10 Junho 2025
O presidente Macron pediu "o retorno dos seis cidadãos franceses que estavam no barco interceptado por Israel o mais rápido possível", uma mensagem que foi vista como morna por alguns setores políticos.
A reportagem é de Juan Francia, publicada por Página|12, 10-06-2025.
Na segunda-feira, 9 de junho, às 2h da manhã, a Marinha israelense interceptou o veleiro "Madleen", da Flotilha da Liberdade, no Mar Mediterrâneo, em direção a Gaza. Os 12 ativistas a bordo do Madleen foram presos, incluindo a eurodeputada franco-palestina Rima Hassan e a renomada ambientalista sueca Greta Thunberg. A tripulação não conseguiu atingir seus objetivos declarados de entregar ajuda humanitária e romper o bloqueio israelense a Gaza.
A prisão dos tripulantes do Madleen provocou reações políticas imediatas na França. O presidente Emmanuel Macron pediu "o retorno dos seis cidadãos franceses que estavam no barco interceptado pelas autoridades israelenses o mais rápido possível". A declaração do Palácio do Eliseu foi vista como morna por alguns setores políticos. Manuel Bompard, coordenador da La France Insoumise (LFI), chamou a declaração de Macron de "escandalosa" e pediu que ele "mostrasse um pouco de coragem, por uma vez".
A LFI, ambientalistas e organizações sociais como a União Judaica Francesa pela Paz (UJFP) convocaram manifestações em toda a França para exigir a libertação da tripulação "sequestrada" por Israel e o fim do bloqueio de Gaza. Apesar do apelo de última hora, manifestações foram realizadas em mais de 160 cidades francesas e, em Paris, mais de 50.000 pessoas se reuniram na Place de la République.
Nos vários comícios, as pessoas podiam ser vistas agitando uma variedade de faixas políticas — de esquerda, ambientalistas, sindicalistas e organizações sociais — e os manifestantes gritavam slogans como "Somos todos filhos de Gaza!", "Liberdade para a Flotilha da Liberdade!" e "Israel é um assassino, Macron é cúmplice!".
No palco parisiense, o principal orador foi o líder da LFI, Jean-Luc Mélenchon. O líder de esquerda elogiou a coragem de Rima Hassan, Greta Thunberg e dos demais membros da tripulação. Mélenchon então se dirigiu à multidão com três reivindicações imediatas: o fim do bloqueio de Gaza, o reconhecimento francês imediato do Estado da Palestina em resposta à prisão dos membros da tripulação do navio de ajuda humanitária e a libertação imediata dos ativistas.
Mélenchon também expressou preocupação com a segurança da tripulação do Madleen nas mãos das autoridades israelenses. "Acreditamos que eles são capazes de fazer o pior, porque sabemos que são capazes. Eles vêm fazendo o pior há 18 meses." Mélenchon concluiu seu discurso convocando manifestações em toda a França no próximo sábado em apoio ao povo palestino.
After the arrest and imprisonment of Freedom Flotilla activists and the seizure of the ship, thousands are now filling the streets of Paris, the French capital, chanting for Gaza.#FreedomFlotilla #FreePalestine pic.twitter.com/1pWuZ2aaZR
— Mahmod Hinawi (@GazaReality) June 9, 2025
O embaixador israelense em Paris, Joshua Zarka, enfatizou que o navio estava detido em águas israelenses, não em águas internacionais. Ele usou esse argumento para justificar a detenção do veleiro e a prisão da tripulação. O deputado Manuel Bompard respondeu com duras críticas ao embaixador, acusando-o de ser propagandista. Ele sustentou que os detidos franceses foram detidos ilegalmente e criticou o governo francês por não convocar o embaixador israelense para consultas a fim de obter uma explicação sobre as ações do governo Netanyahu.
Por sua vez, o partido de direita União Nacional (RN) justificou as ações de Israel. O eurodeputado da RN, Aleksandar Nikolic, afirmou que "há uma operação militar em andamento em Gaza e, se não houver autorização, trata-se claramente de uma intervenção que pode interromper as operações em andamento ". Ele reconheceu o direito de Israel de conceder ou negar autorização para entrar em Gaza. Isso contradiz a posição oficial do governo francês, que propõe a criação de um Estado palestino independente, coexistindo com Israel, como solução.
Mas também foram vistas reações na vizinha Suíça, onde centenas de manifestantes exigindo a libertação da flotilha, o fim do bloqueio, o reconhecimento do Estado palestino e o fim do genocídio bloquearam trens em Lausanne e Genebra.
No contexto atual do bloqueio sofrido pelos habitantes de Gaza, multiplicam-se os movimentos internacionais de solidariedade e desobediência civil. Assim, foi criada a "Marcha Global para Gaza", uma iniciativa cidadã que propõe uma marcha a partir do Egito até Gaza, no mesmo espírito da Flotilha da Liberdade, para romper o bloqueio através da entrega de ajuda humanitária.
Milhares de civis de mais de 35 países já estão no Cairo, preparando-se para uma marcha pacífica de 48 quilômetros até a fronteira de Rafah, em 15 de junho. Em uma ação cidadã sem precedentes, espera-se que pelo menos 10.000 civis desbloqueiem essa passagem de fronteira e garantam um corredor humanitário para Gaza. Um dos slogans dos organizadores da marcha é: "Se os Estados falham, os cidadãos devem intervir".
Entretanto, 24 horas se passaram desde a prisão da tripulação do Madleen, e as condições de sua detenção permanecem desconhecidas. A organização não governamental Anistia Internacional exigiu em um comunicado a libertação imediata da tripulação do Madleen e alertou que "eles devem ser protegidos contra tortura e outros maus-tratos".