09 Julho 2025
Foram achados sua bicicleta, o celular e a lanterna, e só mais tarde foi encontrado o corpo sem vida da pessoa que estava com ele perto da companhia elétrica ao norte do campo de Nuseirat. Mas de Aziz Izzat Joda, um palestino de quase 70 anos não há nenhuma notícia. Ele desapareceu em setembro sem deixar rastros. “Só queremos saber o que aconteceu com ele, para fechar essa ferida que nos atormenta há meses”, falaram seus familiares aos voluntários do “Centro Palestino para Pessoas Desaparecidas e Deslocadas à Força”, fundado em fevereiro passado na Cidade de Gaza com o objetivo de manter um registro dos desaparecimentos e rastrear quem sumiu no ar.
A reportagem é de Francesca Ghirardelli, publicada por Avvenire, 08-07-2025. A tradução é de Luisa Rabolini.
Foi criado durante a primeira trégua e, agora com uma nova possível interrupção da guerra, os voluntários esperam outro pico de solicitações. “Durante o cessar-fogo (do início do ano, ndr), as famílias puderam se movimentar mais, compartilhar relatos, começar a fazer perguntas e encontrar respostas”, explica o coordenador do Centro, o jovem Ghazi al-Majdalawi, ao Avvenire. “Uma nova trégua permitiria que as pessoas denunciassem e realizassem buscas, algo que desejam desesperadamente. Muitos estão agora presos em áreas sem eletricidade, comunicações ou possibilidades de se movimentar.”
Segundo dados do Escritório Central de Estatísticas da Palestina, citados pela ONU, há mais de onze mil pessoas na Faixa de Gaza das quais não se têm mais notícias. Faltam registros oficiais e investigações que determinem se morreram em ataques aéreos, se estão detidas por Israel ou foram enterradas sem que seus nomes fossem incluídos nas listas das vítimas. “As forças de ocupação estão impedindo a entrada de material para testes de DNA, dificultando a identificação dos corpos”, continua Ghazi al-Majdalawi, que criou um banco de dados digital, uma pequena parte do qual está atualmente disponível online. “Documentamos cerca de cinco mil casos. As famílias nos contatam por telefone ou por meio de um formulário de registro online. O primeiro caso foi o do jornalista Haitham Abdulwahid, que era meu amigo. Um grande número de pessoas permanece sob os escombros. Outras foram presas por soldados israelenses. Pudemos confirmar que algumas estavam detidas apesar da negativa do exército.” Entre os casos acompanhados está o da Sra. Nahla al-Birem, forçada a fugir de sua casa na Cidade de Gaza, com o marido em cadeira de rodas. Sua irmã recebeu a notícia de morte dele, mas nada se sabe sobre Nahla. Há também o caso de Ahmed al-Ajrami, que desapareceu durante um deslocamento em março de 2024: “Achávamos que os horrores da guerra eram a coisa mais difícil, mas perder Ahmed, vivendo nesse vazio mortal, é uma tortura
em si”, disse seu irmão. No final de junho, o Centro denunciou o fato de o exército de Tel Aviv estar proibindo a defesa civil de entrar em certas áreas para recuperar as vítimas. “Durante dias, impediram-nos de chegar à zona ‘Golden Hall’, no norte de Gaza, (…) apesar dos repetidos esforços envidados mediante o Gabinete da ONU da OCHA”, até por fim conseguir retirar quinze corpos, “alguns em estado de decomposição. Esse comportamento sistemático israelense constitui uma violação flagrante do direito internacional humanitário, que exige o respeito pelos corpos dos defuntos”.
Numa noite de dezembro, Mohammad Jamal Atiya Banat, um pai de 38 anos, saiu de casa e nunca mais regressou. “Procuramos por todo lado” – disse a sua mulher, que ainda o espera com seus seis filhos –. “Tentei dizer aos nossos filhos que estava em viajem, mas eles são demasiado inteligentes. Olham-me nos olhos e sabem que estou escondendo a verdade”.