10 Junho 2025
Durante a apresentação dos dados, autoridades expressaram preocupação com o avanço no Congresso do PL 2159/2021, o "PL da Devastação".
A reportagem é publicada por ClimaInfo, 09-06-2025.
A nota preocupante vem da comparação entre maio deste ano com o mesmo mês do ano passado: os alertas de desmatamento do sistema DETER-INPE aumentaram 92% em maio de 2025 em relação a maio de 2024. Este aumento foi fortemente influenciado pelos incêndios florestais ocorridos no ano passado – muitos deles criminosos – e que foram agravados pela seca histórica de 2023 e 2024.
A influência do fogo no desmatamento da Amazônia fica clara se observarmos que área da Amazônia afetada por incêndios florestais saltou de 500 km² em maio de 2024 para 960 km² em maio de 2025, e que, durante todo o ano de 2024, os incêndios florestais responderam por 51% da destruição – um aumento significativo em relação aos 1% registrados em 2022.
As autoridades atribuem esse cenário à combinação de fatores climáticos, como as severas secas que atingiram a região nos últimos anos, e à ação humana, com queimadas associadas tanto a atividades agropecuárias (38,4%) quanto à consolidação de áreas já desmatadas (37,9%).
Mas enquanto a Amazônia enfrenta aceleração na perda de vegetação, outros biomas brasileiros apresentaram cenários mais positivos. O Cerrado e o Pantanal apresentaram diminuição da destruição, sendo a mais expressiva no Pantanal, com queda de 74% no período entre agosto de 2024 e maio de 2025, passando de 1.035 km² para 267 km² de área desmatada. Nos últimos três meses desse período, a redução chegou a impressionantes 99% em comparação com o mesmo intervalo do ano anterior.
As operações de fiscalização ambiental mostraram esforços significativos para conter a devastação. Na Amazônia, o Ibama e o ICMBio realizaram 18.964 ações fiscalizatórias, aplicaram R$ 3,1 bilhões em multas e embargaram 561 mil hectares. No Cerrado, foram R$ 578 milhões em multas e 455 áreas embargadas, enquanto no Pantanal as autuações somaram R$ 430 milhões. Essas ações incluíram desde a apreensão de equipamentos até notificações para prevenção de incêndios e abertura de ações civis públicas contra infratores.
Durante a apresentação dos dados, autoridades expressaram preocupação com o avanço no Congresso do PL 2159/2021, conhecido como “PL da Devastação”, que propõe flexibilizar as regras de licenciamento ambiental. O ministro interino João Paulo Capobianco criticou especialmente a proposta de eliminação da análise de impactos indiretos dos empreendimentos, argumentando que o licenciamento existe justamente para antecipar e mitigar esses efeitos em cadeia. Ele destacou que a atual legislação exige a avaliação não apenas dos impactos diretos, mas também de consequências como o aumento de ocupações irregulares e queimadas em áreas acessadas por novas estradas.
O diretor do MCTI, Oswaldo Leal, enfatizou o papel crucial da Amazônia nos ciclos globais de água e carbono, alertando que a perda acelerada de vegetação nativa tem implicações que vão muito além das fronteiras brasileiras. Ele relacionou as seis grandes secas registradas na região desde 2005 (2005, 2010, 2015, 2016, 2023 e 2024) às mudanças climáticas globais e à redução da resiliência da floresta devido à ação humana. “Quando olhamos os dados de impacto dessas secas, particularmente o número de pessoas afetadas e o impacto econômico, nós nos assustamos”, afirmou Leal, questionando até que ponto a floresta ainda consegue resistir às agressões repetidas que vem sofrendo. A VEJA lembra, porém, que considerando apenas o acumulado do ano de 2024, a Amazônia apresentou uma queda expressiva de 30,6%, atingindo o menor índice desde 2015.
Os dados foram divulgados pelo Ministério do Meio Ambiente e Mudança do Clima e pelo Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovação na última 6a feira (6/6). No mesmo link é possível acessar a apresentação completa dos dados.