26 Mai 2025
Além da mobilização resultante da visceralidade estética de seu olhar, o artista criou um instituto que plantou mais de 3 milhões de árvores na bacia do rio Doce.
A informação é publicada por ClimaInfo, 25-05-2025.
Por mais de 50 anos, o olhar do fotógrafo brasileiro Sebastião Salgado esteve voltado para a natureza, as gentes, as mazelas e os encantamentos de territórios diversos ao redor do mundo. Essa dedicação, transformada em uma grafia imagética única, notadamente em preto e branco, tinha como artefato as perspectivas de um homem que, nascido na pequena cidade de Aimorés, no interior de Minas Gerais, escolheu sensibilizar com a captura visceral das luzes e sombras dos temas que escolhia – principalmente o meio ambiente, as migrações e as condições laborais em terras distintas.
Salgado faleceu na última 6ª feira (23/5) deixando um legado de imagens impactantes e mobilizadoras. Para além de seu ofício, por conta do envolvimento intenso com as localidades, pessoas e demais seres que estiveram diante de seus olhos, ele fez questão de colocar-se também como um defensor de territórios e populações marginalizadas.
Como lembrou O Globo, Salgado foi o primeiro e único fotógrafo autorizado a registrar a vida nas aldeias Korubo de contato recente na região do Vale do Javari (AM), mostrando-se incrédulo com o drama vivido pela etnia diante do completo descaso do governo Bolsonaro na contaminação massiva dos indígenas por COVID-19, em 2022.
“A Funai acabou. Ela foi responsável por aquela contaminação. Se houve mortes, é preciso imputar à política da Funai de então. Eles sabiam que se tratava de um grupo de contato extremamente recente”, protestou publicamente o fotógrafo à época.
Seu empenho, porém, foi além da captação de imagens que denunciavam as atrocidades de regiões em conflito em países que Ruanda e Zâmbia, ou das profundas reflexões estéticas propostas por suas revelações acerca das populações indígenas brasileiras – ou da fauna de que se aproximada, sempre, com respeito, em busca do que chamava da “dignidade de cada espécie”.
Com sua esposa, Lélia Wanick Salgado, o fotógrafo criou o Instituto Terra e iniciou em 1998 um grande projeto de reflorestamento em uma fazenda em sua cidade natal, recuperando mais de 2,1 mil hectares e atraindo dezenas de espécies animais que haviam desaparecido. A ideia partiu de Lélia, já que a propriedade no Vale do rio Doce, herdada por Salgado, estava em estado de desolação antes da intervenção do casal.
Como destacou o Estadão, foram mais de 3 milhões de árvores plantadas na área de Mata Atlântica. “Em mais de 27 anos, nos tornamos uma ONG de referência mundial em restauração ecossistêmica, educação ambiental e desenvolvimento rural sustentável”, afirma o instituto. “Estamos promovendo a recuperação ambiental, melhorando a qualidade de vida das comunidades e impulsionando a transformação social na bacia do Rio Doce”.
Um legado que, apesar da partida dos olhos de Sebastião Salgado, seguirá sendo cultivado.
BBC Brasil, National Geographic, O Globo, ((o)) eco, g1, Brasil de Fato, Correio Braziliense, entre outros, noticiaram a partida e o legado ambiental do fotógrafo Sebastião Salgado.