos a inovação radical da abordagem de Francisco.
Em sua visão, inquietação não é fraqueza, mas abertura à realidade. A fé não é o encerramento da investigação, mas sua realização no âmago de um relacionamento. E a verdade não é uma posse a ser defendida, mas um caminho a ser percorrido em conjunto. Francisco é o Papa da escuta, do discernimento e da sinodalidade. Todos conceitos que pressupõem conflito, tensão e turbulência.
Na modernidade, acreditava-se frequentemente que o pensamento racional, coerente e lógico poderia resolver todos os conflitos. A utopia iluminista deu origem à distopia totalitária precisamente porque excluía a ansiedade, a ambiguidade e o inesperado. Francisco, no entanto, aceita o paradoxo como uma forma de verdade. E a verdade, escreve ele, "não pode ser encontrada sem a turbulência do coração".
Outra voz enfatizou a conexão entre o romantismo de Francisco e seu amor pela literatura. É verdade, como demonstra o último livro de Francisco, Viva a Poesia! Em um mundo que perdeu a capacidade de imaginar, o Papa restaurou a dignidade da palavra poética. Ele leu Dostoiévski, Borges, Manzoni e Hölderlin. Não por erudição, mas porque a literatura preserva a experiência viva do coração humano. As histórias recontam o que a filosofia frequentemente esquece: dor, espera, encontros, fracasso, graça.
E na literatura, emerge o tema do destino, distinto da fortuna. A fortuna é cega, individual e narcisista. Destino é relacionamento, abertura e vocação. Francisco fala frequentemente de vocação, de um chamado à realização, à alegria e à comunhão. Numa época que perdeu o sentido do futuro — e, portanto, também da esperança —, a redescoberta do destino como horizonte de significado é talvez o maior presente do seu pontificado.
Por fim, uma reflexão merece atenção especial: Francisco falou tanto a crentes quanto a não crentes precisamente porque falou ao coração humano. Ele foi percebido como uma ameaça tanto por certos círculos eclesiais quanto por alguns círculos seculares radicalizados, precisamente por não se encaixar em nenhuma estrutura ideológica.
Ele foi um líder espiritual porque não propôs fórmulas, mas caminhos. Não vendeu soluções, mas ouviu perguntas e fomentou a investigação. Uniu, em sua mensagem, o que muitas vezes está separado: fé e fragilidade, verdade e dúvida, doutrina e misericórdia. E assim mostrou que o coração humano é um só, seja crente ou não.
O romantismo de Francisco, portanto, não é uma estética da indeterminação, mas uma visão profunda da fé como uma experiência corporificada, uma fé que nasce da escuta do coração, que penetra a escuridão, que abraça a ferida.