13 Junho 2025
Thiago Ávila foi deportado do país após ser transferido para cela isolada e iniciar greve de fome. Outros cinco ativistas também foram libertados.
A reportagem é publicada por DW, 12-06-2025.
O ativista brasileiro Thiago Ávila, de 38 anos, detido pelo governo de Israel no último dia 8 por tentar furar o bloqueio à Faixa Gaza de barco com mais 11 pessoas, está a caminho do Brasil, segundo a entidade que organizou a missão humanitária, Flotilha da Liberdade. Ele deve chegar ao Aeroporto de Guarulhos, em São Paulo, nesta sexta-feira (13/06).
Thiago ficou quatro dias em greve de fome em protesto contra sua detenção, que considera um sequestro por ter ocorrido em águas internacionais. O caso é tratado como crime de guerra pelo Conselho Nacional de Direitos Humanos (CNDH) do Brasil.
Na quarta-feira (11/06), os advogados do ativista também informaram que ele havia sido colocado em confinamento solitário.
Segundo a organização de direitos humanos israelense Adalah, responsável pela defesa dos detidos, Ávila foi transferido para outra prisão, separado dos demais ativistas, e isolado numa cela sem luz e ventilação, por ter iniciado a greve de fome por sua libertação.
"[A defesa] informa que Israel ameaçou deixá-lo na solitária por 7 dias em uma cela escura, pequena, sem ar e sem acesso a ninguém", disse comunicado da Flotilha da Liberdade Brasil.
O ativista brasileiro compõe a iniciativa internacional formada por ativistas de direitos humanos que organizam expedições marítimas. Na última missão, seus integrantes, incluindo a ambientalista sueca Greta Thunberg, tentaram levar uma quantidade simbólica de mantimentos ao enclave devastado pela guerra, onde cerca de dois milhões de palestinos estão à beira da fome total devido ao bloqueio imposto por Israel há mais de três meses à entrada de ajuda humanitária.
Coordenadora da Flotilha da Liberdade, Yasmin Acar, fala após sequestro e libertação de cárcere israelense: "Nossas vidas não valem mais que a de nossos irmãos em Gaza. Israel está matando crianças de fome. Mundo precisa encerrar cumplicidade com o genocídio" pic.twitter.com/Gb94EwuivZ
— FEPAL - Federação Árabe Palestina do Brasil (@FepalB) June 12, 2025
Ávila não foi deportado imediatamente, como Thunberg, por ter se negado a assinar documento em que reconheceria que cometeu um crime de tentar entrar em Israel sem autorização. Segundo a Flotilha, o grupo concordou que a ambientalista e outros presos assinassem o documento para que, voltando a seus países, pudessem denunciar a situação.
A defesa sustenta que eles não cometeram crime e que foram sequestrados por Israel, já que a interceptação do barco que levava alimentos e remédios a Gaza ocorreu em águas internacionais.
Informações conflitantes
Outra ativista, a eurodeputada franco-palestina Rima Hassan, também teria sido colocada em solitária após escrever "Palestina Livre" na parede da cela. Posteriormente, a Flotilha informou que ela retornou para a prisão de Givon, onde estavam os demais ativistas presos.
Ela também foi deportada nesta quinta-feira, ao lado de Thiago e outros quatro ativistas. A informação foi publicada pelo Ministério das Relações Exteriores de Israel. "Mais seis passageiros do 'iate de selfies', incluindo Rima Hassan, estão a caminho de Israel. Adeus - e não se esqueça de tirar uma selfie antes de partir", escreveu a pasta.
Outros dois ativistas franceses seguem detidos em Israel.
Na noite de quarta-feira, o Itamaraty publicou nota condenando a prisão do brasileiro. Segundo o Ministério das Relações Exteriores, a prisão em águas internacionais é uma "flagrante transgressão ao direito internacional".
"Em contexto de gravíssima situação humanitária na Faixa de Gaza, onde há fome e desnutrição generalizadas, o Brasil deplora a continuidade de severas restrições, em violação ao direito internacional humanitário, à entrada de itens básicos de subsistência", disse a pasta.
Bloqueio e protestos
Após limitar a entrada de ajuda humanitária nos 20 meses de guerra, o governo de Israel bloqueou completamente a entrada de medicamentos ou alimentos no dia 2 de março de 2025. Após forte pressão internacional, a entrega de ajuda foi retomada por meio de uma organização americana apoiada por Israel, a GHF.
A ONU afirma que a forma de distribuição de alimentos é desumana, e a quantidade, insuficiente.
Seguindo o exemplo da Flotilha da Liberdade, milhares de ativistas de 51 países se articulam para uma marcha no Egito até a fronteira com Rafah, cidade ao sul de Gaza. Caravanas de países do Norte da África, da Turquia, e de todos os continentes esperam fazer uma marcha de três dias até Gaza para denunciar o cerco imposto por Israel à entrada de ajuda humanitária no território.
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