16 Junho 2025
"Hoje, Vittorio diria que, antes de sermos europeus, somos todos palestinos. Que se por um minuto por dia o fôssemos, como fomos judeus para o holocausto, esse massacre nos seria poupado."
Egidia Beretta Arrigoni, mãe do trabalhador humanitário italiano morto em Gaza em 2011 e que chegou à Palestina em um dos dois navios da Flotilla da Liberdade em 2008, guarda com carinho o livro de Vittorio, "Gaza, vamos continuar sendo humanos": "É a mensagem que ele sempre repetia".
A entrevista com Egidia Beretta Arrigoni, é de Francesca Del Vecchio, publicada por La Stampa 16-06-2025. A tradução é de Luisa Rabolini.
Eis a entrevista.
Como se sente ao saber que a Flotilla foi sequestrada e os ativistas repatriados?
É um ato de pirataria. Não saberia como chamá-lo de outra forma. Mas me pergunto se piratas ainda podem existir no Mediterrâneo hoje em dia. Foi um sequestro de pessoas: os ativistas não tinham intenção de invadir Israel. Queriam levar ajuda humanitária. A embarcação era pequena, então era uma operação reduzida e inofensiva.
O bloqueio israelense não corre o risco de transformar essas iniciativas em tentativas fantasiosas?
Eu as chamaria de utópicas, mas isso não significa que sejam supérfluas ou inúteis. E os admiro: eles conseguiram se fazer ‘ver’ pelos palestinos, o que significa fazê-los sentir a proximidade: como se dissessem ‘vocês não estão sozinhos’. O que Israel fez foi um ato covarde, também porque estavam completamente desarmados e não opuseram resistência. Se me permite, gostaria de acrescentar uma última coisa sobre a missão.
Certamente.
O navio se chama Madleen. Quando soube isso, soou um sinal em meus ouvidos: é o nome de uma mulher palestina, uma pescadora, que Vittorio conheceu em 2010 em Gaza e sobre quem havia escrito um belíssimo artigo. Pareceu-me uma coincidência significativa.
O que pensa desse fechamento de parte do governo Netanyahu às ajudas?
Significa querer impedir qualquer contato com a população. Exatamente como se impede à imprensa internacional de entrar e noticiar o que está acontecendo. Do que Netanyahu tem medo? Que se veja o massacre que estão fazendo?
O governo italiano deveria ser menos condescendente com Israel?
Acabamos de renovar os acordos que dizem respeito também ao fornecimento de armas. Giorgia Meloni deveria ter aproveitado este momento para suspendê-los." Deveríamos reconhecer o Estado da Palestina, como a Espanha e o Reino Unido? "Admiro muito Pedro Sanchez por essa escolha. Falar de Estado da Palestina hoje é um ato político que dificilmente se concretizará. Onde está a Palestina? Agora não existe mais, está toda fragmentada. Reconhecê-la, no entanto, significa dar aos palestinos a dignidade de povo. Lamento que a Itália sequer tenha essa coragem.
Ontem, o pequeno Adam chegou a Milão para tratamento médico. Isso basta para estar "em paz com a consciência"?
Obviamente que não. Perguntemo-nos que tipo de adultos essas crianças serão. Supondo que se tornem adultos. Seria a hora, como país, de manifestar a nossa voz. Mas ainda não conseguimos pronunciar palavras de condenação.
Iniciativas humanitárias ainda fazem sentido?
Claro! São ações mais demonstrativas do que qualquer outra coisa, mas servem para manter a atenção elevada. A Emergency conseguiu construir um hospital-tenda na Faixa de Gaza; assim como elas, muitas outras organizações fazem um trabalho enorme: são nossos porta-estandartes. Seria necessário apoiá-las, começando pela UNRWA (Agência das Nações Unidas de Assistência aos Refugiados da Palestina no Oriente Médio, ndr), cujo financiamento foi reduzido pelos EUA, que eram o principal financiador. Israel as considera terroristas cúmplices do Hamas. Mas elas são os canais que devemos manter vivos.
O que seu filho Vittorio faria hoje?
Ele faria o que sempre fez, testemunhar. Quem o conhecia me diz: ‘Ele teria ido a nado até Gaza’. Mas também acho que não o teriam deixado vivo: já durante a operação militar israelense Chumbo Fundido, em 2008, ele havia sido ameaçado de morte. Imagine agora, teria sido um alvo perfeito para drones e metralhadoras israelenses. Mas Vittorio não teria permanecido em silêncio, teria envolvido muitas pessoas: ele sabia como despertar as consciências.
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