11 Junho 2025
Lacunas na comunicação ainda dificultam o protagonismo do Brasil nas discussões climáticas.
A reportagem é publicada por climaInfo, 10-06-2025.
Quando a Ministra Marina Silva teve um momento de didatismo ao afirmar que “COP não é Copa” no último mês de abril, os mais próximos da pauta climática analisaram a seriedade da COP30 em Belém e seus desdobramentos. A fala de Marina parece ter um alcance mais substancial quando leva-se em conta que, para a grande maioria dos brasileiros, o assunto COP é mais que irrelevante: ele é desconhecido.
O Globo noticiou que 71% dos brasileiros não sabem o que é a COP30, segundo um estudo conduzido pelo Ideia Instituto de Pesquisa e pelo Instituto LACLIMA. A pesquisa ouviu 1.502 pessoas em todas as regiões do país e explicitou a realidade da comunicação climática e ambiental, destacando que questões ambientais têm pouco peso na decisão de voto. O governo federal é indicado como o maior responsável pelos problemas ambientais. Os dados serão apresentados no Brazil Forum UK, na Universidade de Oxford, no dia 14 de junho.
O levantamento, intitulado “Protagonismo do Brasil na COP30 – Brazil Forum UK”, mostrou ainda que há uma desconexão entre a agenda climática internacional e o cotidiano da população. Segundo Cila Schulman, CEO do Ideia Instituto de Pesquisa, termos como “COP30”, amplamente utilizados em discussões acaloradas em alguns ambientes, ainda não foram assimilados pela maioria das pessoas. “O evento é importante, mas falta traduzi-lo para uma linguagem acessível”, afirmou.
Schulman ressaltou que a falta de ambição política e de comunicação estratégica dificulta o protagonismo do Brasil nas discussões climáticas. A pesquisa reforça a percepção de que, apesar da relevância global do tema, o meio ambiente ainda não mobiliza o eleitorado brasileiro.
O descolamento entre a importância da COP30 e a percepção que os brasileiros têm do evento tem lastro nas narrativas hegemônicas e bastante antigas sobre a Amazônia, ainda com base nos discursos do período da Ditadura Militar. “Vocês conseguem imaginar uma instituição paraense para acelerar o desenvolvimento do sudeste, como se São Paulo e Rio de Janeiro fossem uma coisa só?”, questionou Mayra Casttro, fundadora da Invest Amazônia. No evento, ao construir uma narrativa de aproximação com a vivência das pessoas nas várias amazônias, palestrantes de realidades distintas provocaram novas concepções sobre o território. Quem reporta é a Folha.
O Presidente Lula afirmou neste sábado que, se Donald Trump não comparecer à COP30, receberá um telefonema do presidente brasileiro. "Vamos fazer uma reunião separada de chefes de Estado dois dias antes de aprofundar o debate. Se Trump não confirmar que vem, vou ligar pessoalmente e dizer: a COP está aqui no Brasil. Vamos discutir este assunto", afirmou em entrevista coletiva em Paris, como noticiado por O Globo, CNN Brasil e Carta Capital. Em abril, os Estados Unidos anunciaram o encerramento do escritório responsável pela diplomacia climática do país, sinalizando a possível ausência da maior economia mundial na cúpula.
O Pará planeja oferecer 50.554 hospedagens para a COP30, mas apenas 14.091 (28%) serão em hotéis tradicionais. O restante será em alternativas como escolas reformadas, igrejas, Airbnbs, motéis e uma vila modular temporária para 400 pessoas. Com menos de cinco meses para o evento, ainda não está claro quantos desses leitos já estão disponíveis e como podem ser reservados – o governo não respondeu a questionamentos sobre o assunto. A estratégia revela um esforço para compensar a limitada infraestrutura hoteleira em Belém, mas a falta de informações detalhadas e o curto prazo levantam dúvidas sobre a capacidade de se atender à demanda esperada de 50 mil pessoas.