30 Mai 2025
As vítimas foram encontradas mortas com sinais de hipotermia em dois pontos diferentes da Voluntários da Pátria
A reportagem é de Lucas Azeredo, publicada por Sul21, 29-05-2025.
Duas pessoas em situação de rua morreram nesta quinta-feira (29) após a madrugada de frio intenso em Porto Alegre. As duas vítimas, identificadas como André e “Mano”, estavam na rua Voluntários da Pátria e foram encontrados sem vida. Além deles, uma outra pessoa, também em situação de rua, foi encontrada morta no bairro Ouro Verde, em Bento Gonçalves.
As informações das vítimas em Porto Alegre foram coletadas pela equipe do vereador Pedro Ruas (PSOL). Ruas também é presidente da CPI da Pousada Garoa, cujo incêndio, sob investigação, culminou na morte de 11 pessoas socialmente vulneráveis. “Essa noite foi uma tragédia”, diz o vereador. Para Ruas, os casos são “demonstração clara de como essa população foi abandonada à própria sorte e miséria pelos governos municipal, estadual e federal”.
André, a primeira vítima, estava na Voluntários esquina com a rua Coronel Vicente. O corpo foi levado ao Departamento Médico-Legal (DML) do Instituto Geral de Perícias, que constatou que a causa do falecimento foi broncopneumonia, agudizada por hipotermia.
O outro homem, conhecido como Mano, foi encontrado na Voluntários com a rua Paraíba. As duas vítimas estavam a cerca de 3,5 km de distância uma da outra. O corpo de Mano estava encharcado, assim como seu colchão, e a causa de sua morte foi hipotermia.
As informações chegaram ao gabinete do vereador Pedro Ruas pela Pastoral do Povo da Rua, movimento que atende a população em situação de rua. Na terça-feira (27), a Pastoral afirma ter testemunhado a retirada de pessoas e seus pertences de baixo do Viaduto da Conceição por agentes da Prefeitura, a metros de onde André morreu. “Essas mortes aconteceram justamente depois da ordem de retirada desses pertences, de colchões e cobertores”, diz Renato Farias dos Santos, membro da coordenação da Pastoral.
Em nota, a Pastoral lastima as mortes e diz que “discorda totalmente” das ações de remoção e retirada de colchões, cobertores e outros bens. Ainda, afirma que a medida é “perversa, pois deixa a população em situação de rua sem proteção no pior período do ano, quando o frio é mais intenso”.
“Nós entendemos que é importante a criação de vagas de acolhimento (casas de passagem e outros acolhimentos emergenciais), como está sendo feito com o Ginásio do DEMHAB, mas ressaltamos que é ainda insuficiente, pois quem vive numa região, quem ali recicla, cuida carros, tem suas fontes de renda, não vai atravessar a cidade pra ter um lugar pra dormir”, conclui a nota.
Os registros do Cadastro Único de março de 2025 apontam que Porto Alegre tem 5.546 pessoas em situação de rua.
Porto Alegre registrou temperatura mínima de 8°C acompanhada de chuva nesta quinta, segundo o MetSul. A previsão é que o frio intenso continue até o domingo na Capital. “Não é possível aceitar isso, que isso continue. Vamos ter outras madrugadas frias. Essa foi a primeira e morreram duas pessoas”, diz Ruas. “Os governos (estadual e federal) falharam, mas a área social é da Prefeitura e ela é a maior culpada”, conclui.
Procurada pelo Sul21, a Fundação de Assistência Social e Cidadania (Fasc) da Prefeitura de Porto Alegre não respondeu as tentativas de contato até a veiculação da reportagem.