27 Mai 2025
"Após o 7 de outubro e o sequestro de centenas de civis, a única resposta que conseguiram dar ao seu próprio povo foi infligir sofrimento a outro. Esse governo não me representa, nem fala em nome do povo judeu, que em grande parte, tanto em Israel quanto na diáspora, pede o fim dessa loucura", escreve Ariel Bernstein, ex-soldado das Forças de Defesa de Israel, em artigo publicado por la Repubblica, 25-06-2025. A tradução é Luisa Rabolini.
Meu nome é Ariel Bernstein. Sou cidadão judeu israelense e ex-soldado das Forças de Defesa de Israel (IDF). Este é um apelo aos líderes italianos e europeus para que ajam com urgência.
Em 2014, servi como soldado na guerra em Gaza. Eu estava na área de Al-Burrah, em Beit Hanoun, apoiando as unidades de engenharia envolvidas no desmantelamento dos túneis do Hamas. A imensa destruição que deixamos para trás e o que vi me mudaram para sempre, mas o que estamos assistindo hoje na Faixa de Gaza ultrapassa qualquer limite imaginável.
Atualmente moro em Bolonha e amo a Itália. Mas todas as manhãs acordo com um peso insuportável: a dor pela minha pátria, pelos prisioneiros, pelo povo de Gaza. E uma vergonha que me consome pelos crimes cometidos em meu nome.
Para o historiador Carlo Ginzburg, o lugar que você ama é aquele do qual você sente vergonha. A vergonha, diz ele, pode ser um laço mais forte que o amor. Só agora entendo o que significa. Sinto-me profundamente envergonhado pelo que meu país se tornou. Em Gaza não há uma guerra, mas a destruição metódica de um povo inteiro. A Itália e a Europa têm o poder e o dever moral de impedir que continue.
Em sua última coletiva de imprensa, o primeiro-ministro Netanyahu disse o que muitos em Israel temiam: o objetivo não é apenas a "vitória total" sobre o Hamas, mas a deportação dos palestinos de Gaza. "O plano Trump" é apenas o eufemismo que ele usa para esconder uma limpeza étnica. Estamos assistindo, em tempo real, à violação das normas mais básicas da decência humana, em uma escala que eu jamais poderia ter imaginado. Nossos militares mataram 50 mil pessoas, a maioria civis, incluindo mais de 15 mil crianças, três mil desde que o cessar-fogo foi violado. A fome tem sido usada como arma. Essa é uma política de destruição e agora os ministros nem têm medo de dizê-lo.
Após o 7 de outubro e o sequestro de centenas de civis, a única resposta que conseguiram dar ao seu próprio povo foi infligir sofrimento a outro. Esse governo não me representa, nem fala em nome do povo judeu, que em grande parte, tanto em Israel quanto na diáspora, pede o fim dessa loucura.
Netanyahu afirma agir em nosso nome, mas essas políticas perversas estão apenas colocando em perigo os judeus em todo o mundo. Na Itália e na Europa, as comunidades judaicas estão pagando o preço de uma campanha irracional realizada em seu nome, mas sem o seu consentimento. Israel afirma ser seu escudo, mas suas ações os estão tornando alvos. E a comunidade internacional não compreende a urgência da questão. No Conselho UE-Israel, em fevereiro, os 27 Estados-membros expressaram preocupação, solicitaram acesso humanitário e reafirmaram a natureza vinculativa dos mandatos do TPI. No campo, nada mudou. Pelo contrário, poucos dias depois, Israel interrompeu completamente a entrada de ajudas.
Peço à Itália e à Europa que se posicionem. Vocês têm o poder de pôr fim a essa loucura, a oportunidade de desempenhar um papel crucial e as alavancas de pressão em suas mãos. Usem-nas. Suspendam os acordos comerciais e bilaterais, façam tudo o que for necessário para obter um cessar-fogo e a libertação dos reféns. Cada momento de atraso equivale a mais vidas perdidas, mais famílias e futuros destruídos. Como israelense e judeu que se preocupa com o futuro do nosso povo, peço que ajam antes que seja tarde demais. A história se lembrará daqueles que falaram e daqueles que permaneceram em silêncio.