14 Junho 2025
"Em um lugar em que a água é privatizada, a população é explorada, mesmo consumindo pouca água. A história dos direitos humanos sempre envolveu muita disposição de lutar e a capacidade de organização.", escreve Sandoval Alves Rocha, SJ.
Sandoval Alves Rocha é doutor em Ciências Sociais pela PUC-Rio, mestre em Ciências Sociais pela Unisinos/RS, bacharel em Teologia e bacharel em Filosofia pela Faculdade Jesuíta de Filosofia e Teologia (FAJE, MG), membro da Companhia de Jesus (jesuíta), trabalha no Serviço Amazônico de Ação, Reflexão e Educação Socioambiental (Sares), em Manaus.
No dia 28 de maio, o Fórum das Águas realizou mais uma oficina nos bairros de Manaus. Desta vez, o coletivo esteve no bairro João Paulo II, Nova Cidade, zona norte da capital amazonense. No local, o coletivo foi recebido pela Associação Organizada por Moradia do Norte (ASSOMON), cuja sede esteve lotada de associados para participar do debate sobre os direitos humanos à água e ao saneamento. Em um ambiente de aprendizado e reivindicações, os participantes refletiram sobre a luta pelo direito à água e saneamento em Manaus, na Amazônia e no Brasil.
A iniciativa das oficinas nos bairros tem sido apoiada pela Organização Habitat para Humanidade Brasil, que trabalha pela promoção dos direitos urbanos em várias cidades do país. Na região amazônica, a Habitat atua nos estados do Amazonas, Pará, Acre, Rondônia, Amapá e Tocantins. Neste sentido, a Organização tem contribuído com o Fórum das Águas do Amazonas na realização da sua missão em Manaus, promovendo os direitos humanos à água e ao saneamento em prol das populações mais pobres.
Provocados pelas exposições, audiovisuais e conversas orientadas, os moradores acessaram informações sobre o cuidado das águas e revelaram que vivem graves situações de precariedade nos serviços de abastecimento de água e a ausência do esgotamento sanitário na comunidade. Diversas lideranças denunciaram que diariamente grande parte do bairro fica sem água a partir das 22h, permanecendo impossibilitados de realizarem as necessidades básicas. Um deles frisou que se houver um incêndio depois desta hora não podem fazer nada para resolver a questão, tendo que se submeter a graves riscos de vida.
Outros reclamaram que com frequência sofrem interrupções no abastecimento. Complementaram ainda que a água não chega às suas casas, mas a fatura é pontual, não falta. Outros perguntaram pela Agência Reguladora, manifestando-se indignados pela omissão deste órgão frente à inoperância da concessionária Águas de Manaus. Outros ainda destacaram que é normal faltar água durante o fim de semana. A população presente também refletiu sobre a falta de encaminhamentos das três CPIs (Comissão Parlamentar de Inquérito) instauradas na Câmara Municipal de Manaus para averiguar as irregularidades da concessão privada dos serviços de água e esgoto.
Diante de tantas reclamações, uma das lideranças destacou que é preciso que a comunidade se organize para exigir os seus direitos básicos. É necessário que os moradores façam os poderes públicos ouvirem os gritos das periferias e dos bairros mais pobres da cidade. O acesso a estes direitos será possível somente através de muita luta travada pelas populações mais vulneráveis contra aqueles que mantêm a água como um privilégio de poucos. Em um lugar em que a água é privatizada, a população é explorada, mesmo consumindo pouca água. A história dos direitos humanos sempre envolveu muita disposição de lutar e a capacidade de organização.