22 Mai 2025
Documento divulgado na quinta-feira, que mostra queda no desmatamento, acaba por ocultar a real situação do bioma típico do RS.
A reportagem é de Lucas Azeredo, publicada por Sul21, 18-05-2025.
Na quinta-feira (15), o Relatório Anual do Desmatamento no Brasil do MapBiomas, uma rede colaborativa que estuda temas relacionados ao território e ao ecossistema do país, trouxe uma notícia positiva sobre a análise de 2024: pela primeira vez em seis anos, o desmatamento caiu em todos os biomas brasileiros. Porém, no Rio Grande do Sul, não se pode cantar vitória.
“O sistema que a gente usa está calibrado para floresta e o Pampa é de campo. A gente omite a principal remoção de mata, que é a mata campestre”, relata Eduardo Vélez, pesquisador do MapBiomas. O Pampa recobre cerca de 69% do território riograndense. Estima-se, conforme dados do MapBiomas, que o bioma perdeu 147 mil hectares de campos nativos por ano entre 2012 e 2021.
A medição não é tão simples de ser feita. “Com floresta, é fácil de ver a remoção. Fica um buraco. Com o campo, é mais difícil”, comenta Vélez. Ele diz que, pela falta de confirmação, não é possível colocar esses dados no Relatório Anual de Desmatamento pelas consequências importantes que os números trazem, como perda de créditos rurais, multas e outras punições para os donos das terras. Ainda há outro problema: como comunicar os termos técnicos do que ocorre no Pampa.
“A confusão terminológica também tem culpa do Ministério do Meio Ambiente, que coloca destruição de vegetação nativa como desmatamento”, afirma Valério Pillar, professor do Instituto de Biociências da UFRGS e coordenador do grupo de pesquisas Rede Campos Sulinos. Segundo o professor, o termo “desmatamento” implica o desaparecimento de florestas, também chamada de vegetação lenhosa. “O problema do Pampa não é desmatamento, é a destruição da vegetação campestre nativa. Infelizmente, a divulgação é feita como se estivesse em queda”, diz Pillar.
O estudo anual do MapBiomas é feito a partir de uma série de sistemas baseados em imagens de satélite, compiladas e analisadas uma a uma para identificar indícios de desmatamento. Um dos fatores responsáveis pela destruição do maior bioma do Rio Grande do Sul é a questão agrícola. “O Pampa está sofrendo uma pressão muito grande com a expansão da soja”, diz Eduardo Vélez. Valério concorda, mas reitera que a soja “não desmata, mas destrói a vegetação nativa”. Hoje, só resta 43,5% da vegetação nativa do Pampa.
Os outros 31% do território riograndense são ocupados por um bioma que foi fortemente testado em maio de 2024: a Mata Atlântica. “Sem a Mata Atlântica, o desastre seria muito maior”, comenta o professor da UFRGS sobre as enchentes de um ano atrás. O desmatamento do bioma manteve-se estável em todo o país, apesar das cheias. O MapBiomas avalia que a Mata Atlântica apresentaria queda de 20% na destruição da vegetação sem a crise climática do ano passado.
Por conta das chuvas e da força das águas dos rios, o mato foi arrancado e levado junto. “O problema foi a falta de cobertura em encostas de rios. Por isso a água ficou daquela cor”, diz Valério Pillar. Ainda sim, o Brasil registrou queda de 30% no desmatamento, com 1,2 milhão de hectares de vegetação nativa desmatados em todo o país no ano passado contra 1,8 milhão em 2023.