26 Mai 2025
"Antes o imperialismo não enganava, mas se continha em alguma medida. Agora, ele sai da tensão irresolvida com princípios democráticos e solta as rédeas do salve-se quem puder."
O comentário é de Eduardo Guerreiro B. Losso, publicado em sua página do Facebook 25-05-2025.
Evito falar sobre Gaza porque acho uma conversa muito dura e difícil.
O antissemitismo é um bicho de sete cabeças. Um monstro imenso, às vezes bem visível e muitas vezes invisível.
Mas serei conciso.
Estamos num momento de evidente retrocesso ao fascismo com Trump. Era para a Europa fazer alguma diferença. Em alguns aspectos faz bem, em outros faz mal, em outros é uma grande vergonha. É especialmente o caso de Gaza.
A atrocidade de Gaza é a prova, sim, de que a Europa nunca saiu de uma mentalidade colonizadora demasiadamente burguesa, capitalista, imperialista, mesmo sem ser mais o centro imperialista.
Quanto a Israel, Netanyahu é muito semelhante a Trump. Trump está destruindo décadas de estabilidade e confiabilidade democrática, alianças que pareciam sólidas se tornaram, da noite para o dia, história.
Já Netanyahu está destruindo décadas de um trabalho longo e consistente de combate ao antissemitismo, dando farta munição para ele.
Segundo críticos de esquerda de longa data dos EUA, Europa e Israel, tudo pode ser visto como confirmação de um imperialismo antes mal disfarçado e hoje escancarado.
Por um lado eles têm razão. Por outro, ignoram as nuances e as tensões das democracias dos países desenvolvidos. E o que estão apontando agora é o quanto a instrumentalização moral de Israel, com sistemáticas acusações de antissemitismo a todos os seus críticos, foi, definitivamente, evidenciada, por mais maquiagens que a mídia ainda ensaie fazer.
Mas seu maior ponto cego é que a explicitação obscena dessa instrumentalização está aumentando, de fato, o ódio aos judeus.
O caos se instalou: Israel massacra um povo sem pudor; Europa e EUA, com democratas ou republicanos, apoiaram Israel sem pudor, nos últimos dias Europa e Canadá pressionam ajuda humanitária, o que é uma reação mínima; a crítica à Israel nunca se tornou tão necessária e, ao mesmo tempo, o ódio aos judeus voltou a encontrar campo livre de atuação, sem pudor, depois de tanto tempo de contenção cuidadosa.
Para não concluir: continuo achando que um imperialismo escancarado é muito pior que um imperialismo disfarçado e envergonhado. A diferença não é só de tom e gesto, é de mortes e fome, de direitos e de segurança.
Antes o imperialismo não enganava, mas se continha em alguma medida. Agora, ele sai da tensão irresolvida com princípios democráticos e solta as rédeas do salve-se quem puder.
A cereja no bolo é uma pesquisa de opinião divulgada dizendo que a maioria da população israelense apoia Netanyahu. Considero tanto os pressupostos da pesquisa duvidosos (perguntas enviesadas) quanto irresponsável a divulgação internacional dela. Outras pesquisas apontam dados divergentes, por exemplo, "68% da população de Israel quer o fim da guerra".
Você gostou quando, sob o governo Bolsonaro, o mundo associava o brasileiro ao fascismo? Não, né. Pois é. Uma pesquisa como essa reduz um enorme conflito político social a um carimbo simplista num país inteiro.