22 Mai 2025
As regiões tropicais perderam 6,7 milhões de hectares de floresta primária no ano passado, de acordo com o observatório de referência Global Forest Watch, desenvolvido pelo think-tank americano World Resources Institute (WRI) com a Universidade de Maryland. A Amazônia brasileira foi a mais afetada, com destruição em seu maior nível desde 2016.
A reportagem é publicada por RFI, 21-05-2025.
Este é o nível mais alto desde que a coleta de dados começou em 2002. O desmatamento, 80% maior que em 2023, foi causado majoritariamente por incêndios e intensificado por "condições extremas" devido às mudanças climáticas, que os tornaram "mais intensos e difíceis de controlar", segundo os autores do estudo.
"É equivalente à perda de 18 campos de futebol por minuto", destacou Elizabeth Goldman, codiretora do observatório.
Os incêndios são responsáveis por quase metade das perdas florestais, à frente da agricultura pela primeira vez. Essa destruição representou o equivalente a 3,1 bilhões de toneladas de CO₂ emitidas na atmosfera, um pouco mais do que as emissões relacionadas à energia da Índia.
"Esse nível de destruição florestal não tem precedentes em mais de 20 anos de dados", disse Goldman. "Trata-se de um alerta vermelho global".
O relatório se concentra nas florestas tropicais, que são as mais ameaçadas e muito importantes para a biodiversidade e sua capacidade de absorver carbono do ar. Ele abrange perdas por todos os motivos: desmatamento deliberado, mas também destruição acidental e incêndios.
A Amazônia brasileira foi a mais afetada, com destruição no maior nível desde 2016. Os incêndios foram favorecidos por “condições extremas” que os tornaram “mais intensos e difíceis de controlar”, observam os autores. O ano de 2024 foi o mais quente já registrado no mundo devido aos efeitos da mudança climática, causada pela combustão maciça de combustíveis fósseis e pelo fenômeno natural El Niño.
Embora os incêndios possam ter origem natural, na maioria das vezes eles são causados pelo homem em florestas tropicais para limpar a terra. O desmatamento especificamente para abrir caminho para a agricultura, historicamente a principal causa de destruição, está agora em segundo lugar, mas continua sendo uma causa importante.
O Brasil registrou 2,8 milhões de hectares de destruição de floresta primária no ano passado, dois terços dos quais foram atribuídos a incêndios, muitas vezes iniciados para abrir pasto para a soja ou para o gado.
No entanto, o país registrou bons resultados em 2023, com as florestas se beneficiando das medidas de proteção decididas pelo presidente Lula para o primeiro ano de seu novo mandato. “No entanto, esse progresso está ameaçado pela expansão da agricultura”, observa Sarah Carter, pesquisadora do WRI.
Os números do WRI contrastam com os da rede de monitoramento brasileira MapBiomas, publicados em 16 de maio, que mostram um claro declínio no desmatamento, mas não incluem incêndios.
A proteção das florestas está no topo da agenda da presidência brasileira da COP30, a principal conferência climática anual da ONU, programada para ocorrer em Belém (10 a 21 de novembro).
Um país vizinho, a Bolívia, ocupa o segundo lugar, com um aumento de três vezes na área destruída no ano passado, novamente como resultado de incêndios gigantescos. A maior parte desses incêndios "foi feita para limpar terras para fazendas em escala industrial", observam os autores.
Em outros lugares, o quadro é misto, com uma melhora na Indonésia e na Malásia, mas uma clara deterioração no Congo e na República Democrática do Congo.
Historicamente, a pressão sobre as florestas tem sido causada pela exploração de quatro produtos, chamados de "quatro grandes": óleo de palma, soja, carne bovina e madeira. Mas as melhorias em alguns setores - como o óleo de palma - coincidiram com o surgimento de novos problemas, como o abacate no México, ou o café e o cacau.
Portanto, as causas do desmatamento não necessariamente "permanecerão sempre as mesmas", insiste Rod Taylor, diretor do programa florestal do WRI, defendendo uma abordagem global. "Também estamos testemunhando um novo fenômeno ligado ao setor de mineração e metais críticos", adverte.