11 Julho 2025
"Essa iniciativa busca evitar que o conteúdo do sínodo fique apenas no papel, promovendo passos efetivos que levem à transformação real da vida comunitária, fortalecendo a caminhada sinodal"
O artigo é de Eliseu Wisniewski.
Eliseu Wisniewski é presbítero da Congregação da Missão (padres vicentinos), Província do Sul, mestre em Teologia pela Pontifícia Universidade Católica do Paraná (PUCPR).
A simples publicação de documentos, por mais importantes que sejam, não garante automaticamente sua implementação ou vivência concreta na comunidade eclesial. Muitas vezes, bons textos permanecem esquecidos ou não são devidamente colocados em prática, o que pode comprometer o processo de renovação e participação desejado. Por isso, a Secretaria-Geral do Sínodo elaborou um documento intitulado “Pistas para a Fase de Implementação do Sínodo 2025-2028”, com o objetivo de orientar e estimular ações concretas nas Igrejas locais. Essa iniciativa busca evitar que o conteúdo do sínodo fique apenas no papel, promovendo passos efetivos que levem à transformação real da vida comunitária, fortalecendo a caminhada sinodal.
O texto, com 23 páginas organizadas em quatro capítulos, insistentemente bate na tecla de que o Documento Final do Sínodo é fundamental como ponto de referência para a fase de implementação, pois sintetiza as principais reflexões, decisões e orientações resultantes do processo sinodal. Ele serve como um guia comum para as Igrejas locais, ajudando a orientar ações concretas e estratégias de renovação.
Aqui estão os dez pontos que refletem como o Documento Final é tratado nas "Pistas para a Fase de Implementação do Sínodo 2025-2028", especialmente na terceira parte:
1) O Documento Final (DF) da XVI Assembleia Geral Ordinária do Sínodo dos Bispos, “Por uma Igreja Sinodal. Comunhão, participação, missão”, que foi aprovada no final da Segunda Sessão da Assembleia Sinodal, em 26 de outubro de 2024 é fundamental na fase de implementação do Sínodo, sendo considerado o ponto de referência principal.
2) Por isso, é muito importante que os membros das equipes sinodais e aqueles que atuam na animação do processo tenham um bom conhecimento do DF. Como ele é um texto rico e orgânico, recomenda-se criar momentos de formação, acompanhamento e orientação, seja a nível local, nacional ou regional. Esses momentos ajudam a compreender a inspiração que o sustenta, indo além de apenas conhecer as questões abordadas. Assim, todos podem se envolver de forma mais profunda e consciente no processo sinodal.
3) A leitura do DF deve ser apoiada por oração, tanto comunitária quanto pessoal, sempre centrada em Cristo, que é o mestre da escuta e do diálogo, e aberta à ação do Espírito Santo. Isso significa que uma análise apenas intelectual do texto não é suficiente; é preciso uma abertura espiritual para compreender sua inspiração.
4) Além disso, o DF propõe à Igreja e a cada batizado um caminho de conversão, que envolve uma mudança interior e uma renovação tanto pessoal quanto comunitária. No nível pessoal, isso se manifesta em escolhas, comportamentos e estilos de vida mais alinhados com o Evangelho. No âmbito comunitário, a renovação das categorias de pensamento e cultura em sentido sinodal é fundamental para que novas práticas e estruturas possam surgir, promovendo uma verdadeira transformação na Igreja.
5) A Parte I do DF apresenta a compreensão comum da sinodalidade, que é resultado do caminho percorrido até aqui, e esboça seus fundamentos teológicos e espirituais, todos enraizados no Concílio Vaticano II. Quanto às partes II, III e IV do documento: essas seções focam em aspectos concretos da vida da Igreja e propõem caminhos para sua renovação. A Parte II trata da conversão das relações que constroem a comunidade cristã, abordando como as vocações, carismas e ministérios se entrelaçam na missão. A Parte III destaca três práticas essenciais para iniciar processos de transformação missionária: discernimento eclesial, processos de decisão, cultura da transparência, prestação de contas e avaliação, além de enfatizar a necessidade de renovar os organismos de participação. A Parte IV discute como cultivar novas formas de intercâmbio de dons e fortalecer os laços na Igreja, especialmente em um tempo de mudanças profundas na experiência de estar enraizado em um lugar, refletindo também sobre o papel das Conferências episcopais, Assembleias e o serviço do Bispo de Roma. Já a Parte V adota uma perspectiva mais ampla, lembrando que crescer como uma Igreja sinodal e missionária exige cuidar da formação de todos os membros do Povo de Deus. Por fim, a Conclusão reforça uma visão escatológica, ou seja, voltada para o fim último, que orienta a missão comum, na qual todos os membros do Povo de Deus são chamados a colaborar ativamente. Essa estrutura mostra como o documento conecta a caminhada teológica com a prática missionária e a esperança escatológica.
6) É fundamental preservar a visão de conjunto do DF, as linhas de força ou princípios orientadores que o permeiam, ao invés de apenas resumir seus conteúdos principais. Os passos concretos devem estar enraizados na visão orgânica e orientadora, garantindo que toda implementação seja coesa com os critérios estabelecidos pelo DF, promovendo assim uma ação mais eficaz e alinhada aos seus propósitos fundamentais.
7) O DF propõe uma perspectiva eclesiológica clara, fundamentada nos ensinamentos do Concílio Vaticano II. Essa visão enfatiza que o caminho sinodal deve refletir a compreensão da Igreja como Mistério e Povo de Deus, conceitos centrais do Vaticano II. A missão de anunciar o Reino de Deus, iniciada por Jesus e compartilhada por todos os batizados, é o eixo central do documento e seu objetivo final. Cada pessoa, com seus carismas, vocação e ministério específicos, contribui de maneira única para essa missão, numa perspectiva relacional, onde todos os membros, ministros ordenados, bispos e fiéis, estão interligados em uma rede de comunhão que expressa a catolicidade. Essa abordagem orienta ações que promovem a unidade, a cooperação mútua e o reconhecimento dos dons de cada um em prol da missão comum. O impulso ecumênico é uma consequência natural e imprescindível dessa visão relacional da Igreja, devendo ser constantemente avaliado para garantir que contribua para um verdadeiro caminhar unido na missão de anunciar o Reino de Deus. A Igreja deve atuar como um sujeito dialogante no mundo, promovendo justiça social e cuidado com a criação, integrando esses valores na sua ação concreta para responder às necessidades das comunidades e fortalecer sua missão evangelizadora.
8) A fase de implementação à luz do DF requer um discernimento contínuo das tensões inerentes à vida da Igreja, buscando os equilíbrios que melhor favoreçam o serviço missionário no contexto concreto de cada comunidade, promovendo uma caminhada sinodal autêntica, levando em conta a tensão entre enraizamento e peregrinação que desafia a Igreja a repensar suas formas de presença e pertença, buscando criar vínculos autênticos em contextos diversos, promovendo uma missão criativa que dialogue com as mudanças socioculturais atuais.
9) A implementação, com base do DF exige um discernimento atento às realidades locais, promovendo mudanças concretas que fortaleçam a comunhão e a missão da Igreja. Essas mudanças devem ser feitas com criatividade, sensibilidade às circunstâncias específicas, sempre buscando avançar juntos como uma única Igreja no mundo.
10) Cada Igreja local iluminada pelo DF é convidada a investir na concretude das práticas sinodais, experimentar essas ações em seus contextos específicos, compartilhando suas experiências para enriquecer o processo sinodal globalmente, sempre buscando maior comunhão, participação ativa e missão comum.