23 Mai 2025
"Mesmo os estudantes estrangeiros já presentes terão que encontrar uma nova colocação porque o campus não é seguro", escreve Michele Serra, jornalista, escritor e roteirista italiano, em artigo publicado por La Repubblica, 23-05-2025.
Não é falso, como pode parecer pela sua forma e substância. Esta é a realidade dramática da América de Trump: a Secretária de Estado para Segurança, Kristi Noem (aquela que atirou em seu cachorro porque ele era "ineficiente", aquela que posa na frente de migrantes amontoados como galinhas em uma gaiola) confirmou que a Universidade Harvard não poderá mais receber estudantes estrangeiros — nem mesmo os atualmente matriculados — porque é "um campus inseguro". Os estudantes não americanos que já estudam em Harvard (quase seis mil) terão que encontrar “uma nova colocação” ou serão expulsos. Por quê? Para “erradicar o mal do antiamericanismo”. Uma notícia como essa fala por si.
É uma espécie de resumo perfeito da teoria e prática macartista, portanto nacionalista e alofóbica num sentido paranoico, no poder na América hoje. Mas vale lembrar que o senador McCarthy era apenas o presidente de uma comissão parlamentar. Trump é o presidente dos Estados Unidos e Noem é uma de suas principais ministras. O ato político é “purgar” uma das universidades mais prestigiadas do mundo, depois de já ter cortado o seu financiamento. Como nada no mundo é mais cosmopolita e mais transnacional do que o mundo das universidades e da pesquisa, o veto aos estudantes estrangeiros é o ato mais violento que o governo Trump poderia adotar contra Harvard, ou seja, contra uma das maiores instituições americanas.
É muito cedo para saber as reações nos Estados Unidos, mas é improvável que esse ato de violência cultural e política fique sem consequências. A notícia está no topo dos grandes sites no Ocidente. Esperemos que continue assim por muito tempo.